Cinco lições de 2018 para os jornalistas

O mundo mudou, e muito. Não se fazem mais futuros como antigamente

Por Marcelo Kischinhevsky | ODS 8 • Publicada em 27 de dezembro de 2018 - 10:31 • Atualizada em 24 de setembro de 2022 - 18:09

Pronunciamento de Jair Bolsonaro, após a vitória, feito através do Facebook. Presidente eleito evita a intermediação da imprensa. Foto Fábio Teixeira/Anadolu Agency

Virou lugar comum nas mídias sociais dizer que 2018 não merece uma retrospectiva, mas sim uma série no Netflix, daquelas dignas de maratona. Foram tantas reviravoltas políticas que qualquer roteirista ficaria constrangido de pôr no papel algo remotamente parecido numa trama ficcional. Mas 2018 não foi apenas o ano em que a extrema-direita chegou ao poder, amparada por uma matilha com dentes afiados e de interesses variados – ruralistas e empresários escravocratas, desmatadores, machistas, racistas, homofóbicos, evangélicos fundamentalistas, lobistas da indústria de armas, viúvas da ditadura. O ano trouxe importantes lições para os jornalistas, que, em sua maioria, parecem desatentos em sala de aula. Correndo risco de soar esquemático, mas numa tentativa de evitar que os coleguinhas repitam o ano, vamos a elas:

Lição 1: ecossistema midiático paralelo se consolida

A extrema-direita foi hábil em construir um ambiente midiático paralelo ao dos grandes grupos de comunicação. Esse processo começou em 2013, quando milhões de brasileiros foram às ruas “contra tudo isso que está aí” e tiveram sua raiva capitalizada por movimentos como “Vem pra Rua” e “Movimento Brasil Livre”. Esse novo ecossistema seguiu uma receita internacional, muito empregada na eleição nos EUA em 2016. Não é coincidência que Stephen K. Bannon, presidente do site de notícias Breitbart News, popular entre os reacionários norte-americanos, tenha assumido cargo-chave na campanha de Donald Trump e, depois, conduzido à função de estrategista-chefe da Casa Branca.

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O Breitbart consagrou a expressão “alt-right”, ou direita alternativa, um eufemismo para o que pode ser classificado pela esmagadora maioria de cientistas políticos como extrema-direita. Não por acaso Bannon, depois de rapidamente cair em desgraça com Trump, se tornou um consultor requisitado em campanhas de ultraconservadores mundo afora. Em agosto de 2018, se reuniu com Eduardo Bolsonaro, filho do agora presidente eleito e futuro deputado federal, oferecendo-se como “conselheiro informal”.

Durante a campanha eleitoral, o canal de Jair Bolsonaro no YouTube divulgou postagem replicada nas mídias sociais e nos aplicativos de mensagens instantâneas que mostra a ambição de consolidar esse ambiente midiático paralelo, no grito: “VAMOS QUEBRAR AS PERNAS DA GRANDE MÍDIA!!! ABAIXO TEM UMA LISTA DE MÍDIAS ALTERNATIVAS DE QUALIDADE. CURTAM E REPASSEM PARA OS GRUPOS QUE PARTICIPAM E SE INSCREVAM!!!!”

A lista continha apenas canais no YouTube e páginas de Facebook, sendo encabeçada pelo próprio Jair Bolsonaro Oficial, seguido por O Antagonista, Reaçonaria (autointitulado “O Maior Portal Conservador do Brasil”), a agora deputada eleita Joice Hasselmann (a mesma que verbalizou em vídeo a inverossímil informação de que a revista Veja teria recebido R$ 600 milhões para “derrubar” a candidatura de Bolsonaro), Brasil Paralelo, Folha Política e o indescritível Olavo de Carvalho. A postagem terminava conclamando a “ESPALHAR CONHECIMENTO” e afirmando que era preciso “INFORMAÇÃO DE QUALIDADE PARA AJUDAR NOSSO PAÍS A SAIR DA LAMA”. Claro, tudo em maiúsculas, seguido de um placar em que, de um lado, estava um ícone da bandeira do Brasil e, do outro, ícones de TV e antena parabólica, acompanhados da expressão “IMPRENSA MANIPULADORA ESQUERDISTA!!!”.

