ODS 1
Monitoramento de esgoto mostra tendência de alta da covid-19 em BH
Projeto coordenado por pesquisadores da UFMG estima 10 vezes mais infectados na capital do que apontam as estatísticas oficiais
Itamar Rigueira Jr*
Os índices de infecção pelo novo coronavírus em Belo Horizonte e Contagem têm crescido, o que sugere tendência de alta também nas próximas semanas, segundo projeto de monitoramento indireto, por amostras de esgoto, realizado por pesquisadores da UFMG. As análises em laboratório relativas à oitava semana de trabalho (1 a 5 de junho) detectaram o vírus em 100% das amostras coletadas no sistema de esgotamento sanitário da bacia do Onça (na quinta e sexta semana, foram 80%). No caso do sistema de esgotamento do Arrudas, a presença do novo coronavírus foi constatada em 86% das amostras, contra 71% na sétima semana.
As informações estão no quinto boletim de acompanhamento do projeto-piloto Monitoramento Covid Esgotos. A iniciativa é da Agência Nacional de Águas (ANA) e do INCT Estações de Tratamento de Esgoto Sustentáveis (ETES Sustentáveis), sediado e coordenado na UFMG, em parceria com o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), da Copasa, empresa de saneamento do estado, e da Secretaria de Saúde de Minas. A capital mineira registrava, até o dia 17/06, 3548 casos de covid-19 e 82 mortes; o vizinho município de Contagem tinha 551 casos confirmados da doença e 24 óbitos. O número de infectados em Minas Gerais dobrou em duas semanas.
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Veja o que já enviamosCom base na contagem da carga viral encontrada nas amostras de esgoto, é possível estimar, segundo os pesquisadores da UFMG, que cerca de 0,6% da população que contribui para os sistemas de esgotamento sanitário do Arrudas e do Onça (23 mil pessoas) teve contato com o coronavírus. A Prefeitura de BH contabilizava cerca de 2.100 casos confirmados da Covid-19, no dia 5 de junho. Considerando que a parcela da população de Contagem que contribui para esses sistemas quase equivale à parcela da população de BH que que não está incluída, é possível dizer que a pesquisa indica a existência de pelo menos dez vezes mais infectados na capital do que dão conta os números oficiais.
[g1_quote author_name=”Juliana Calabria” author_description=”Pesquisadora da UFMG” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]O mapeamento epidemiológico indireto que estamos fazendo revela a real prevalência da doença, uma vez que o material encontrado no esgoto abrange todas as pessoas, sem distinção, enquanto os testes clínicos, em geral, são limitados a quem tem sintomas, mais ou menos graves
[/g1_quote]Na bacia do Onça, os percentuais de detecção foram elevados (acima de 64%) desde a primeira semana, e o vírus foi encontrado em todas as oito sub-bacias de esgotamento sanitário monitoradas, as quais são representativas dos diferentes bairros localizados nessa região. Na bacia do Arrudas, nesta oitava semana, apenas a amostra coletada na região que inclui bairros como Jardim Montanhês, Santo André e Bonfim foi negativa para a presença do vírus.
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Em três regiões da bacia do Onça, os pesquisadores do INCT ETEs Sustentáveis encontraram os percentuais mais altos – entre 3% e 7% – de população infectada. Trata-se de área com índices também mais elevados de vulnerabilidade social – lá estão localizadas regiões e bairros como Venda Nova, Jaqueline, Vila Clóris e Dom Silvério. A consolidação de achados sobre a incidência do vírus entre sub-regiões de BH e Contagem leva em conta o cruzamento de dados laboratoriais com informações de natureza sociodemográfica.
Dados sem distinção
A professora Juliana Calábria salienta que, além de mostrar dados sobre ocorrência e circulação do vírus, o projeto informa pela primeira vez, no boletim que marca dois meses de estudos, estimativas de número de pessoas infectadas. “O mapeamento epidemiológico indireto que estamos fazendo revela a real prevalência da doença, uma vez que o material encontrado no esgoto abrange todas as pessoas, sem distinção, enquanto os testes clínicos, em geral, são limitados a quem tem sintomas, mais ou menos graves”, afirma a coordenadora, acrescentando que o projeto Monitoramento Covid Esgotos é o primeiro do gênero no país a apresentar resultados sobre estimativas de índices de infecção.
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A diretora-presidente da Agência Nacional de Águas, Christianne Dias, ressalta que a testagem em massa da população é uma realidade ainda distante no Brasil, o que torna o projeto-piloto na região metropolitana da capital mineira especialmente importante. “Essa iniciativa possibilita monitorar indiretamente o vírus, dando novas ferramentas aos gestores para a tomada de decisões”, afirma.
Durante pelo menos seis meses, a equipe de pesquisadores realizará coletas ao longo das bacias do Ribeirão Arrudas e Ribeirão do Onça. Nessas regiões, a coleta é realizada em pontos estratégicos para que seja medida a incidência do vírus no esgoto em localidades com populações de alta e baixa rendas. Também são coletadas amostras em interceptores de esgoto situados nas proximidades dos hospitais de referência para o tratamento da Covid-19, como o Hospital das Clínicas da UFMG.
Em seguida, as amostras são analisadas em laboratório para identificação de presença de vírus. A partir da análise, são criados mapas que mostrarão em quais partes da cidade a ocorrência da doença é maior. O estudo pretende realizar, também, um acompanhamento da situação até o fim do ano, para que haja um monitoramento do avanço ou regressão da doença.
*UFMG Cedecom
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”none” size=”s” style=”solid” template=”01″]A série #100diasdebalbúrdiafederal terminou, mas o #Colabora vai continuar publicando reportagens para deixar sempre bem claro que pesquisa não é balbúrdia.
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