Além da bioenergia

Brasil ignora as novas tendências da economia do século XXI

Por Suzana Kahn | ArtigoODS 7 • Publicada em 17 de agosto de 2016 - 09:47 • Atualizada em 17 de agosto de 2016 - 15:04

Reprodução de gravura com escravos em plantio de cana de açúcar
Reprodução de gravura com escravos em plantio de cana de açúcar
Reprodução de gravura com escravos em plantio de cana de açúcar

Na busca de opções que mantenham a economia crescendo e funcionado mas sem esgotar os recursos naturais do planeta, várias alternativas e tentativas conceituais foram elaboradas. A bioeconomia é, no entanto, mais do que um novo conceito, devendo ser encarada como uma nova oportunidade, principalmente para países que possuem características favoráveis ao uso de biomassa. Bioeconomia pode ser descrita como a área da economia que abrange a produção  sustentável de recursos renováveis e sua conversão em alimento, fibras, ração animal, químicos, materiais e bioenergia através de tecnologias eficientes e inovadoras provendo benefícios econômicos, sociais e ambientais.

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Estima-se que em 2013, somente a economia baseada em bioprodutos, o que exclui agricultura, atividades florestais e pesca, gerou cerca de 3.2 milhões de empregos e 600 bilhões de euros na União Europeia.

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Os vetores do avanço da bioeconomia são as mudanças climáticas que implicam em necessidade de alternativas de mitigação das emissões de carbono e oportunidades de novos negócios, geração de emprego e renda, além da fundamental questão de erradicação da pobreza. Porém, vale ressaltar que bioeconomia por si só não significa uma atividade sustentável, ou seja, todos os critérios de sustentabilidade precisam ser respeitados, o que é um desafio. As preocupações ambientais são principalmente relativas às questões de biodiversidade e uso de recursos naturais. Na visão social, a qualidade dos empregos gerados precisa ser observada e em relação aos aspectos econômicos, deve-se ter cuidado para que a competição pelo uso da terra não leve a um aumento no custo de produção de alimentos.

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No entanto, mesmo com todas estas precauções, são significativos os ganhos na cadeia de valor da biomassa. Estima-se que em 2013, somente a economia baseada em bioprodutos, o que exclui agricultura, atividades florestais e pesca, gerou cerca de 3.2 milhões de empregos e 600 bilhões de euros na União Europeia. Similar resultado se tem nos EUA, onde a bioeconomia, descontada a bioenergia, que é significativa naquele país, representou cerca de 4 milhões de empregos e 370 bilhões de dólares no mesmo ano. O Fórum Econômico Mundial avalia que o potencial em termos de novos negócios e oportunidades na cadeia de valor da biomassa pode alcançar globalmente uma cifra de 295 bilhões de dólares no ano de 2020, ou seja 3 vezes mais do que movimentava em 2010. Só a biotecnologia poderá representar 2,7% do PIB dos países desenvolvidos.

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O Fórum Econômico Mundial avalia que o potencial em termos de novos negócios e oportunidades na cadeia de valor da biomassa pode alcançar globalmente uma cifra de 295 bilhões de dólares no ano de 2020, ou seja 3 vezes mais do que movimentava em 2010. Só a biotecnologia poderá representar 2,7% do PIB dos países desenvolvidos.

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Exatamente por já ter a tradição de atuar na área de bioenergia desde a década de 1970, ser um país de grande extensão territorial, clima tropical e disponibilidade de mão de obra, era de se esperar que estivesse liderando esta nova tendência econômica.

É fundamental que o país inove na busca de oportunidades na cadeia de valor da biomassa tão abundante. De forma que a inovação seja traduzida em resultados é  necessário que se tenha um ambiente propício para que sejam implementadas novas soluções. Políticas públicas nas áreas de ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento são essenciais para o sucesso da inovação bem como a criação de um arcabouço regulatório e legal. Os resultados observados nos países desenvolvidos na área de bioeconomia mostram que esta é uma estratégia que vale a pena.

Ainda é tempo de se alinhar a este caminho, criando as condições institucionais para o desenvolvimento da bioeconomia no país, além do etanol e do bagaço de cana, uma vez que as condições naturais, o Brasil já possui.

Suzana Kahn

Engenheira mecânica com doutorado em engenharia de produção. Professora da COPPE/UFRJ, presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudança Climática e coordenadora do Fundo Verde da UFRJ.

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