Um prosumidor no Leblon dos anos 70

Engenheiro foi pioneiro no uso da energia solar em prédio da Zona Sul do Rio

Por Maria Clara Parente | ODS 7 • Publicada em 17 de maio de 2016 - 08:00 • Atualizada em 18 de maio de 2016 - 13:13

O engenheiro no alto do prédio no Leblon: ideia veio de visita a Israel
O engenheiro no alto do prédio no Leblon: ideia veio de visita a Israel
O engenheiro no alto do prédio no Leblon: ideia veio de visita a Israel

No cenário mundial, Estados Unidos e Europa sofriam as consequências da própria insuficiência energética. A crise do petróleo, agravada pela revolução islâmica iraniana em 1979 e depois pela guerra Irã-Iraque nos anos 1980,  no Irã em 1979 e seguida pela guerra  entre o país  e o Iraque a partir de 1980, aumentou exponencialmente os preços dos barris. No Brasil, a  crise incentivou a criação do programa Proálcool, em 1975. Ainda assim, pouco se falava de fontes renováveis de energia. Mas  foi nessa época que o engenheiro alemão Georg Herz (1933-2009) instalou o primeiro sistema de aquecimento de água por energia solar em seu prédio, tornando-se pioneiro no setor no Rio de Janeiro.

“Ele foi visitar a nossa filha que estava morando em Israel e percebeu que a maioria dos edifícios era equipada com aquecedores solares”, lembra Sandra Herz,  mulher do engenheiro. A localização em uma área desértica somada à falta de fornecimento de combustivel nos anos 1950 foram responsáveis por tornar Israel, um exemplo para o mundo no investimento em energia solar. Em 1983, cerca de 60% da população israelense usavam esse tipo de aquecedor, hoje são mais de 90%.

Reportagem do jornal O Globo anunciava a novidade, que poderia acabar com aquecedores a gás
Reportagem do jornal O Globo anunciava a novidade, que poderia acabar com aquecedores a gás

O sistema instalado no alto do prédio do Leblon por Herz funcionava com uma estufa coletora de calor em forma retangular de aço galvanizado anticorrosivo. Dentro dela, uma serpentina de cobre puro, que ficava em contato com uma chapa de alumínio, pintada de preto para a melhor absorção dos raios solares. Os nove coletores tinham um sistema de circulação de água e estavam ligados a um reservatório vedado termicamente. O sistema, que funcionava exclusivamente para aquecer água, só foi possível ser instalado porque o edifício tinha um boiler central, que continuou ligado ao reservatório movido a energia solar. O consumo de energia no boiler, que ficava em torno de três mil cruzeiros por mês, foi reduzido em 70% depois da instalação do sistema no prédio.

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Essa economia no consumo foi crucial para que os outros moradores aceitassem pagar o alto valor da instalação, que custou cem mil cruzeiros no total. Segundo os cálculos de Herz, cada morador pagaria o sistema em três ou quatro anos. Mas antes do terceiro ano, o investimento já tinha sido pago pela economia nas contas. Dezesseis anos depois, para a tristeza de Herz, o prédio teve que abandonar o sistema pela falta de sol. “Foi construído um prédio ao lado mais alto e parou de bater sol no telhado do prédio, impossibilitando o uso das placas”, lembra Sandra. Atualmente, uma solução para esse tipo de problema está sendo desenvolvida pela startup norte-americana SolarWindow Technologies: as janelas solares. Segundo a empresa, a tecnologia pode gerar 50 vezes mais energia que os painéis solares convencionais.

Hoje, Herz seria um exemplo de prosumidor (produtor + consumidor), por gerar suas necessidades energéticas, característica cada vez mais valorizada no mundo, como apontou José Eustaquio Diniz Alves em sua reportagem aqui no #Colabora. Mesmo com a crise, estima-se que o mercado de energia solar movimentará R$ 100 bilhões até 2030, de acordo com o Portal Solar, um hub de prestadoras do serviço do setor solar. O preço de uma placa fotovoltaica para casa fica em torno de R$ 900 a R$ 1700, mas o investimento geralmente é compensado.  No final do mês, percebe-se uma economia de 30%, que pode chegar a 50% quando o consumidor é beneficiado por alíquotas menores de ICMS em função do baixo consumo de energia elétrica. Uma boa solução para o planeta e para o bolso, apesar de restrita a quem pode fazer esse tipo de investimento em tempos de crise.

Maria Clara Parente

Jornalista e mestre em literatura pela PUC-Rio. Trabalha com jornalismo ambiental e audiovisual desde 2016, com foco em novas economias, mudança sistêmica e justiça climática. No colabora, dirige a apresenta a série WebColaborativa e apresentou a primeira temporada da série Comendo Lixo(2018), sobre cozinha lixo zero. Co-dirigiu a série documental What is Emerging?(2019) e dirigiu o documentário Regenerar: Caminhos Possíveis em um Planeta Machucado(2022).

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