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Foz do Iguaçu é considerada área endêmica desse tipo de leishmaniose. Em 2016 e 2017, mais de mil casos foram diagnosticados em cachorros levados ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). No ano passado, o número caiu para 729; e neste ano já são 286 casos positivos da doença. “Essa parcela da população que leva para diagnóstico do CCZ em geral é mais esclarecida. O maior problema são as comunidades e bairros mais carentes, onde os cães acessam facilmente as ruas, as pessoas desconhecem a doença ou não têm condições ou iniciativa de levar os animais ao CCZ para diagnóstico”, diz o médico veterinário Carlos Eduardo de Santi, responsável pelo CCZ de Foz do Iguaçu.
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Para Santi, a droga desenvolvida pela Unila pode ser um caminho para o tratamento eficaz da leishmaniose. “Mas a vacina tem que ter alta eficácia de conversão para ser viável em políticas públicas e o encoleiramento [com repelente nos cães] é fundamental como prevenção”, reforça o veterinário.
Vacina é usada no tratamento
A vacina criada pela Unila, sob coordenação do professor de biologia Kelvinson Fernandes Viana, usa o sistema imunológico dos cachorros para atacar o parasito e tem pelo menos duas grandes vantagens sobre o medicamento hoje disponível no mercado. De acordo com Viana, o tratamento realizado para combater a leishmaniose, com o remédio Miltefosina, custa em torno de R$ 1 mil – são 28 doses, mas nem sempre são suficientes para todos os casos.
[g1_quote author_name=”Kelvinson Vieira” author_description=”Pesquisador e professor de Biologia da Unila” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Quando a leishmaniose atinge crianças ou idosos, ela pode aumentar muito o baço e o medicamento estabelecido pelo Ministério da Saúde para o tratamento de humanos é muito tóxico
[/g1_quote]Além do alto custo, o medicamento pode gerar efeitos colaterais tóxicos nos animais, há casos em que eles morrem durante o tratamento. Também há a hipótese de a droga, a longo prazo, criar resistência ao parasito, uma vez que os animais tratados podem precisar utilizar o Miltefosina por mais de um ciclo.
Produzida com proteínas do próprio parasito que provoca a doença, associado a um adjuvante, uma substância que serve para ativar o sistema imunológico, a vacina imunoterapêucica da Unila não funciona como método preventivo, e sim, como tratamento. Por isso só é vacinado o animal que já está doente. A previsão é de cada dose vacinal saia em torno de R$ 20 reais.
Transmissão por mosquito
A leishmaniose também afeta os humanos, e em ambos os casos é provocada pelo mesmo parasito, a Leishmania infantum. A transmissão é via insetos flebótomos fêmeas, conhecido popularmente como “mosquito-palha”. Nos cães, a doença não tem cura. Mesmo os tratados com a droga disponível no mercado, continuam parasitados para toda a vida, sendo necessário um controle contínuo. Estes, entretanto, não transmitem a doença para humanos. A transmissão é via mosquito que pode picar outros amimais e humanos.
“Há muito desse inseto vetor aqui em Foz. O problema é quando a doença atinge crianças ou idosos, ela pode aumentar muito o baço e o medicamento estabelecido pelo Ministério da Saúde para o tratamento de humanos é muito tóxico”, explica Kelvinson Fernandes Viana, responsável pelo desenvolvimento da vacina.
Nos cães, a leishmaniose pode provocar aumento de volume dos gânglios linfáticos, perda de pelo, úlceras e descamação da pele, emagrecimento e atrofia muscular, hemorragias nasais, anemia e alterações nos rins, fígado e articulações.
Como o custo do tratamento é muito alto e nem sempre eficaz, é comum que animais doentes sejam abandonados sem cuidados até a morte, segundo o professor Viana.
Testes e evolução da vacina
Entre janeiro e setembro de 2016, a vacina foi testada inicialmente em quase 20 cães que viviam em uma área endêmica e tinham a doença naturalmente. Em um primeiro protocolo, os animais tomaram uma dose da vacina por semana. Melhoraram drasticamente, mas depois de seis meses começaram a apresentar piora clínica.
Em uma segunda fase de testes iniciada em janeiro deste ano, os cachorros doentes passaram a receber uma dose mensal durante quatro meses para manter o estímulo de combate ao parasito, de acordo com o pesquisador. Estes animais apresentaram melhora clínica e estão ótimos, diz Viana.
“O ideal seria aplicarmos o segundo protocolo porque ele não deixa o animal sem assistência, já que não tem como matar os parasitos. Em quatro meses é possível manter o sistema de defesa ativado com carga parasitária baixa. Depois o cão para de receber as doses e usa somente uma cólera repelente [para se proteger das picadas de insetos]”, explica o professor. Viana reforça que em Foz do Iguaçu o clima é quente o tempo todo, um ambiente fértil para o inseto que transmite a leishmaniose que não precisa de água para se proliferar e põe ovos na terra. Por conta dessas condições, os animais podem ser picados diariamente.
De acordo com Viana, é a primeira vez que cães naturalmente parasitados são mantidos com um tratamento sem a necessidade de usar nenhuma outra droga, somente a vacinoterapia. Os resultados da pesquisa devem ser concluídos até o final deste ano. Ao término, o pesquisador vai procurar a iniciativa privada para oferecer a solução para que seja licenciada e disponível ao mercado. Viana reforça que a vacina também poderia ser eficaz no tratamento humano, mas neste caso seriam necessários outros estudos e alteração da composição para que fosse testada e, posteriormente, licenciada.
Óleo a partir de planta
Outra forma de combate da leishmaniose visceral canina também tem sido testada pela Unila com o desenvolvimento de um medicamento produzido a partir do óleo essencial de Siparuna guianensis, uma planta comum na região do Cerrado que apresentou, em testes laboratoriais, ação parcial contra o parasito. O desafio agora é identificar quais dos princípios ativos, entre centenas presentes, tem este efeito.
Para o pesquisador, os cortes de orçamento nas universidades públicas afetam principalmente o andamento de soluções para as “doenças negligenciadas”, caso da leishmaniose. “O setor privado não vai desenvolver pesquisas para esse tipo de doença, caberá às universidades públicas. Se a universidade pública não desenvolver conhecimento, não tem como o país avançar.”
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”none” size=”s” style=”solid” template=”01″]63/100 A série #100diasdebalbúrdiafederal pretende mostrar, durante esse período, a importância das instituições federais e de sua produção acadêmica para o desenvolvimento do Brasil
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