Aline Moreno, 30 anos, atriz e paulista acredita realmente naquela canção que diz que “todo artista tem que ir aonde o povo está”. Estudou artes cênicas no Centro de Artes e Educação Célia Helena, em São Paulo, e lá descobriu que o drama não era o seu forte. O que ela gostava mesmo era de fazer rir. Rir de verdade. Rir que nem criança. Rir até chorar de rir. E lá, de riso em riso, Aline decidiu que queria ser palhaça. E não apenas isto: uma palhaça que levaria o riso a todos os lugares onde ele pudesse chegar. Uma palhaça sem fronteiras.
Para isto, decidiu que tinha que estudar mais. Foi aprender com os Doutores da Alegria e, em 2009, criou o grupo Tem Palhaço no Pedaço, que atuava nos hospitais de Santo André, em São Paulo. Em 2011, se mudou para Barcelona para estudar na escola internacional de teatro Berty Tovías. “Meu sonho era um dia trabalhar com os Palhaços Sem Fronteiras (Clowns Whitout Borders). Uma ONG que está presente em 12 países e leva espetáculos de artes cênicas a zonas de conflito, de extrema pobreza, lugares onde a arte não costuma chegar. Sempre gostei desta mistura de trabalho social e humor”, conta ela.
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Veja o que já enviamosEm Barcelona, quis ir logo conhecer e se oferecer para trabalhar como voluntária com os Palhaços Sem Fronteira. Mas ainda não era o momento. Eles exigiam formação e preparação antes de sair para alguma missão. E assim foi. Mas Aline não é de esperar muito. Decidiu que ela mesma organizaria uma expedição aos campos de refugiados Saharauís, na Argélia. Esta região do Saara Ocidental vive uma guerra esquecida. Antiga colônia espanhola, nos anos 70, estava a ponto de conseguir sua independência, quando a morte de Francisco Franco, ditador espanhol, paralisou todo o processo. O governo do Marrocos, aproveitando este momento de debilidade da Espanha, invade e ocupa o Saara Ocidental. A Espanha, com problemas internos mais importantes, deu as costas para sua antiga colônia, que até hoje luta para ser um país livre.
Aline cria o grupo Cromossomos, junto com outro palhaço, Ivan Prado, formado por 12 artistas brasileiros e espanhóis, e fazem espetáculos para mais de cinco mil crianças saharauís em campos de refugiados. Tudo financiado com crowdfunding.
“Foi incrível! Uma experiência maravilhosa, que só fez aumentar minha certeza que era este meu caminho”- lembra Aline.
Depois disso, já com apoio dos Palhaços Sem Fronteira, ela voltou para outra expedição de 14 dias pelos campos de refugiados na Argélia. E esta parceria só aumenta. Em 2015, Aline foi com esta ONG até a Colômbia, atuar em áreas sobre influência do tráfico de drogas e também à cidade de Mariana, em Minas Gerais, nos dias posteriores ao grande desastre ecológico. Agora em abril deste ano, ela vai com os Clowns Whitout Borders dos Estados Unidos a uma nova viagem de riso pela Nicarágua.
“Muita gente me pergunta por que levar espetáculos de circo para estes lugares. Seria mais útil levar comida, dizem. Mas nós acreditamos que onde a arte não chega, o único espetáculo que resta é a violência. O riso é muitas vezes subversivo. O palhaço tem a liberdade de colocar o dedo na ferida, porque todos pensam que ele é um idiota. Então pode dizer o que ninguém tem coragem de falar” – afirma Aline.
E quando alguém pergunta se o palhaço ainda é ladrão de mulher. Aline sempre responde:
“O palhaço eu não sei. Mas a palhaça é o que ela quiser”.