Guarani-Kaiowá: um morto e cinco feridos

Em novo confronto com fazendeiros, saga da etnia tem mais um capítulo sangrento no Mato Grosso do Sul

Por Liana Melo | ArtigoODS 1 • Publicada em 14 de junho de 2016 - 19:09 • Atualizada em 16 de junho de 2016 - 22:33

Conflito armado envolvendo fazendeiros e Guarani-Kaiowás
Conflito armado envolvendo fazendeiros e Guarani-Kaiowás
Índio Guarani-Kaiowá ferido a bala em confronto com fazendeiros no Mato Grosso do Sul / Reprodução Cimi

Um morto e cinco feridos, incluindo uma criança de 12 anos, atingida com um tiro no abdômen, foi o saldo do conflito armado envolvendo índios da etnia Guarani-Kaiowá e fazendeiros na fazenda Ivu, localizada a 20km da cidade de Caarapó, no sul do Mato Grosso do Sul. Dois dos feridos estão correndo risco de vida: um deles foi atingido no pulmão e o outro, na cabeça. O número de feridos, no entanto, pode ser bem maior, já que os indígenas teriam se refugiado no mato, em fuga.

O ataque foi promovido por cerca de 70 fazendeiros na manhã da última terça-feira (14 de junho), após uma tentativa de retomada da área pelos índios no último domingo. Desde então, a tensão na região só aumenta. As 300 famílias envolvidas na retomada da área conseguiram reforço massivo de outros grupos da etnia e há informações, ainda não confirmadas, de que os indígenas teriam retomado outro território tradicional, em protesto contra o ataque.

Está previsto para amanhã o sepultamento do agente de saúde indígena Cloudione Rodrigues Souza, assassinado com ao menos dois tiros. O enterro será realizado no local do massacre, o que deve aumentar ainda mais a tensão na área. Cloudione é mais um número na estatística de lideranças indígenas dos Guarani-Kaiowá assassinadas na última década. Se calcula que já foram mortos 15 lideranças indígenas na última década na região.

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É uma verdadeira milícia ruralista

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O antropólogo Diogenes Cariaga, nascido em Caarapó, mas que está vivendo em Florianópolis, onde faz seu doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), está convencido que uma “verdadeira milícia ruralista” age na região, com a ajuda de “pistoleiros paraguaios. A região fica na fronteira com o país vizinho, o Paraguai.

Segundo nota divulgada pela Secretaria Estadual de Saúde Indígena (Sesai), “homens armados, em aproximadamente 60 caminhonetes”, chegaram atirando na fazenda Ivu. Representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e policiais militares e federais foram mobilizados e estão no local.

O conflito é mais um capítulo sangrento da saga dos Guarani-Kaiowás pela preservação do seu território. Eles foram expulsos de suas terras pelos idos dos anos 50 e, desde então, lutam para reavê-las. Em 2005, o governo homologou as terras indígenas dos Guarani-Kaiowás, mas os índios nunca tomaram posse. O processo está paralisado na Justiça Federal e os índios vivem, desde então, confinados em uma área de 150 hectares, dos 9.317 que foram homologados. O restante da área foi dividida em nove fazendas, atualmente em posse de fazendeiros da região.

A situação dramática dos Guarani-Kaiowás ganhou a atenção da opinião pública em 2012, quando indígenas de outra comunidade da etnia emitiram uma declaração de “morte coletiva” de 170 homens, mulheres e crianças após receberam uma ordem de despejo decretada, à época, pela Justiça estadual. “#SouGuaraniKaiowa” ou “#SomosTodosGuaraniKaiowa” invadiram o Facebook e o Twitter, assim mesmo com “k” e “w” como os indígenas escrevem sua língua na região do Cone Sul.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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