Do consumo predatório ao sustentável

Pesquisa do Instituto Akatu constata que, apesar de a mudança ser lenta, brasileiro está mais consciente na hora de ir às compras

Por Liana Melo | ODS 12 • Publicada em 26 de julho de 2018 - 08:30 • Atualizada em 29 de julho de 2018 - 15:53

A passos lentos, brasileiro começa a dar sinal de se tornar mais consciente ao consumir (Foto Yadid Levy / Robert Harding Heritage / robertharding)
A passos lentos, brasileiro começa a dar sinal de se tornar mais consciente ao consumir (Foto Yadid Levy / Robert Harding Heritage / robertharding)
A passos lentos, brasileiro começa a dar sinal de se tornar mais consciente ao consumir
(Foto Yadid Levy / Robert Harding Heritage / robertharding)

Quando agosto chegar, o planeta Terra estará entrando no vermelho. Uma pesquisa da ONG Global Footprint Network alertou que, no primeiro dia do próximo mês, o consumo de recursos como água, alimentos, madeira, entre outros, estará ocorrendo numa velocidade maior do que a Terra é capaz de renovar. Uma constatação de que o pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman fora premonitório. “Não se pode escapar do consumo”, falou, certa vez, em uma de suas inúmeras entrevistas. Complementou sua análise afirmando que o consumo passou a fazer parte do nosso “metabolismo”. E concluiu que “o problema não é consumir; é o desejo insaciável de continuar consumindo”.

Uso de sacolas plasticas resiste nos supermercados. Foto de Luiz Souza/ NurPhoto/ AFP
Uso de sacolas plasticas resiste nos supermercados. Foto de Luiz Souza/ NurPhoto/ AFP

O brasileiro é um exemplar típico deste homem moderno traduzido por Bauman, com o agravante de estar longe de ser um consumidor consciente. A transição do consumo predatório para um modelo mais sustentável vem ocorrendo, mas o ritmo da mudança é lento. A “Pesquisa Akatu 2018 – Panorama do Consumo Consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações” constatou, que, apesar de os consumidores menos conscientes representarem 76%, uma mudança de comportamento está a caminho. Entre os mais conscientes, 24% estão acima de 65 anos, 52% são das classes A e B e 40% possuem ensino superior – uma demonstração clara que o viés de idade, de qualificação social e educacional são fundamentais na hora de consumir.

Um dos principais resultados da pesquisa foi o crescimento do segmento de consumidores identificados como “iniciantes”, que correspondia a 32%, em 2012, e pulou para 38%, este ano.

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Pesquisa Akatu. Arte de Fernando Alvarus
Arte de Fernando Alvarus

“O momento é de engajar, motivar, recrutar essas pessoas, que, apesar de estarem no agrupamento dos menos conscientes, estão evoluindo em sua consciência de consumo”, analisa Hélio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu. O percentual de consumidores que passaram a comprar produtos orgânicos mais que dobrou em seis anos, tendo pulado de 23%, em 2012, para 48%, este ano. A mudança de comportamento foi detectada em ações cotidianas, como desligar lâmpadas, usar o verso do papel, separar o lixo para a reciclagem.

Pesquisa Akatu. Arte de Fernando Alvarus
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A pesquisa levantou o perfil do consumidor de 12 capitais brasileiras, incluindo nesta lista as regiões metropolitanas. Foram entrevistadas 1.090 pessoas, entre homens e mulheres, com mais de 16 anos, de todas as classes sociais.O período estudado foi de 9 de março a 2 de abril deste ano. A pesquisa está na sua quinta edição.  Para diferenciar os consumidores, o Akatu lançou mão de um Teste do Consumo Consciente (TCC), que envolveu um conjunto de 13 comportamentos. O consumidor “indiferente” é aquele que aderiu a até quatro comportamentos; o “iniciante”, de 5 a 7, o “engajado”, de 8 a 10, e “consciente”, de 11 a 13.

E quais seriam, segundo a percepção do consumidor, as barreiras para hábitos e consumo de produtos sustentáveis? Entre os que tinham algum conhecimento sobre produto sustentável, o principal entrave ainda é o preço, considerado um dos maiores obstáculos. E embora 68% tenham respondido já ter ouvido falar em sustentabilidade, a maioria (61%) não conseguiu explicar o que é um produto sustentável.

O déficit ecológico diagnosticado pela ONG Global Footprint Network é uma preocupação dos consumidores brasileiros.  Segundo a pesquisa, 70% deles se sentem motivados pelos benefícios emocionais do produto – aqueles que se referem a impactar o mundo, a sociedade e o futuro -, enquanto 45% admitiram que a motivação vem dos benefícios concretos do produto a ser consumido. “Empresas que cuidam das pessoas, tanto para dentro quanto para fora, são mais respeitadas”, comentou Mattar.

Pesquisa Akatu. Arte de Fernando Alvarus
Arte de Fernando Alvarus

Ficou comprovado que o consumidor valoriza empresas transparentes e socialmente responsáveis. Variáveis como combate ao trabalho infantil, respeito a raça, religião, sexo, identidade de gênero ou orientação sexual, dentro e fora da empresa são variáveis que fazem o consumidor escolher este e não aquele produto. Com o planeta Terra emitindo sinais de exaustão, nada mais urgente do que o consumo consciente, uma alternativa ao crescente desperdício que vem intermediando a relação entre a sociedade e a natureza.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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