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#RioéRua – história e sabores de 260 anos de Tijuca
Bairro festeja aniversário da expulsão dos jesuítas do Brasil, e data serve de pretexto para roteiro gastronômico
Chega aqui pelas minhas redes a informação sobre uma exposição comemorativa dos 260 anos da Tijuca – o que me desperta a curiosidade, sobre essa data, e o paladar já que é perto da hora do almoço e o bairro tem uma variedade de sabores. Comecemos pela efeméride: a Tijuca celebra seu aniversário com a expulsão da Companhia de Jesus, julho de 1759, do Brasil. Os jesuítas, aliados de Estácio de Sá contra a ocupação francesa no Rio de Janeiro dois séculos antes, ganharam, na ocasião, longas extensões de terra onde implantaram engenhos de açúcar. Em um deles, os religiosos, com o padre José de Anchieta à frente, levantaram, ainda em 1567, a primeira Igreja de São Francisco Xavier – no mesmo lugar onde está a igreja atual, reformada em 1869 em campanha liderada pelo Duque de Caxias.
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Veja o que já enviamosQuando a Companhia de Jesus foi expulsa, suas terras foram divididas em três grandes blocos – São Cristóvão, Engenho Velho e Engenho Novo – pela Coroa Portuguesa, que, depois, repartiu as terras, manteve algumas e leiloou as outras. A região do Engenho Velho – onde estava a Igreja de São Francisco Xavier – abrangia toda área do que é chamado de Grande Tijuca e ia até o Alto da Boa Vista: foi muito disputada por famílias ricas brasileiras e, com a chegada da Corte, portuguesas que instalaram chácaras e fazendas para aproveitar da natureza exuberante. Eram casas de campo que foram se transformando, com o tempo e o crescimento da cidade, em residências permanentes. Quando o século XX chegou, a Tijuca já deixava de ser rural: bondes, primeiro de tração animal e depois elétricos, iam até o Largo da Fábrica das Chitas – nome até 1910 da Praça Saens Peña, já então centro comercial do bairro.
A praça, portanto, ganhara seu novo nome – Saens Peña, em homenagem ao presidente da Argentina em visita ao Brasil no ano do batismo – há sete anos quando a Casa Granado abriu ali sua filial, em 1917, um dos poucos imóveis testemunhas dessa Tijuca de um século atrás: o processo de urbanização acelerado a partir de meados do século XX fez surgir uma selva de prédios pelos corredores da Haddock Lobo, da Conde de Bonfim e da Barão de Mesquita. Sobrou muito pouco dos tempos passado. A caminhada Conde de Bonfim abaixo, além de abrir o apetite, só confirma as exceções: o Colégio Marista São José é de 1932, o Palacete Garibaldi, que abriga o Centro de Música Carioca Artur da Távola, foi construído em 1921, a Granado é, repito, de 1917.
Na virada dos anos 1970 para 1980, comecei a frequentar a Tijuca por conta dos cinemas: em volta da praça, servida pelo metrô, ficava a maior concentração da cidade, mais telas que na Cinelândia. América, Carioca, Art-Palácio, Metro, Comodoro, Bruni, Cinema 3: todos fecharam como tantos cinemas de rua pela cidade. Na passagem pela praça, vejo que a Igreja Universal manteve a fachada do Carioca; nada indica que, em frente, havia o América, onde hoje funciona uma farmácia. Nesse tempo, ainda havia também um orgulho de ser tijucano – pelos cinemas, pelo comércio, pelos clubes. A auto-estima tijucana minguou junto com a carioca – e, de forma mais rápida, com o crescimento da insegurança que fechou não somente as salas de cinema.
Passados mais de 30 anos, o que me atrai à Tijuca agora são sempre seus sabores, a começar, lá por cima, perto da estação final do metrô na linha 1, pelo bolinho de arroz com queijo e linguiça do Bar do Momo, quase na esquina de Uruguai com General Espírito Santo Cardoso. A um caminhada razoável da estação São Francisco Xavier, fica o Bode Cheiroso, na General Canabarro, perto do Maracanã, que tem o melhor dueto de pernil e torresmo do Engenho Velho. No cruzamento da linha imaginária do metrô, ou pegando o trem subterrâneo até a estação Afonso Pena, completa-se a turnê gastronômica com o pastel de calabresa e jiló do Bar Madrid, na Almirante Gavião, e as tradicionais empadinhas do Salete, na Rua Afonso Pena, onde come-se ainda um dos melhores risotos da cidade.
Neste fim de semana, já teve alguma comemoração dos 260 anos, animada por outra tradição tijucana, samba de qualidade representado pelo Salgueiro e sua furiosa bateria e a Unidos da Tijuca. Mas quem quiser saber mais sobre essa história do bairro tem exposição lá no Centro de Música Carioca Artur da Távola, com pinturas, desenhos, fotografias e colagens reunidas e produzidas pela historiadora e artista plástica Lili Rose, que fica aberta até o começo de agosto. Pode ser um bom pretexto para ir à Tijuca, fazer alguma incursão gastronômica já descoberta ou buscar coisas que o bairro ainda esconde e um tijucano de raiz pode revelar.
Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade