Poluição de rios afeta 5 bilhões

Degradação das águas não é um 'privilégio' dos cariocas

Por The Conversation | ArtigoODS 6 • Publicada em 12 de agosto de 2016 - 09:23 • Atualizada em 14 de agosto de 2016 - 14:43

Poluição nas águas da Baía de Guanabara. Foto de Yasuyoshi Chiba/ AFP
Qualidade da água da Baía de Guanabara tem níveis semelhantes ao de esgotos sem tratamento
Qualidade da água da Baía de Guanabara tem níveis semelhantes ao de esgotos sem tratamento

(Joan Rose*) – Enquanto os atletas da vela e do remo da Rio 2016 competem nas polêmicas e poluídas águas da Baía de Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas, respectivamente, é bom destacar que os problemas do Brasil com águas usadas está longe de ser exclusividade do país. A qualidade da água de lagos, rios e áreas costeiras em todo o mundo piora num ritmo alarmante. A poluição dos dez maiores rios da Terra é tão significativa que afeta cinco bilhões de pessoas.

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Em todo o mundo, os que nadam, andam de barco ou usam águas poluídas para fins de higiene, como tomar banho, lavar roupas, lavar pratos ou mesmo para fins religiosos, estão todos expostos aos riscos de diarreia, doenças respiratórias e infecções de pele, olhos, ouvidos e nariz. Esta é a triste realidade para muitas pessoas.

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Globalmente, o desafio de implantar novos testes e tratamento da água é imenso. Nos últimos 60 anos, tivemos uma grande aceleração no crescimento da população. Isto, combinado à falta de tratamento do esgoto e a uma infraestrutura decadente, causou uma contínua degradação da qualidade da água, como demonstram a proliferação de algas tóxicas e a contaminação fecal, que causam riscos microbiológicos. Um dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, da ONU, é “acesso a melhores condições de saneamento”.

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Em todo o mundo, precisam de revisão urgente as exigências legais sobre a qualidade da água destinada a recreação, devido ao crescimento dos patogênicos em águas residuais. O esgoto contém acima de cem diferente vírus (adenovírus, astrovírus, coxsackievírus, enterovírus, norovírus e rotavírus), entre outros patogênicos, como os protozoários entéricos (Cryptosporidium). Novos vírus, tais como os ciclovírus, que causam problemas neurológicos em crianças na Ásia, também estão sendo encontrados no esgoto. Assim, as largas concentrações de adenovírus encontradas no Brasil são provavelmente apenas a ponta do iceberg.

O número de adenovírus encontrado no Rio está na faixa de 26 milhões a 1,8 bilhão por litro, níveis iguais aos de esgoto sem tratamento. Não se sabe o número de vírus vivos, mas 90% das amostras de fato continham alguns deles.

Adenovírus foram detectados também em águas residuais nos EUA, numa ameaça à saúde pública. Nossos estudos em Chicago mostraram que 65% do sistema da Chicago Area Waterways, que recebe águas usadas tratadas, deram resultado positivo para adenovírus, com concentrações de 2.600 vírus por litro nos canais e 110 vírus nas praias. Cerca de 4% das pessoas que usaram essas águas para andar de barco e pescar ficaram doentes, o que reforça a necessidade de novos métodos para teste e tratamento.

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O que precisa ser dito claramente é que o teste para determinar a presença da bactéria E.coli não funciona para vírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS), a agência de proteção ambiental dos EUA (EPA), a União Européia e a comunidade científica sabem há décadas das deficiências do teste indicador da E.coli, mas pouco foi feito para melhorar a situação.

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Em todo o mundo, os que nadam, andam de barco ou usam águas poluídas para fins de higiene, como tomar banho, lavar roupas, lavar pratos ou mesmo para fins religiosos, estão todos expostos aos riscos de diarreia, doenças respiratórias e infecções de pele, olhos, ouvidos e nariz. Esta é a triste realidade para muitas pessoas. E é preciso levar em conta os riscos associados à irrigação de lavouras com águas poluídas e seu uso tanto para humanos quanto para animais.

O que precisa ser dito claramente é que o teste para determinar a presença da bactéria E.coli não funciona para vírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS), a agência de proteção ambiental dos EUA (EPA), a União Européia e a comunidade científica sabem há décadas das deficiências do teste indicador da E.coli, mas pouco foi feito para melhorar a situação.

Até onde sei, muitas agências governamentais e mesmo grandes organizações sem fins lucrativos, como a Fundação Gates, não estão a par dessas limitações. Novos testes moleculares podem detectar vírus vivos e mortos. Adenovírus, por exemplo, foram encontrados em esgotos em todo o mundo.  Se adequados tratamentos e métodos de desinfecção forem usados, essa contaminação pode ser reduzida a níveis não detectáveis.

*Joan Rose é diretor do Laboratório de Pesquisas sobre Água da Universidade Estadual de Michigan, EUA.

(Tradução: Trajano de Moraes)

The Conversation

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