SUV: desastre ambiental sobre quatro rodas

Com sucesso de vendas, veículos esportivos utilitários se tornam o segundo maior contribuidor para o aumento de emissões de CO² no mundo

Por José Eduardo Mendonça | ODS 12 • Publicada em 3 de fevereiro de 2020 - 10:13 • Atualizada em 12 de março de 2020 - 10:50

SUV, veículos esportivos utilitários, são alvo de protesto de ambientalistas na Alemanha: aumento recorde de emissões (Bodo Marks/DPA/AFP)

Os automóveis SUV (sport utility vehicles, veículos esportivos utilitários) são possantes, confortáveis, vistosos, e um claro sinal de status. Sâo, também, um desastre ambiental. A crescente demanda os tornou o segundo maior contribuidor para o aumento de emissões de CO2 de 2010 a 2018, de acordo com relatório da Agência Internacional de Energia.

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Neste período, mais que dobraram sua participação de mercado, de 17% a 39%. E suas emissões anuais chegaram a mais de 700 megatoneladas de CO2, mais do que as emissões do Reino Unido e da Holada combinadas. Nenhum setor, exceto o de energia, teve amento maior, colocando os SUVs à frente da indústria pesada (incluindo ferro, aço, cimento e alumínio), aviação e navegação.

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Estamos em meio da uma crise do clima, e a indústria automobilística não entende. Celebram veículos que bebem muita gasolina, em vez de procurarem um modo de nos livramos dos motores a combustão

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A análise, que surpreendeu até mesmo seus autores, mostra que em 2010 um em cada cinco veículos vendidos foram SUVs – hoje são dois em cinco. Como resultado, atualmente há mais de 200 milhões deles no mundo, comparados a cerca de 35 milhões em 2010. Respondem por 60% do aumento da frota mundial desde 2010.

A agência calculou que um SUV consome mais de 25% mais energia do que outros modelos com o mesmo motor. Isso quer dizer que seu desempenho eliminou avanços conquistados de eficiência de combustível desde 2010. As melhorias em design de motores e aerodinâmica economizaram cerca de 2 milhões de barris de petróleo por dia no mesmo período.

De acordo com o grupo Transport & Environment, o volume de novos carros cresceu 10% entre 2000 e 2016, e isso pode ser atribuído aos SUVs. O mercado global de automóveis anda estacionário em anos recentes, e analistas sugerem que isso se deve ao desempenho fraco da economia chinesa. Mas o segmento de SUVs não obedeceu a esta tendência, com um recorde de 35 milhões de unidades vendidas em 2018.

Cartaz colado em vidro de SUV durante protesto contra crise climática na Alemanha: veículo utilitário é apontado como vilão do clima (Foto: Oliver Berg/DPA/AFP)
Cartaz colado em vidro de SUV durante protesto contra crise climática na Alemanha: veículo utilitário é apontado como vilão do clima (Foto: Oliver Berg/DPA/AFP)

No Brasil, foram vendidas 270 mil unidades apenas no primeiro semestre de 2019. Hoje eles detém um quarto do mercado automotivo. Mas a popularidade destes veículos tem gerado debates em países como a Alemanha, onde seus oponentes dizem que eles são uma afronta a valores nacionais de praticidade e consciência ambiental. Modelos de luxo têm sido um alvo favoritos de movimentos que queimaram mais de 300 SUVs estacionados este ano em Berlim.

“Simplesmente não há necessidade de termos carros construídos como tanques nas ruas da cidade”, diz Stephan von Dassel, prefeito do distrito de Mitte, na cidade de Berlin. “Não estão apenas destruindo o clima. São também intimidadores, ainda que não estejam envolvidos em acidentes”, afirmou Dassel. “Estamos em meio da uma crise do clima, e a indústria automobilística não entende. Celebram veículos que bebem muita gasolina, em vez de procurarem um modo de nos livramos dos motores a combustão”, acrescentou.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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