As pessoas estão vivendo mais onde menos se espera

Níger, Nicarágua, Costa Rica e Peru estão entre os países que superaram expectativa de vida

Por Adriana Barsotti | ODS 8 • Publicada em 23 de outubro de 2017 - 21:03 • Atualizada em 20 de maio de 2024 - 13:43

Crianças na Nicarágua/ Foto: Leroy Francis/ Hemis
Crianças na Nicarágua: população está vivendo 7,8 anos a mais que o esperado/Foto: Leroy Francis /Hemis
Crianças na Nicarágua: população está vivendo 7,8 anos a mais que o esperado/Foto: Leroy Francis /Hemis

Pergunte a qualquer pessoa onde as pessoas vivem mais e a resposta será nos países mais ricos, como no Japão e na Suíça, onde a expectativa de vida excede os 83 anos. Entretanto, um novo estudo, que reúne dados de 195 países, trouxe algumas surpresas. Níger, Nicarágua, Costa Rica e Peru figuram entre os azarões. Nesses países, a longevidade superou muito a estimada pelas estatísticas oficiais nas últimas décadas.

No Níger e na Nicarágua, vive-se mais 7,8 anos do que o previsto pelas estimativas. Na Costa Rica e no Peru, mais 6,8 e 6,7 anos do que o esperado. Em quarto lugar, empatados, estão as Maldivas, os territórios palestinos, o Sudão do Sul. Nesses locais, a diferença entre a expectativa de vida estimada e a observada atingiu 6,1 anos. Em quinto, está a Gâmbia, com mais 5,6 anos.

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A expectativa de vida  é o número médio de anos de vida que indivíduos de determinada idade viverão, assumindo que as taxas de mortalidade permanecerão as mesmas ao longo da vida do grupo pertencente àquela faixa etária. É importante ressalvar, entretanto, que, dos oito países e territórios acima mencionados, três ainda registram uma longevidade abaixo da expectativa de vida mundial, que era de 71, 4 anos em 2015. No Sudão do Sul, no Níger e na Gâmbia, vive-se, em média, 59,7 anos, 61,7 e 67, 3 anos. No Brasil, para efeito de comparação, a expectativa de vida é de 75, 5 anos, segundo o IBGE.

No extremo oposto, as populações da Groenlândia, Indonésia, Rússia e de alguns estados dos EUA, como o Mississipi, estão vivendo menos do que o esperado. Entre as possíveis explicações, estariam o aumento da taxa de suicídios, o consumo de drogas e a Aids. O estudo, conduzido pelo economista Christopher Murray, do Instituto para Métricas de Saúde e Avaliação da Universidade de Washington, não teve o propósito de investigar as razões por trás dos números, mas fornece algumas pistas.

No Níger, assim como na Nicarágua, pessoas estão vivendo mais 7,8 anos. Foto: Didier Bergounhoux/ Photononstop

No Níger, na década de 1990, mais de uma em cada quatro crianças morria até os 5 anos . Em 2012, a mortalidade infantil tinha caído 13%. Em 2006, o governo instituiu um programa de atendimento de assistência médica gratuita para crianças e mães e treinou mais assistentes de saúde comunitários. Em 1980, a expectativa no Níger era de apenas 39 anos. Em 2016, ela superava em quase oito anos a de um país com seu nível de riqueza em relação ao que foi estimado. Mas não é apenas a riqueza que influencia a mortalidade. As pessoas também vivem mais quando têm menos filhos e recebem mais educação. Por isso, o estudo rejeita o PIB em favor da adoção de uma medida chamada Índice Sociodemográfico (SDI), que permite conjugar a riqueza, a fertilidade e a educação. Porém, é bom lembrar que, embora a expectativa de vida venha aumentando, a longevidade quase sempre esbarra no teto de 115 anos.

Costa Rica: no país, vive-se, em média, 81 anos: razão seria hábitos mais saudáveis/ Foto: Gardel Bertrand/Hemis

Os pesquisadores estavam particularmente interessados na lista de países bem sucedidos, pois as medidas adotadas por eles poderiam oferecer insights para outros com características semelhantes. No caso da Costa Rica,  o segredo do aumento da longevidade estaria nos hábitos mais saudáveis. No Peru, houve muitos investimentos do governo para reduzir a subnutrição de crianças. Nos países africanos que apresentaram desempenho melhor do que o esperado em termos de expectativa de vida, houve a extensão de programas de prevenção ao HIV.

Adriana Barsotti

É jornalista com experiência nas redações de O Estado de S.Paulo, IstoÉ e O Globo, onde ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo com a série de reportagens “A história secreta da Guerrilha do Araguaia”. Pelo #Colabora, foi vencedora do Prêmio Vladimir Herzog, em 2019, na categoria multimídia, com a série "Sem Direitos: o rosto da exclusão social no Brasil", em um pool jornalístico com a Amazônia Real e a Ponte Jornalismo. Professora Adjunta do Instituto de Arte e Comunicação Social (Iacs), na Universidade Federal Fluminense (UFF), é autora dos livros “Jornalista em mutação: do cão de guarda ao mobilizador de audiência” e "Uma história da primeira página: do grito no papel ao silêncio no jornalismo em rede". É colaboradora no #Colabora e acredita (muito!) no futuro da profissão.

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