Se pensarmos de forma mais ampla, essa mídia de extrema-direita tem raízes na mídia de referência, que historicamente foi pródiga em alimentar o antipetismo e o temor de um governo de esquerda que nunca veio – nem com a social-democracia oportunista de Fernando Henrique Cardoso, nem com a coalizão estilo saco-de-gatos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Joice Hasselmann foi jornalista da Veja, assim como vários dos criadores de O Antagonista. Além disso, a indignação, o medo e a raiva contra “tudo isso que está aí” já eram capitalizadas há décadas pelos apresentadores de programas populares de TV, vociferando contra a bandidagem e arrotando moralismo. José Luiz Datena, apresentador do Brasil Urgente, da Band, e Carlos Massa, o Ratinho, do SBT, estiveram entre os primeiros entrevistadores de Bolsonaro na campanha, num momento em que o ex-capitão ainda patinava nas pesquisas, ofuscado pela liderança de Lula nas intenções de voto.

Não sabemos se esse novo ambiente midiático reacionário será sustentável, mas é certo que, aproveitando-se da lógica de caça-cliques, está angariando audiência expressiva na internet. Enquanto isso, a imprensa tradicional vai mal das pernas. Veja foi vendida a preço simbólico a um especialista em recuperar empresas quebradas, como a Casa & Vídeo. O negócio irritou jornalistas demitidos, a quem a Editora Abril deve mais de R$ 110 milhões em indenizações – a família Civita manteve intacto seu bilionário patrimônio ao pedir recuperação judicial. O Globo, Folha de S.Paulo e Estado de S. Paulo têm promovido demissões sistemáticas, testando os limites da redução de suas equipes. Isso nos leva a…

Bolsonaro dá entrevista aos jornalistas do programa Roda Viva, meses antes de assumir a liderança das pesquisas. Foto Suamy Beydoun/AGIF
Bolsonaro dá entrevista aos jornalistas do programa Roda Viva, meses antes de assumir a liderança das pesquisas. Foto Suamy Beydoun/AGIF

Lição 2: o modelo de negócios tradicional da imprensa já era

Não é sequer aceitável tentar usar as mesmas armas da mídia de extrema-direita, que lança mão de iscas para atrair leitores (títulos do tipo “Foi tomar um banho de mar e olha o que aconteceu”), memes, vídeos com denúncias apócrifas a adversários políticos e até imagens explícitas de supostos criminosos mortos pela polícia ou sendo linchados.

Na prática, essa mídia reacionária segue a gramática de determinados veículos populares, sobretudo aquela imprensa tachada de sensacionalista, do tipo que nos anos 1950 a 1980 era chamada de “espreme-sai-sangue” e que, a partir dos anos 1990, é denominada jocosamente de BBB (“bola, bala e bunda”, uma referência ao futebol, à cobertura de crimes e à exploração dos corpos de mulheres em ensaios sensuais).

Na verdade, essa disputa entre jornalismo informativo e de entretenimento vem de séculos, tendo celebrizado expressões como “imprensa marrom” (nos EUA, “yellow press” ou “penny press”).

O que o jornalismo dito “de qualidade” e o jornalismo popular têm em comum? Ambos abusaram de um modelo de negócios desgastado, financiado pela publicidade de massa, que, com a internet, migrou maciçamente para os portais de comércio eletrônico e de infotenimento (essa palavra feia, que sela o casamento sem amor entre informação e entretenimento).

Por isso, a imprensa escrita é mais afetada. Empresas preferem anunciar, sob medida, na internet, até acabarem seus estoques, a ficar presa a contratos longos, para marcar presença em páginas e páginas de papel, com resultado muito mais difícil de quantificar. As métricas on-line podem ser enganosas, mas parecem mais confiáveis que os relatórios de marketing de jornais e revistas.

Se os anunciantes já vinham sumindo, que dizer então dos leitores? As tiragens sempre foram ínfimas para o tamanho do país, mas minguaram ainda mais. Jornais e revistas investiram em websites, mas, seguindo questionáveis gurus da convergência midiática, acabaram fechando seus conteúdos, impondo paywalls e cadastros pouco amigáveis. Resultado: na campanha eleitoral, o circuito da mídia reacionária seguia a lógica do compartilhamento, da mobilização nas redes sociais, levando tráfego para sites abertos – ainda que oferecendo conteúdo de qualidade deplorável, descumprindo critérios elementares da atividade jornalística; enquanto isso, a imprensa tradicional desmentia os boatos com links nas mídias sociais que levavam a… sites que exigem cadastro e limitam o número de reportagens a serem lidas por mês!

