ODS 1
No semiárido baiano, sol e vento no fim do túnel
Projetos de usinas solares e eólicas trazem novas perspectivas em região onde o clima costumava ser fonte apenas de más notícias
Tabocas do Brejo Velho, município de pouco mais de 10 mil habitantes no semiárido da Bahia, a quase 800 quilômetros a oeste de Salvador, terminou o ano de 2015 como uma das 251 cidades baianas em estado de emergência por conta da seca. A estiagem é uma rotina agravada nos últimos anos – em 2012, 2013 e 2014, Tabocas também passou meses em situação de emergência. O ano de 2016 começou com uma boa notícia: foram instaladas no município as primeiras estruturas para a construção da usina de energia solar Ituverava, empreendimento da italiana Enel Green Power (EGP), com 740 projetos semelhantes de energia renovável em 16 países. A EGP vai investir aproximadamente 400 milhões de dólares na construção de Ituverava – a multiplicação de projetos de usinas produtoras de energia eólica e solar no semiárido baiano aponta para uma mudança de expectativas numa região onde o clima costumava ser fonte apenas de más notícias.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”solid” template=”01″]Quase a metade da população baiana – 7,2 milhões de pessoas dos pouco mais de 15 milhões de moradores da Bahia – vive no semiárido, que ocupa dois terços do território do estado.
[/g1_quote]Após sua conclusão, Ituverava terá uma capacidade instalada total de 254 MW, o que a torna a maior usina solar da EGP atualmente em construção e uma das maiores da América Latina. A nova planta de energia solar está prevista para entrar em operação no final de 2017. Ituverava poderá gerar mais de 550 GWh por ano, suficiente para cobrir a demanda de consumo de energia anual de mais de 268 mil domicílios brasileiros, evitando a emissão de mais de 185.000 toneladas de CO2 por ano. Mais de 500 GWh/ano e mais de 250 mil residências atendidas são também os números previstos para a usina El Romero Solar, que está em construção no deserto do Atacama, no Chile, também com previsão de entrada em operação em 2017.
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Veja o que já enviamosO projeto Ituverava é também o maior dos 12 conquistados na Bahia no leilão de energia, promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica em agosto. Todos eles estão previstos para municípios do semiárido: de cidades maiores como Bom Jesus da Lapa, no sudoeste do estado, às margens do São Francisco, e Irecê, no centro-norte, ambas com quase 70 mil habitantes, a municípios pequenos como Brejolândia (no oeste da Bahia) e Oliveira dos Brejinhos (no centro-sul), que, como Tabocas, têm pouco mais de 10 mil moradores e uma história castigada pela seca.
Os projetos de usinas solares reforçam a vocação do semiárido na Bahia como fonte de energia renovável. A própria EGP começou, agora em janeiro, a construção do parque eólico Delfina, em Campo Formoso, também no sertão baiano, no norte do estado, previsto para ser concluído e entrar em operação no primeiro semestre de 2017. De acordo com a empresa, Delfina terá capacidade de gerar mais de 800 GWh por ano – suficiente para a demanda de consumo de 390 mil residências, evitando a emissão de mais de 270 mil toneladas de CO2 por ano.
Em toda a Bahia, 46 projetos de energia eólica já estão em operação, espalhados por 23 municípios, todos no semiárido. Pelo menos, mais 40 usinas estão em construção e há projetos para outras 100. O estado já é o terceiro em produção de energia dos ventos, atrás de Rio Grande do Norte e Ceará, que tem seus projetos perto do litoral. A Bahia concentra o potencial eólico no interior, ao longo da margem direita do Rio São Francisco, desde a Serra do Espinhaço, no noroeste do estado, perto da divisa com Minas, até Juazeiro, na divisa com Pernambuco.
Dos 471 municípios da Bahia, 265 estão na região do semiárido, marcada por muitas horas de sol e pouca chuva, geralmente mal distribuída ao longo do ano. Quase a metade da população baiana – 7,2 milhões de pessoas dos pouco mais de 15 milhões de moradores da Bahia – vive no semiárido, que ocupa dois terços do território do estado. Essa população enfrenta ainda as dificuldades climáticas para desenvolver a agricultura e a pecuária, base da economia em quase toda a região. Por tudo isso, na Bahia, as fontes renováveis podem mudar muito mais do que a produção de energia.
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Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade