Em seu amplo apartamento localizado no Centro de São Paulo, onde vive com o companheiro e suas duas cachorras, João Silvério Trevisan nos recebe para aquela que seria a última entrevista da série “LGBT+60: Corpos que Resistem”. Com a agenda cheia, remarcamos algumas vezes o encontro. Além de participações em seminários, João, que é escritor, se ocupava com a reedição do livro “Devassos no paraíso”, obra em que percorre a história da homossexualidade no Brasil da colônia à atualidade.
João também é cineasta, jornalista, dramaturgo, entre outras atividades. Está concorrendo ao prêmio Jabuti de melhor romance pelo livro Pai, pai, de 2017, que narra a difícil relação entre ele e seu pai. Antes da primeira pergunta, Silvério pede desculpas por estar resfriado e com a fala um pouco comprometida.
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Veja o que já enviamos“Tive uma infância muito difícil e não gostaria de, em hipótese alguma, voltar para lá. Eu tinha muito medo do meu pai e eu não conseguia entender por que eu apanhava tanto”, conta. Só mais tarde, ele viria a descobrir que o que o incomodava era o fato de o filho ser caracterizado como “maricas. “Eu não era o macho que ele esperava”.
Durante a conversa, João ainda recorda os 10 anos em que passou por dois seminários. Foi a saída encontrada para fugir da violência paterna. Na ditadura militar, mudou-se para o exterior (México e Estados Unidos) em exílio voluntário. Ao retornar para o Brasil, funda o Jornal Lampião, publicação de resistência durante os anos de censura promovida pelo golpe.
Foram quase 40 minutos de conversa. Por conta de toda sua pesquisa sobre homossexualidade, João tem muito o que falar sobre os mais diversos assuntos. Entre eles, a chegada da terceira idade. “O medo de envelhecer é muito pior dentro da comunidade LGBT por conta do medo da solidão”, acredita.
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Fica triste ao saber que o vídeo final teria não mais do que 10 minutos. Pede a gravação completa para deixar em seus arquivos. Terminada a entrevista, me despeço e espero o Uber na porta do prédio. Minutos depois, desce Trevisan. Ele se despede novamente. Atravessa a rua correndo, afinal o sinal acabara de abrir. O pique nem de longe lembra uma pessoa de 74 anos. João Silvério é um resistente.
Aproveito para relembrar o que ele disse ao final da gravação: “Eu acho que entre mortos e feridos, nós estamos vivos. E não apenas vivos como sobreviventes zumbis, mas nós estamos bem vivos. E nós fizemos tudo o que fizemos por conta da nossa experiência com a dor”.
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LGBT+60: CORPOS QUE RESISTEM
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As entrevistas são de uma sensibilidade incrível, impossível não ser tocado de alguma forma. Respeito pela história dessas pessoas, aliás histórias que dizem também sobre nós enquanto coletivo. Me acalenta em tempos tão difíceis como os atuais, que exigem mais do que nunca resistência. Gratidão.
Obrigado pelo vídeo (lindo) e pela matéria! João Trevisan é inspiração das grandes. Eminente nesse momento sombrio pra nós.
PS: me junto ao coro dele, queria muito o vídeo completo 🙁
Oie. Sou Kelly Cristina Martins. 38 anos mulher trans e tenho uma historia muito forte pra contar. Sou uma das poucas sobreviventes deste mundo hostil que prega o ódio à diversidade. Se quiserem entre em contato comigo
Nesse quesito, por ter me relacionado muito com Bissexuais, digo que a velhice para maridos é mais desafiadora, porque a solidão, geralmente se torna Irrelevante, frente a realidade feminina pós menopausa: ou se tornam “freezer” ou muito “caliente”, dois extremos ao Homem que passa pela baixa hormonal ou a chamada “segunda adolescência” dos 50 aos 70, a exemplo do homem maduro que venho “conhecendo” melhor! Ele com pouca mais idade que eu: ele aos 60 anos! Como ele é taxista, me dá uma rejuvenescida, quando me leva aos lugares que preciso ir e fica olhando quando desço do carro até me distanciar!