Limitar a leitura a assinantes é um desastre para a imprensa e só a tornou menos relevante. Por isso, milhões de brasileiros dizem se informar através do Facebook, do WhatsApp e do YouTube, sem se mostrarem capazes sequer de reconhecer as fontes das notícias. Na internet, o que se rentabiliza é tráfego, nunca assinaturas. Sites informativos devem ter acesso livre, cobrando apenas por serviços premium, reservados a assinantes segmentados, específicos, de maior poder aquisitivo.

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Na campanha eleitoral, o circuito da mídia reacionária seguia a lógica do compartilhamento, da mobilização nas redes sociais, levando tráfego para sites abertos – ainda que oferecendo conteúdo de qualidade deplorável, descumprindo critérios elementares da atividade jornalística; enquanto isso, a imprensa tradicional desmentia os boatos com links nas mídias sociais que levavam a… sites que exigem cadastro e limitam o número de reportagens a serem lidas por mês!

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O brasileiro de renda mais baixa, que sempre foi ignorado e tratado como estatística pela mídia de referência, já se ressentia há décadas. Agora, com as dificuldades para acessar conteúdos, fica ainda mais irritado e cai nos braços da mídia caça-cliques de extrema-direita, que retrabalha notícias disponíveis nas agências e as reenquadra com um viés reacionário, conservador, não raro totalmente falso.

Não adianta investir em serviços de checagem de fatos e ficar correndo atrás dos boatos mais malucos para rebatê-los, sem que a população em geral tenha acesso ao outro lado.

Aliás, é preciso criminalizar as mentiras, acionando a Justiça e a Polícia contra quem as espalha, denunciando os mentirosos às plataformas e processando-as se não tomarem providências. Não basta cobrir quando alguém atingido processa seus detratores. A imprensa virou alvo e tem que reagir com as armas adequadas. Se não, vira bate-boca, em que, aos olhos do público, ganha quem grita mais alto.

Lição 3: o jornalista perdeu prestígio

E a culpa é sobretudo daqueles que sempre tiveram nariz em pé e desdenharam do que acontecia nas ruas, nas favelas, nos subúrbios, no interior. O jornalista, assim como o artista e o professor, virou alvo fácil da extrema-direita, que acusa todos, indiscriminadamente, de esquerdistas, comunistas, corruptos. Segundo a organização não-governamental Repórteres sem Fronteiras, o ódio aos jornalistas cresceu em todo o mundo. Ser jornalista não apenas perdeu o glamour: virou atividade de risco. Dados parciais da ONG Repórteres sem Fronteiras divulgados em 17 de dezembro mostram que o Brasil foi o 8º país onde mais jornalistas foram mortos em 2018. O Brasil ocupava o 102º posto, entre 180 países, no ranking de liberdade de imprensa da ONG divulgado em abril, oferecendo “um ambiente de trabalho cada vez mais instável”.

É sintomático que Bolsonaro, em início de campanha, tenha se submetido a sabatinas em emissoras de TV e depois se recusado a participar de debates com seus adversários, sob alegação de restrições médicas, após a facada que levou em Juiz de Fora (MG). Na GloboNews, se atrapalhou todo e foi incapaz de citar um único imposto que poderia ser extinto em seu governo pseudo-liberal. Na TV Globo, fez Willian Bonner de pateta ao descumprir regras previamente acertadas para a sabatina e exibir livro que supostamente teria sido comprado pelo Ministério da Educação e que incentivaria a homossexualidade.

De nada adianta, depois, fazer matéria mostrando que o livro jamais foi comprado pelo ministério, nem faz propaganda de qualquer orientação sexual. O trecho em que o agora presidente brande o livro acuando Bonner estava talhado para ser editado e compartilhado em mídias sociais como “prova” de que a imprensa e o Partido dos Trabalhadores, alvo prioritário da extrema-direita, estavam sendo “desmascarados” em rede nacional.

A imprensa se omitiu em diversos momentos-chave ao longo de 2018, talvez com a intenção de não incendiar pontes com um futuro governo que poderia ser hostil na gestão das verbas de publicidade oficial. Sabatinado na GloboNews, o candidato a vice de Bolsonaro, o general da reserva Hamilton Mourão, elogiou o notório torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra e disse que “na guerra, se mata”. A bancada – composta por vítimas da ditadura como os jornalistas Fernando Gabeira e Miriam Leitão – desconversou.

