Da periferia para o cinema

Instituto Criar

Por Felipe Porciuncula | Mapa das ONGsODS 10 • Publicada em 2 de junho de 2016 - 08:00 • Atualizada em 3 de setembro de 2017 - 01:22

Aluno de uma das oficinas do Instituto Criar
Aluno de uma das oficinas do Instituto Criar
Cinema e novas mídas fazem parte do currículo

Enquanto gravava em um restaurante em Niterói, na região Metropolitana do Rio de Janeiro, chamou a atenção do apresentador Luciano Huck o enorme número de jovens que trabalhava atrás das câmaras no set de filmagem. Era um total de 250 pessoas. O ano era 2002. Enquanto observava a cena, concluiu que a maioria daqueles jovens não tinha nenhuma formação profissional. Arregaçou as mangas e, no ano seguinte, criou o Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias.

Ocupando um galpão de 3,5 mil m2, de uma antiga fábrica da Ford, no bairro do Bom Retiro, na capital paulista, o estúdio escola já formou, desde então, 1.700 jovens. Todos os alunos são oriundos de áreas carentes e vivem em situação de alta vulnerabilidade (famílias que ganham até meio salário mínimo). A única exigência para entrar no projeto é que o aluno tenha concluído o ensino médio ou esteja cursando o terceiro ano.

A procura por uma vaga é grande. É alta a incidência de jovens que acabam o curso no Criar e conseguem um emprego.

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Com um diploma de computação gráfica debaixo do braço, a fotógrafa Monique Barros mudou de vida após receber o diploma. “Tive a oportunidade de estagiar nos estúdios Burti HD. Depois de oito meses, virei assistente de fotografia de uma das maiores agências de publicidade do País, a Young & Rubicam. Com muita dedicação conquistei meu espaço e hoje tenho meu próprio estúdio”.

Em 2013, Monique foi trabalhar na Delicatessen Filmes e passou a produzir audiovisuais para um mercado que não para de crescer e movimenta cifras bilionárias:  R$ 20 bilhões. Entre os clientes da ex-aluna do Criar estão empresas de grande porte, como Vivo, LG, Schin, Colgate e Skol, e também bancos, como o Bradesco.

Luz, câmera, ação

Aula de cinema do Instituto Criar
Aula de cinema e referências estéticas

Para os professores do Criar, não basta saber filmar, é preciso ter referências estéticas. Frequentar óperas, ver exposições, conhecer movimentos artísticos, e, óbvio, ir ao cinema são algumas das exigências feitas aos alunos. “Além de dominar a técnica, os jovens precisam saber que tipo de luz o diretor Quentin Tarantino usou, por exemplo, no filme “Bastardos Inglórios”, comenta Luiz Alfaya, superintendente do Instituto Criar. “Claro que ele não chega completamente preparado no mercado de trabalho, mas entra em um estúdio conhecendo o processo de produção da indústria do audiovisual”.

Este ano, 905 jovens se inscreveram para o curso, mas apenas 150 foram selecionados. Eles foram indicados por ONGs e escolas públicas. Todos recebem uma bolsa de meio salário mínimo e ajuda de custo para o transporte.

O curso é em horário integral. Pela manhã, aulas técnicas de câmera, iluminação, maquiagem/cabelo, animação, computação gráfica, produção, cenografia, figurino, áudio e edição. Além da parte teórica, os alunos têm acesso aos equipamentos usados nos maiores estúdios brasileiros. À tarde, ocorrem as oficinas socioculturais, que buscam fortalecer os vários aspectos do cidadão. “Aqui o espaço é pra reflexão, já que, muitas vezes, pelas circunstâncias da vida, esses jovens não conseguem parar para pensar no futuro e, muito menos, planejar a carreira”, comenta Alfaya.

A instituição criou o Prêmio Criando Asas, o que não deixa de ser mais uma oportunidade para o jovem mostrar seu trabalho. Os cinco ganhadores recebem um prêmio no valor de R$ 5 mil e ainda têm a oportunidade de usar os equipamentos do Criar.

Felipe Porciuncula

Jornalista com 25 anos de estrada. Passou pelas redações de Jornal do Comercio, TV Pernambuco, Valor Econômico e GloboNews. Faz parte da Ashoka Society, onde teve apoio para seu projeto Agência Popular de Notícias. Foi consultor da Unicef e da Unesco. Editou o livro “Guia para o amanhã: sustentabilidade e mudanças climáticas”, publicado pela editora Senac (finalista do Prêmio Jabuti 2010). Adora cinema e viajar. Escreve ficção. Gosta muito de estudar a ciência da política.

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