De vilão ambiental, o chorume passou a aliado da natureza. Quando escondido em lixões e aterros sanitários, esse líquido viscoso de cheiro forte e desagradável, proveniente da decomposição de lixo orgânico misturado com água, é altamente poluente. Em Lages, na Serra catarinense, não. Lá, a horta passou a ser uma consequência da compostagem. O lixo orgânico sai da pia da cozinha direto para os canteiros – um método simples, eficiente e barato para enfrentar um problemão ambiental.
Perto de 40% do lixo de Lages é de origem orgânica. São restos de carnes, legumes, verduras, frutos. É um desperdício de comida que ajuda a engrossar dados internacionais das Nações Unidas – a ONU calcula que um terço do que se produz no mundo não chega à mesa e, quando chega, vira lixo e não adubo. O Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam comida no mundo. Os 158 mil moradores de Lages, por exemplo, jogam fora, todos os meses, cerca de 800 toneladas de restos de comida. Ou melhor, jogavam.
“Desde que bem utilizado e na dosagem certa, o chorume pode virar ouro”, defende Germano Güntter, engenheiro agrônomo e professor da Universidade do Estado de Santa Catarina. Ele idealizou um sistema que batizou de MCE (minicompostagem ecológica) e, desde que foi implantado, em 2012, está ajudando a mudar os hábitos dos lageanos, especialmente das crianças e dos jovens. As escolas da cidade, num total de 104 delas, implantaram o projeto Lixo Orgânico Zero, replicando a técnica de Güntter. Ele complementa sua explicação: “Se trata de algo simples e barato para fazer com que o lixo orgânico não chegue mais ao aterro sanitário”.
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[/g1_quote]O percentual de resíduos orgânicos jogados no aterro sanitário da cidade caiu para 34%, índice bem abaixo da média nacional, que é de 52%. Iniciado na sala de aula, os alunos foram repassando em casa a educação ambiental recebida na escola e, hoje, 32% dos domicílios fazem compostagem nas suas residências. A Secretaria de Saúde local estima entre 7 a 8 mil pontos de MCEs espalhados pela cidade. O gasto médio por família foi de 30 reais.
A microcompostagem ecológica é a melhor tradução da tese de Lavoisier, de que “na natureza nada se perde, tudo se transforma”. Güntter calcula que Lages economizaria, com adoção do método em todos os domicílios e estabelecimentos comerciais, em torno de R$ 2,6 milhões por ano, valor que a prefeitura gasta na coleta do lixo.
O processo de transformação não dura mais do que 30 dias. Ele começa na cozinha com a separação dos restos de comida, que vão de cascas de frutas a papel toalha usado. Todo esse resíduo vai direto para o canteiro, ou vaso, até atingir uma camada de 20 centímetros sobre a terra. Para evitar moscas, o ideal é cobrir com grama. Por volta do 13º dia, o material em decomposição começa a produzir um conjunto de ácidos húmicos, nutrientes riquíssimos para as plantas.
Desde que o projeto Lixo Orgânico Zero foi implantado nas escolas de Lages, os alimentos da merenda escolar são colhidos na horta da própria escola. A sobra do que é colhido é dividido entre os alunos, que levam para casa hortaliças e até frutas, dependendo da época do ano.
Desculpem comentar, mas o título da matéria não parece corresponder ao texto. Pareceu-me referir a micro compostagem como método de redução de resíduos orgânicos que geram o chorume. Achei muito pouco explícita dos recursos e do método aplicado pelo agrônomo. Acho que o destaque do título compromete a qualidade do conteúdo pela expectativa que gera no leitor.