Jornalistas, que nos anos 1970 e 1980 sofriam da síndrome de Clark Kent, querendo mudar o mundo e vocalizar o interesse público, dando voz aos fracos e oprimidos, se apequenaram, se sujeitaram a desconfortos e humilhações antes impensáveis. Claro, isso também se deve ao fato de que vozes dissonantes na imprensa foram sendo gradativamente demitidas ao longo dos anos. As redações passaram a contar com poucas “cabeças brancas” e muitos jovens mal remunerados e com formação deficiente. Os mais experientes que restaram, em alguma medida, estão afinados com linhas editoriais mercenárias, que oscilam ao sabor das relações entre grupos de comunicação e governantes de ocasião. É sintomático que o apresentador e editor-chefe do telejornal de maior audiência do país seja formado em publicidade.

Nos EUA, Trump acusa a mídia de referência de disseminar fake news, rebatendo na mesma moeda as críticas à mídia de extrema-direita que o apoiou. O presidente americano estimula o ódio aos jornalistas, a quem chama – curiosamente, parafraseando o ditador soviético Josef Stálin – de “traidores da pátria”. No Brasil, a tropa bolsonarista parece ir na mesma direção. O desprezo do novo presidente pela imprensa, em evidente imitação do trumpismo, se explicita pelo uso do Twitter para pronunciamentos públicos (prescindindo da mediação jornalística), pela falta de uma assessoria de imprensa e pela forma deliberadamente improvisada com que atende repórteres, uma demonstração de que a categoria não merece seu respeito. As imagens da entrevista coletiva da vitória no segundo turno das eleições, com microfones de emissoras de TV empilhados sobre uma prancha de morey boogie em seu apartamento na Barra da Tijuca, é exemplar dessa estratégia de depreciação da mídia tradicional e, simultaneamente, uma afirmação de Bolsonaro como uma pessoa “autêntica”, que “incomoda a Rede Globo” (para usar a expressão que ouvi de um professor universitário eleitor do ex-capitão).

Jornalistas precisam, em 2019, recuperar a capacidade de se indignar e de se contrapor à mentira com firmeza e sem soberba. Caso contrário, o jornalismo, como uma instituição socialmente construída, terá seu papel de mediador ainda mais esvaziado. E as pedras vão ser cada vez mais atiradas contra repórteres e cinegrafistas em grandes coberturas, afastando-os, de forma irreconciliável, dos acontecimentos nas ruas.

Lição 4: imprensa precisa se posicionar

Não é possível ser objetivo e imparcial, um mito alimentado por parte da imprensa de elite norte-americana há um século e reproduzido por grandes veículos brasileiros. Há lobbies poderosos, aptos a traçar estratégias de desinformação e relações públicas para fazer com que qualquer barbaridade seja vista como “polêmica” ou “controvérsia”. Nos anos 1950, a indústria do tabaco surfou nessa lógica ao patrocinar megaestruturas de assessoria de comunicação que se contrapunham a todo estudo divulgado que apontasse os malefícios do cigarro. Resultado: a cada pesquisa que relacionava o fumo ao câncer, outra era apresentada por “cientistas” patrocinados, sustentando que os resultados eram inconclusivos.

Não cabe à imprensa ser imparcial, mas é possível, sim, ser equilibrado, reconhecendo as desigualdades de acesso das diferentes fontes de informação aos meios de comunicação. Poderosos interesses sempre terão ex-jornalistas contratados como assessores de imprensa, para oferecer pautas exclusivas que funcionam, muitas vezes, como cortina de fumaça ao que realmente é do interesse público.

Quando a imprensa se omitiu, posando de isenta numa disputa eleitoral em que um dos lados claramente representava ameaças aos direitos de minorias e populações marginalizadas, o recado à esquerda foi claro. Não se pode confiar nela. A imprensa não é quarto poder, é um negócio, que precisa ser sustentável. Não se joga contra os próprios interesses, é certo, mas muitos gestores esquecem que a credibilidade dos veículos é fator decisivo na equação. Se não for buscado um equilíbrio na cobertura, a credibilidade vai embora. Leitores, telespectadores, ouvintes, internautas têm muitas opções para se informar. Ou o jornalismo estabelece um vínculo, posicionando-se contra o arbítrio, ou a audiência se irrita e parte para outra. É assim, aliás, na maioria dos países desenvolvidos: jornais declaram voto neste ou naquele candidato, expondo suas razões, logo no início da campanha. Assim, ninguém se sente enganado no dia a dia, nem pode acusar determinado veículo de ser venal.

