ODS 1
A luta por um ingresso honesto
A difícil escolha entre procurar um cambista e perder o show do Pearl Jam
Não podia deixar Eddie no vácuo. Eu que me virasse para conseguir ingresso. Parti para o Maracanã com duas certezas: eu veria o show e não compraria com cambista. A inocente acreditou na informação do “Posso ajudar” e deu duas voltas olímpicas no firme propósito de se manter na legalidade. Não adiantou bater perna. A compra na bilheteria deu ruim. E agora? Qual seria o crime mais hediondo? Cambista ou perder o show do Pearl Jam?
Putz, eu adoro a banda…O primeiro cambista era uma mala e dispensei. O segundo era educado e soube lidar com o meu desconforto, com meus princípios. Enquanto caminhávamos até onde brotariam ingressos do nada trocamos uma ideia sobre o mercado paralelo de acesso ao entretenimento. Soube que era Papa Mike (ele mesmo usou o alfabeto fonético) e que precisava reforçar o orçamento com aquele quebra-galho.
O filho, que aprendia os segredos do ofício, era das Forças Armadas. O pai ainda contou que estavam, os dois, estudando para fazer concurso público em outras áreas. Expliquei que não queria meia-entrada, pois eu não tinha direito ao benefício. Ingresso de cambista e ainda de meia-entrada seria demais para mim.
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Veja o que já enviamosO rapaz tentou me convencer que não ia dar sujeira na roleta
[/g1_quote]O rapaz tentou me convencer que não ia dar sujeira na roleta. Disse para novinho de aparelho nos dentes que o problema não era a roleta, mas a minha consciência. Com os olhos arregalados ele me disse que não havia conhecido alguém que pensasse como eu. Me senti mal por ele. Em que mundo ele vivia?
Já estava com o estômago embrulhado só de pensar em concluir o negócio quando entrou no meu campo de visão um casal muito bonitinho, com olhar comprido, de quem precisava de algo. Perguntei se queriam comprar ingresso e me disseram que queriam vender. Fechamos negócio. Todos felizes, era hora das apresentações. Opa, encontrei mais uma prima! A mineira Karolayne Karina e o manauara Igor me contaram que o ingresso que herdei era de um cunhado, membro do fã clube, que se recuperava de uma cirurgia e estava arrasado por não ir ao show.
Prometi que honraria o ingresso em nome do sacrifício do cunhado convalescente. Era hora de dar umas braçadas até chegar na frente do palco. Houve quem duvidasse, mas para quem fotografou carnaval de rua no Rio não pareceu impossível. Aproveito a oportunidade para agradecer a você que abriu caminho e me ajudou a avançar. A você que com cara feia me dizia “não dá” eu agora digo “deu”. E ainda: Tábata foi fofa e me deu água, cantei Last Kiss junto com a Marina, vi o Jorge chorar, abracei os que não consegui entender o nome durante “Imagine”, vi a pequenina Ingrid se fazer grande nos ombros de um abençoado. E eu estava lá na frente quando Eddie olhou pra mim. E eu estava com o ingresso limpo. Moral da história: os honestos serão recompensados. No caminho de volta para a casa da vez, meu olhar foi atraído para o nome no crachá do funcionário do metrô que se esforçava para ajudar a multidão de grunges: era Keitson, meu primo.
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Marizilda Cruppe tentou ser engenheira, piloto de avião e se encontrou mesmo no fotojornalismo. Trabalhou no Jornal O Globo um bom tempo até se tornar fotógrafa independente. Gosta de contar histórias sobre direitos humanos, gênero, desigualdade social, saúde e meio-ambiente. Fotografa para organizações humanitárias e ambientais. Em 2016 deu a partida na criação da YVY Mulheres da Imagem, uma iniciativa que envolve mulheres de todas as regiões do Brasil. Era nômade desde 2015 e agora faz quarentena no oeste do Pará e respeita o distanciamento social.
Boa Noite
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Beijos
Mariana BrasilTuris bj.inf.br/netshoes-desconto