A trajetória e a transição de Denise Taynáh: 74 anos, mulher preta, trans e mãe de sete

A trajetória e a transição de Denise Taynáh: 74 anos, mulher preta, trans e mãe de sete

No segundo episódio de "LGBT+60", a história da carioca que se tornou referência no ativismo social: "Eu sou feliz assim. O meu prazer é estar feminina'.

Por Yuri Alves Fernandes | ODS 16 • Publicada em 23 de janeiro de 2024 - 09:20 • Atualizada em 9 de fevereiro de 2024 - 09:50

A trajetória de vida da carioca Denise Taynáh Leite, hoje com 74 anos, é contada no segundo episódio de “LGBT+60: Corpos que Resistem”, websérie do #Colabora que chegou em sua terceira temporada. A ativista aborda temas como violência familiar, sua relação com o carnaval e a arte, seus sete filhos, além do emocionante momento em que se entendeu mulher. 

Leu essa? Confira todas as histórias da série ‘LGBT+60’

Aos seis anos, Denise já sentia atração por roupas femininas. Sentindo-se culpada, se confessava aos domingos na igreja: “Eu não sabia o que acontecia comigo”. O pai já percebia a diferença de Denise em relação aos outros meninos e a castigava. Um dia ao achar que ela estava “desmunhecando”, pegou o martelo e atingiu sua mão. Até hoje ela não consegue movimentar bem um dos dedos. Assista abaixo. 

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Antes da transição, Denise Taynáh levava uma vida agitada, de bailes, carnaval e futebol. Durante essas décadas, foram sete filhos, cada um com uma mulher. Justamente por ser uma pessoa muito benquista, tinha medo de como seria a reação da família e colegas: “Teve uma época inclusive que eu pensava em suicídio, porque eu não entendia porque eu tinha esse corpo”.

Em 2001, aos 52 anos, Denise se associou ao Brazilian Crossdresser Club. Clube virtual com encontros presenciais anuais. Depois, começou a fazer apresentações homenageando Zezé Motta e Elza Soares na Turma OK, considerado o clube LGBT+ mais antigo do mundo. Mas Denise ainda não existia para as pessoas durante o dia, apenas nos palcos. Foi no final de 2008 que ela toma a decisão de iniciar a transição de gênero. “Eu entendo que eu sou feliz assim. O meu prazer é estar feminina. Hoje, Denise Taynáh é secretária-executiva do Conselho Estadual de Políticas LGBT+ do Estado do Rio de Janeiro e sonha em ajudar que as pessoas tenham mais condições de qualidade de vida.

A série

A premiada websérie do #Colabora “LGBT+60: Corpos que Resistem”, que já soma mais de 2 milhões de views nas plataformas digitais, retorna em sua terceira temporada com cinco novos episódios repletos de histórias inspiradoras que revelam a trajetória de vida e celebrações de brasileiros LGBT+, que vivem a terceira idade em sua plenitude. Os episódios – dirigidos e roteirizados por Yuri Alves Fernandes – contam as nuances e conquistas por trás da vida da ativista Denise Taynáh Leite, de 74 anos; do jornalista Márcio Guerra, de 63 anos; da influenciadora Ana Apocalypse, de 65 anos; da drag queen Luiza Gasparelly, de 60 anos; e do aposentado Seu Franco, de 67 anos. A produção é da Vintepoucos e coprodução da RioFilme. Os episódios já estão disponíveis no nosso canal do YouTube e nas redes sociais

Conheça os outros episódios de ‘LGBT+60’

Episódio 1: Ana Carolina Apocalypse 
Verdadeiro fenômeno na internet, a paulistana Ana Carolina tem mais de 100 mil seguidores e comemora seu aniversário de 65 anos. Ela relata aspectos da sua transição de gênero, realizada a partir dos 59 anos, quando assistiu a novela “A Força do Querer”, que trouxe pela primeira vez à teledramaturgia brasileira um processo de transição. Ana aborda ainda a relação com a filha, o sonho realizado em colocar silicone e sobre o preconceito que sofre no ambiente virtual. “Nunca é tarde para ser feliz”, celebra.

Episódio 3: Márcio Guerra
A história de amor e de coragem do jornalista Márcio Guerra, de 63 anos, nascido e criado em Juiz de Fora, também é um dos destaques da série. Há dois anos, Márcio e o seu companheiro de três décadas, Flávio, adotaram o jovem Phellipe. Hoje, a família vive unida, num ambiente de amor e acolhimento. Além da adoção tardia, Márcio reflete sobre as novas descobertas com a paternidade na terceira idade: “Eu renasci”. 

Episódio 4: Seu Franco
Seu Franco é um homem trans negro, de 67 anos, nascido em Porto Alegre, que saiu de casa aos 13 para morar nas ruas por não se sentir aceito. Aos 17, foi tomando consciência da sua identidade de gênero, mas somente anos depois se entendeu e se aceitou como uma pessoa transmasculina ao assistir uma entrevista com João Nery (convidado da primeira temporada de LGBT+60) na televisão. No quarto episódio, ele revela os bastidores da tão sonhada mastectomia masculinizadora, realizada aos 66: “Às vezes eu nem acredito, agora eu posso dizer que estou completo”. 

Episódio 5: Luiza Gasparelly
No último episódio, a drag queen carioca Luiza Gasparelly, de 60 anos, relembra como se entendeu como um homem gay e artista e suas vivências fora do país. Além disso, revela a perseguição e o preconceito contra as travestis e drag queens na ditadura, apresentações icônicas, a descoberta do HIV e conquistas tanto afetivas quanto profissionais de uma carreira nos palcos que ultrapassa quatro décadas. “Eu não tinha uma missão. Eu tinha a minha vida”. 

A terceira temporada da série ‘LGBT+60+ Corpos que Resistem’ é resultado do programa de Fomento do Audiovisual Carioca 2022, gerido pela RioFilme, órgão vinculado à Secretaria de Governo e Integridade Pública (Segovi) da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

Ficha Técnica:

Roteiro e direção: Yuri Alves Fernandes
Codireção e Direção de fotografia: Gab Meinberg
Captação: Gab Meinberg, Le Jorge e Guilherme Maia
Produção Executiva: Giulia da Graça
Assistente de Produção: Tatiana Coelho
Som: Felipe Gali
Drones: Hugo Rodrigues, Diego Quetz e Vinicius Meirelles
Montagem: Giulia da Graça
Assistência de Montagem: Gabriel Melo
Finalização: Gab Meinberg
Desenho de Som/Mixagem: Felipe Gali e Caudo Feitosa
Pesquisa: Yuri Alves Fernandes
Arte Conceitual: Danilo Torres
Mídias Sociais: João Pedro Boaretto e Allana Gana
Produtora: Vintepoucos
Coprodutora: RioFilme
Apoio: Marins – Projetos e Soluções
Veiculação: Colabora – Jornalismo Sustentável
Assessoria: Prisma Colab

Yuri Alves Fernandes

Jornalista e roteirista do #Colabora especializado em pautas sobre Diversidade. Autor da série “LGBT+60: Corpos que Resistem”, vencedora do Prêmio Longevidade Bradesco e do Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade LGBT+. Fez parte da equipe ganhadora do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, com a série “Sem direitos: o rosto da exclusão social no Brasil”. É coordenador de jornalismo do Canal Reload e diretor do podcast "DáUmReload", da Amazon Music. Já passou pelas redações do EGO, Bom Dia Brasil e do Fantástico. Por meio da comunicação humanizada, busca ecoar vozes de minorias sociais, sobretudo, da comunidade LGBT+.

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