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Cabral…de novo?

ODS 16 • Publicada em 10 de março de 2023 - 10:24 • Atualizada em 10 de março de 2023 - 14:57

É inconteste o fato da História – essa com H maiúsculo – ser cíclica, de maneira peculiar no Brasil, mas, sobretudo, no Rio de Janeiro. É só voltar duas casas atrás – não custa muito – e você perceberá a sina de idas e vindas que nos fazem chegar onde estamos. Ou será só uma egotrip de quem já foi a cereja do bolo e vive das lembranças? A síndrome de capital sempre será um corte para entender o quê aconteceu e também o que não rolou por aqui.

Entre amores e dores, consta no DNA do carioca (e também do fluminense), além do apreço a cerveja gelada, chope com dois dedos de espuma, praia, Samba do Trabalhador, metrô, Supervia, batuque e reza, além da desigualdade, o gosto pela repetição política. Talvez pelo conhecimento e a impossibilidade do novo, temendo que aconteça algo que nos mude a rota? Assim, descartar todas as possibilidades e investir no “Vale a Pena Ver de Novo” que, aparentemente, dá liga. Não coincidentemente, tem partido desta terra figuras “criadas à pedigree” por nós mesmo. Ou esqueceram que uma certa família recém-saída de Brasília começou por… aqui? E não só ela.

Leu essa? Rio não é o único estado a colecionar governadores presos

Do início ao fim, a predileção eleitoral por quem já fez muito, ou quase isso, só que por muito tempo, garante a nós um “ar de confiança”, princípio básico para qualquer relação. Mesmo que você desconfie dela em todos os momentos.

Sergio Cabral nos tempos de cadeia em Curitiba: ex-governador retorna à cena política (Foto: Jason Silva / AGIF / AFP - 19/01/2018)
Sergio Cabral nos tempos de cadeia em Curitiba: ex-governador retorna à cena política (Foto: Jason Silva / AGIF / AFP – 19/01/2018)

Nos últimos dias, um valoroso personagem voltou à cena. “Livre” após anos preso, o ex-governador Sérgio Cabral concedeu sua primeira entrevista aos jornalistas Guilherme Amado, Bruna Lima, Edoardo Ghiroto e Eduardo Barreto, no site Metrópoles. Em pouco mais de 40 minutos, Sérgio Cabral – que figurava como um dos maiores líderes políticos do país com dois mandatos como chefe do Executivo de um estado que ia decolar, mas faltou gasolina – disparou para todos os lados.

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Chorou. Riu. Pediu desculpas a ministros do Supremo Tribunal Federal. Desconsiderou um dos crimes que cometeu, sob análise ética e lógica matemática. Fez acenos a quem esteve com ele durante sua gestão, limpou a barra de quem precisava e mais: trouxe à baila onde e o quê gostaria de fazer agora, em seu retorno às esferas públicas.

Nada poderia ter mostrado melhor a sua condição de estratégia e marketing, o que sabe fazer e faz bem. Na sequência, criou uma conta no Instagram, onde em seu segundo vídeo de até o momento cinco posts, conta que seu momento de relaxamento na cadeia, na companhia de livros. Mas não qualquer seleção deles. São autores pretos, símbolos das maiores vendagens do mundo literário da atualidade: Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro, Itamar Vieira Junior, Jeferson Tenório e Carolina Maria de Jesus.

Há quem tenha sentido falta de um sexto nome: o do pensador Achille Mbembe, que cunhou o conceito de necropolitica. Mas será que Sérgio indicaria algo que fala de sua própria trajetória enquanto chefe de estado e a política fracassada de segurança do seu período, que penalizou por tantas vezes as favelas com o projeto das UPPs? Acho que essa reflexão pediria mais tempo de prisão, digo, leitura.

Na última semana, não me faltaram vezes em que o nome “Cabral” apareceu na timeline ou em grupos, dividindo opiniões. Há quem acredite que não deveria nem mais estar aqui. Outros, sinalizam de que ele foi nosso “melhor governador”.

Resta saber se o nosso vício em repetir a História o trará de volta ao palanque.

Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

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