Foram inúmeros os veículos da grande imprensa internacional que produziram reportagens sobre os riscos que Bolsonaro trazia à democracia brasileira. Aqui, no entanto, em nome da cobertura imparcial, fazia-se de conta que tínhamos uma eleição polarizada entre “dois extremos”, como se o PT ainda carregasse bandeiras estatizantes dos anos 1980 e 1990.

Não por acaso, o “isentão”, simbolizado pelo voto nulo e o gesto de Pôncio Pilatos de lavar as mãos diante da disputa, foi um personagem muito atacado nas mídias sociais por gente de todos os matizes políticos. Colunistas que exerceram seu dever de oferecer opinião independente à população e se posicionaram contra o risco do fascismo foram sumariamente dispensados.

A grande imprensa “isentona” agora vai pagar o preço em perda de credibilidade, com reflexos consideráveis em seus negócios. Não adianta, por exemplo, a Folha de S.Paulo publicar denúncia de caixa dois na campanha de Bolsonaro, mediante pagamento por empresários de milhões de compartilhamentos de notícias em grupos de WhattsApp, se, às vésperas do primeiro turno da campanha, o jornal proibiu a redação de classificar Bolsonaro como candidato da “extrema-direita” – isso depois de o ex-capitão ter defendido o “fuzilamento” de “petralhas” em ato de campanha televisionado no Acre. Não dá para se acender uma vela para Deus e outra pro diabo impunemente.

Lição 5: o jornalismo das bordas precisa ganhar protagonismo

Ao longo do ano, iniciativas de jornalismo independente como #Colabora, Agência Pública, Nexo Jornal, Poder360, Outras Palavras, Ponte Jornalismo e outros se afirmaram como atores com potencial para renovar e arejar as práticas profissionais. Não se vai reinventar o jornalismo negando-o. É preciso inovar, adotar novas lógicas, alimentar-se do que vem das redes para exercitar a escuta e o diálogo, não para pautar aquela matéria que já circulou no Facebook e foi visualizada por milhões de pessoas.

Não há mais jornalismo de cima para baixo, que se afirma como “a” verdade. Há muitas formas de se fazer e consumir jornalismo, em múltiplas plataformas. O que ficou claro, em 2018, é que o jornalismo – profissional e ativista ou cidadão (ou qualquer outro nome que se dê às novas práticas) – precisa exercer seu papel de mediação social em outro patamar, investindo em qualidade da informação tanto quanto em sua circulação e consumo.

Nesse sentido, é preciso buscar a sustentabilidade de mídias realmente alternativas, através de financiamentos coletivos e de patrocínios de entidades e empresas comprometidas com responsabilidade social. Cada um deve ter o compromisso de apoiar iniciativas independentes, assim como rádios e TVs universitárias, comunitárias, educativas, livres, portais colaborativos, reafirmando a importância e o caráter transformador de um jornalismo equilibrado, de qualidade e comprometido com a diversidade e a pluralidade de ideias. Com a enorme quantidade de bons jornalistas desempregados por expressarem suas opiniões políticas, dá para se montar vários timaços – seja em redações convencionais, seja em projetos inovadores.

A bola agora está com os coleguinhas. Não adianta ficar rolando pelo gramado, como Neymar, reclamando das caneladas do adversário. É o jogo jogado e, com certeza, será ainda mais duro daqui pra frente.

Que 2019 seja um ano não só de muita luta pelo direito à informação de qualidade, mas também de reafirmação da independência do jornalismo como uma das grandes conquistas democráticas.

Marcelo Kischinhevsky

Professor do Núcleo de Rádio e TV da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGCOM/UERJ), é doutor e mestre pela Escola de Comunicação da UFRJ, onde também se formou em Jornalismo. Autor de livros como Rádio e mídias sociais (Ed. Mauad X), trabalhou em veículos como Jornal do Brasil e O Dia ao longo de 15 anos.

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Um comentário em “Cinco lições de 2018 para os jornalistas

  1. Carlos Mauro disse:

    Excelente texto, Kishiba! Parabéns! O jornalismo precisa muito de reflexões como a sua para se reinventar e fazer diferença no campo político e na vida dos brasileiros. Saudades do início dos anos 1990. Grande abraço!

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