Marinheira, ativista e sonhadora

Do desmatamento na Amazônia aos refugiados na Grécia, a emocionante história de Amanda Eklund

Por Marizilda Cruppe | ODS 15Vida SustentávelVídeo • Publicada em 2 de março de 2016 - 08:00 • Atualizada em 8 de março de 2018 - 13:33

Amanda Eklund

Dois mil e um. O mais conhecido navegador brasileiro se prepara para sua primeira viagem tripulada à Antártica e considera importante levar jornalistas, de vídeo e foto, para cobrirem a aventura que ele havia realizado sozinho anteriormente. O maior grupo de comunicação do país (e da América Latina, top 5 no mundo) é convidado. Pela TV, escalam um cinegrafista, e, pelo jornal, escolhem uma fotógrafa. O time que partiria para a viagem de três meses seria composto por cinco homens e uma mulher. Um inesperado “balde de água gelada” é despejado muito antes da travessia do Canal do Drake. A mulher do navegador, com quem tem três meninas, não permite uma outra mulher no grupo. Esse episódio está registrado no livro “Linha D’Água”, no qual Amir Klink relata, em poucas palavras, o veto à presença da fotógrafa, embora as razões da proibição não tenham sido reveladas.

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As leis são as regras do jogo que todos nós temos de jogar. E, se eu for advogada, poderei ser ainda melhor ativista. Para mim, a combinação é óbvia. Eu serei uma advogada ativista. Não podemos nos esquecer de que as leis foram criadas por pessoas e podem ser mudadas por pessoas quando agirmos em conjunto para um mundo melhor e mais justo.

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Dois mil e doze. O novo navio do Greenpeace, o Rainbow Warrior, chega ao Brasil para sua primeira expedição, que começa na Amazônia e tem seu ápice no Rio de Janeiro, durante a Rio+20. A tripulação fixa é composta por 13 pessoas, além de outras 19 que são trocadas de acordo com as atividades desenvolvidas. Entre os 32 a bordo, de 15 nacionalidades, há muitas mulheres. Não há distinção de gênero, e todos pegam no pesado. As mulheres desempenham funções que poderiam ser consideradas “de homem” nesta terra em que sopram fortes ventos machistas. A primeira-oficial, a pessoa que de fato bota o barco pra andar, é uma mulher. Seis profissionais, de foto e vídeo, se revezam na cobertura da expedição. Três são mulheres.

A sueca Amanda Eklund participa de sua primeira expedição pelo Greenpeace. Ela é menina em tudo nos seus 20 anos, no seu sorriso gigante, no brilho curioso dos seus olhos, na sua vontade de aprender e no seu desejo de salvar o mundo. Marinheira formada pela Öckerö Gymnasieskola, escola de nome impronunciável, localizada numa ilha no sudoeste da Suécia, ela, como “garbologist”, cuidou do lixo, pôs em prática seus conhecimentos de marinheira e piloto de lancha, foi escaladora e se pendurou na corrente da âncora de um navio para impedi-lo de chegar ao Porto de São Luís do Maranhão. Durante a ação, outros escaladores e escaladoras se revezaram na ocupação da corrente por 24 horas durante dez dias. “Começamos a velejar em Manaus, ao longo do Rio Amazonas, até chegarmos ao mar, para realizarmos essa ação e botarmos em foco a questão da destruição da Floresta Amazônica”. Tanto esforço foi recompensado, pois, com a visibilidade da ação e o suporte de documentos, o Greenpeace chamou a atenção para a conexão entre a produção de ferro gusa e a extração ilegal de madeira, a devastação de terras indígenas e o trabalho escravo. A ação só terminou após um acordo entre empresas e governo para melhorar a situação.

Dois mil e dezesseis. Amanda é piloto de lancha experiente e participa de uma ação conjunta entre o Greenpeace e a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras para resgatar refugiados à deriva, nas proximidades da Ilha de Lesbos, na Grécia. “Ver a tragédia humana em Lesbos reforçou a minha convicção de que o mundo precisa de ativismo mais do que nunca. E essa é uma das razões que me fazem querer ser advogada”, diz Amanda, que, em 2019, vai se formar em Direito pela Universidade de Umeå.

De voluntária a piloto de lancha experiente, de marinheira a estudante de Direito, Amanda, agora com 24 anos, sabe aonde quer chegar: “As leis são as regras do jogo que todos nós temos de jogar. E, se eu for advogada, poderei ser ainda melhor ativista. Para mim, a combinação é óbvia. Eu serei uma advogada ativista. Não podemos nos esquecer de que as leis foram criadas por pessoas e podem ser mudadas por pessoas quando agirmos em conjunto para um mundo melhor e mais justo”. Amanda recebeu forte influência da mãe, Marita, que considera uma ativista de linha de frente, por ter criado dois filhos sozinha. “Estou ansiosa para encontrar maneiras criativas de usar o meu conhecimento em Direito para lutar pelo planeta, pelo feminismo e por uma sociedade que, realmente, respeite os direitos humanos”, sonha Amanda.

Marizilda Cruppe

​Marizilda Cruppe tentou ser engenheira, piloto de avião e se encontrou mesmo no fotojornalismo. Trabalhou no Jornal O Globo um bom tempo até se tornar fotógrafa independente. Gosta de contar histórias sobre direitos humanos, gênero, desigualdade social, saúde e meio-ambiente. Fotografa para organizações humanitárias e ambientais. Em 2016 deu a partida na criação da YVY Mulheres da Imagem, uma iniciativa que envolve mulheres de todas as regiões do Brasil. Era nômade desde 2015 e agora faz quarentena no oeste do Pará e respeita o distanciamento social.

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2 comentários “Marinheira, ativista e sonhadora

  1. Douglas Alves disse:

    Olá, Marizilda

    Gostaria de saber se vc tem alguma informação sobre
    Como se tornar voluntário pra formar tripulação dos navios do
    Geenpeace. Tenho bastante experiência embarcado, inclusive em navios veleiro, e já há muito tempo tenho vontade de me tornar, também, um ativista.

    Cordialmente

    Douglas Alves

  2. Bia disse:

    Amanda é mais um exemplo de ativista de mãos cheias, com a natural sensibilidade humana de lutar pelo mundo. Enquanto não posso ser uma “Amanda” em escala global, eu lhe mando forças, compartilho informações de ativismo, e estudo para poder fazer a diferença, no mínimo, de forma regional. Ótimo texto!

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