As Olimpíadas nem começaram, mas há quem já esteja pensando no que virá depois da tocha apagada. Este é o mote da Campanha #Rio2017, capitaneada pela Casa Fluminense e outras 49 entidades do Rio e do Brasil. Lançada oficialmente na terça-feira, dia 26/07, a campanha inclui uma agenda, que elenca propostas para um Rio pós-olímpico em áreas como segurança, mobilidade, saneamento e gestão pública com foco na região metropolitana da cidade. O evento de lançamento contou com a participação de pré-candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro e à Câmara de Vereadores, que assinaram compromisso com as propostas da Casa.
[g1_quote author_name=”José Marcelo Zacchi” author_description=”Coordenador-geral da Casa Fluminense” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Dois milhões de pessoas deixam seus municípios de residência diariamente para lazer, estudo e trabalho nas áreas privilegiadas da capital. É o equivalente a um réveillon por dia.
[/g1_quote]Criada em 1974 na junção dos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, a região metropolitana do Rio inclui 21 municípios, atualmente com 12 milhões de habitantes. Mas, aos olhos da CasaFluminense, organização que articula atores da sociedade civil de todo o Rio de Janeiro, trata-se de uma cidade só, que compartilha entre si meios de transporte, serviços públicos, oportunidades e desafios. E é por esta visão integrada que a instituição vem batalhando desde sua fundação, em 2013.
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Veja o que já enviamos“Nossa proposta é a de pensarmos além do eixo central da capital, que historicamente pautou o debate da agenda pública”, explica José Marcelo Zacchi, coordenador-geral da Casa Fluminense. Multiplicar centros, ampliando oportunidades de trabalho, lazer e acesso a serviços está entre os pontos prioritários do debate. São propostas a criação de uma agência permanente de gestão compartilhada da metrópole e a articulação entre os planos diretores e municipais em temas como mobilidade urbana, saneamento básico, gestão de resíduos sólidos, mudanças climáticas e políticas de regulação do uso do solo.
Estão na Agenda propostas para a retomada de políticas de urbanização e integração de favelas que superem os fracassos do programa de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), a recuperação da malha de trens metropolitana e a criação de um plano de redução de homicídios na Baixada Fluminense. Em 2015, a região registrou taxa de 45,4 vítimas de morte violenta para cada 100 mil habitantes – no município do Rio a taxa é de 24,1 mortos por 100 mil. Jovens negros e moradores de periferia correspondem a 3/4 deste índice.
A desigualdade de renda da região também é gritante: As taxas de pobreza na Baixada são duas vezes maiores do que as da faixa litorânea da capital a Maricá. Em Niterói, a renda média é quase cinco vezes maior que a de Japeri. Quando o assunto é saneamento, Japeri também encabeça a lista. Junto com Nilópolis e Queimados, está entre os três municípios onde não há nenhum tipo de infraestrutura de esgotamento sanitário em funcionamento. Do total, apenas 1/3 da população da metrópole, o correspondente à 34% dos habitantes dos 21 municípios, têm seus domicílios conectados à rede de coleta e tratamento de esgoto.
O cidadão fluminense ostenta ainda posições altas em rankings desfavoráveis. É o terceiro maior produtor de lixo do país: São 1,31 kg por dia, perdendo apenas para paulistas (1,38kg/dia) e brasilienses (1,55 kg/dia). Até 2013, no município do Rio, somente 3% do lixo era reciclado. Somos também os campeões de desperdício de água do Brasil, segundo dados da Casa Fluminense. “A gente perde oportunidades imensas de nos posicionarmos como uma cidade do século XXI. Poucas no mundo têm tanta vocação para isto quanto o Rio de Janeiro”, lamenta José Marcelo.
A máfia nossa de cada dia
No tema mobilidade urbana, o Rio de Janeiro sai no frente do atraso. É a metrópole com maior tempo diário de deslocamento casa-trabalho no país, aparecendo entre os maiores do mundo. “Dois milhões de pessoas deixam seus municípios de residência diariamente para lazer, estudo e trabalho nas áreas privilegiadas da capital. É o equivalente a um réveillon por dia”, diz José Marcelo. De novo, Japeri lidera. Com uma media de deslocamento de 2 horas no trajeto cotidiano de sua população, é considerado o pior índice do mundo.
Ônibus apareceu como tema sensível na fala dos pré-candidatos à Prefeitura do Rio presentes no evento. O deputado federal Alessandro Molon (Rede) ressaltou seu compromisso “com uma cidade que não seja refém de empresas de ônibus”, enquanto o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) lembrou que 3,4 milhões de pessoas – o equivalente à população do Uruguai – entram nos ônibus da cidade do Rio de Janeiro por dia. “E ninguém nunca viu uma planilha de custos das empresas, ninguém sabe como se calcula a tarifa. A Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro) faz o que quer na cidade, porque financia campanhas e elege governadores, prefeitos e vereadores”, acusou Freixo.
Além dos dois pré-candidatos, Carlos Osório (PSDB) e representantes de Crivella (PRB), Índio da Costa (PSD) e Carmen Miguelis (Partido Novo) assinaram uma Declaração de Compromisso proposta pela Casa Fluminense, comprometendo-se com a agenda da campanha, com a criação de um plano de metas para seus programas de governo e a primar por uma gestão aberta, ética, participativa e transparente. A agenda seguirá agora para o debate com pré-candidatos às prefeituras de São Gonçalo, Duque de Caxias e Nova Iguaçu e seus vereadores.
Entre os parceiros da Casa Fluminense estão o Instituto Ethos, os Observatório das Favelas e da Metrópole, Meu Rio, o Programa Cidades Sustentáveis e diversas organizações da Baixada Fluminense.