UFPR cria solução que transforma amianto em fertilizante para o solo

Uso do material foi banido no Brasil desde 2017 pela sua toxicidade; descarte ainda é desafio para indústria

Por Vanessa Fajardo | ODS 4 • Publicada em 5 de agosto de 2019 - 14:17 • Atualizada em 5 de agosto de 2019 - 18:37

Pela solução desenvolvida pela UFPR, telhas de fibra de cimento com amianto entram em processo de moagem industrial permitindo que os componentes nocivos sejam destruídos (Foto: UFPR/Divulgação)
Pela solução desenvolvida pela UFPR, telhas de fibra de cimento com amianto entram em processo de moagem industrial permitindo que os componentes nocivos sejam destruídos (Foto: UFPR/Divulgação)

Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desenvolveram uma forma de transformar amianto, considerado um resíduo perigoso, em fertilizante para o solo. Desde 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) baniu o uso do amianto por conta da toxicidade do mineral. Entretanto,o item ainda é bastante encontrado no país. Por décadas, o Brasil se manteve como grande produtor, consumidor e exportador de produtos de amianto — em 2015, produziu 270 mil toneladas e consumiu 163 mil toneladas, de acordo com a International Ban Asbestos Secretariat (IBAS).

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Roger Borges, químico responsável pelo estudo, explica que o principal problema do amianto é um componente chamado “abestos.” “Ele está relacionado às doenças respiratórias e quando inalado pode se alojar no pulmão. O perigo principal é para os trabalhadores que manipulam diretamente esse material e lidam com a poeira que ele produz”, diz.

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Pela solução desenvolvida pela UFPR, as telhas de fibra de cimento que contêm amianto entram em um processo de moagem industrial permitindo que os componentes nocivos sejam destruídos. Depois de tratado, o material resultado desse processo pode ser usado como corretivo do PH do solo. “Ele perde a toxicidade e pode ser usado para corrigir o solo ácido: também tem elementos na composição como magnésio, ferro e silício, nutrientes que as plantas podem precisar.”

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Ainda há toneladas de materiais com amianto que precisam ser descartados de maneira apropriada. O mundo inteiro produziu amianto que acabou sendo estocado em reservatórios

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De acordo com o químico, o potencial do moinho utilizado para a detonação das telhas define a duração do processo. “Se for um moinho mais industrial são necessários 16 minutos, com um moinho em escala de laboratório o tempo pode chegar a 12 horas. A velocidade é controlada a partir do moinho”, explica o químico. Outra vantagem da metodologia é que ela não utiliza solventes como água ou ácidos, que são poluentes e podem provocar resíduos.

Solução é inédita no Brasil

A solução desenvolvida pela universidade após um ano e meio de pesquisa é inédita no Brasil. Até por isso a instituição já iniciou o processo de pedido de patente da metodologia no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). Segundo Borges, mundialmente o tema é pouco explorado pelo fato de o amianto estar sendo banido. “Acontece que ainda há toneladas de materiais com amianto que precisam ser descartados de maneira apropriada. O mundo inteiro produziu amianto que acabou sendo estocado em reservatórios.”

O químico Roger Borges e sua equipe de pesquisadores: descoberta que, ao perder toxicidade, amianto pode ser usado para corrigir solos ácidos por ter elementos como magnésio, ferro e silício (Foto: Divulgação/UFPR).
O químico Roger Borges e sua equipe de pesquisadores: descoberta que, ao perder toxicidade, amianto pode ser usado para corrigir solos ácidos por ter elementos como magnésio, ferro e silício (Foto: Divulgação/UFPR).

Atualmente, existem cerca de 3 mil produtos à base de amianto, em geral, fibrocimentos usados na construção civil, de acordo com o Observatório do Amianto. O principal desafio para o descarte desse material é sua resistência, justamente o motivo de a indústria do amianto ter se desenvolvido no mundo.

Hoje ele precisa ser descartado em aterros industriais ou decomposto termicamente, em um processo chamado de calcinação. Nele, o material é submetido a uma temperatura de 850 graus, durante duas horas, em um forno específico, para que se quebrem as fibras do asbesto. Esse processo tem o ônus de gerar poluição por conta da queima de material e consumir muita energia.

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Os cortes financeiros vão reduzir o número de pesquisas aplicadas, principalmente ligadas ao meio ambiente. E talvez inviabilize a resolução dos problemas

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Além de ser custoso, segundo o químico, o procedimento para descarte hoje utilizado desperdiça o potencial de o amianto ser transformado em fertilizante.

O estudo sugere ainda que o composto resultante do processo desenvolvido na UFPR é considerado um fertilizante de longa duração porque ele consegue manter os nutrientes no solo por mais tempo, além de ter indicação versátil. “A princípio, nos testes controlados, verificamos que o fertilizante que é criado pode ser usado em qualquer tipo de cultura”, afirma Borges. Para confirmação dessa característica, é preciso que o composto seja testado em proporções maiores do que em gramas, como ocorre no laboratório.

Para o químico, os profissionais da pós-graduação brasileira são cientistas que trabalham para tornar a vida da sociedade melhor. “Mas precisamos de suporte financeiro, as pessoas não encaram a pós como algo sério e isto é grave na nossa cultura. Os cortes financeiros vão reduzir o número de pesquisas aplicadas, principalmente ligadas ao meio ambiente. E talvez inviabilize a resolução dos problemas”.

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Vanessa Fajardo

Jornalista, trabalha com temas principalmente ligados à educação. Já passou pelas redações do G1 e dos jornais Agora São Paulo e Diário do Grande ABC. Atua como colaboradora de BBC Brasil, Folha de S.Paulo, Porvir, Universa e Revista GOL.

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