ODS 1
‘Solução para a ciência não é cortar, mas gerar receitas’
Coordenador de pesquisa da UnB que usa nanotecnologia para minimizar efeitos da quimioterapia defende fontes alternativas de financiamento
Professor da Universidade de Brasília (UnB), João Paulo Longo acompanha com atenção a discussão sobre o corte (ou contingenciamento) de verbas para as instituições federais de ensino determinado pelo Ministério da Educação. Ele coordena uma importante pesquisa que utiliza nanotecnologia para tentar arrefecer os efeitos da quimioterapia nos casos de câncer de mama e de metástases pulmonares. Com preocupação, o pesquisador admite que os custos do governo estão se igualando às receitas, mas acredita que a solução no caso da ciência não é cortar. “Temos que aumentar as receitas, é preciso achar novos caminhos para isso na universidade”, defende.
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Longo destaca que em todo o mundo as universidades recebem dinheiro público, mas também é muito comum que tenham fontes alternativas de financiamento. Propõe que isso seja feito também aqui no Brasil e acredita que já exista a ferramenta ideal para essa mudança: o Marco Legal da Inovação. Aprovado em 2016, originado de projeto de lei criado na Câmara, visa criar um ambiente mais favorável à pesquisa, desenvolvimento e inovação nas universidades, nos institutos públicos e nas empresas. O problema é que, em muitos pontos, não está totalmente regulamentado.
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Veja o que já enviamosEntre outros pontos, constam do Marco da Inovação: criar regulamentação das parcerias de longo prazo entre os setores público e privado; maior flexibilidade de atuação para instituições científicas, tecnológicas e de inovação e possibilidade de dispensa de licitação, pela administração pública, nas contratações de serviços ou produtos inovadores de micro, pequenas e médias empresas. “Até pouco tempo, o ambiente nas universidade não favorecia a transferência de know-how para o mercado, mas acho que essa é a saída”, opina o professor.
A implementação das regras ficou de ser feita por cada instituto, afirma Longo. “Um dos que conseguiu foi a UFMG, que alcança ótimos resultados”. Ele acredita que esse processo pode ajudar muito a transformar a ciência em tecnologia. “Foi o que aconteceu com a Embrapa. Para cada real investido pelo governo, eles devolvem R$ 12 para a sociedade”. Na sua visão, isso foi um dos principais fatores que tornaram o Brasil líder mundial na tecnologia dessa área.
A ideia central da pesquisa do grupo que Longo comanda no Instituto de Ciências Biológicas da UnB é associar quimioterápicos convencionais que promovem muitos efeitos colaterais e encapsulá-los em nanoestruturas inovadoras que os carregam para os tecidos que sofrem com tumores.Assim é possível reduzir drasticamente os efeitos colaterais da quimioterapia, propiciando aos pacientes uma forma de tratamento menos tóxica e mais efetiva. Com isso, é possível diminuir o enjoo, os problemas no tráfego gastrointestinal (que ocasiona perda de peso) e, principalmente, possibilita que a quimioterapia seja feita em pacientes cardíacos. Doentes de câncer que também sofrem de alguma patologia no coração muitas vezes são obrigados a interromper a quimioterapia.
Alguns dos resultados desta pesquisa fizeram parte de uma tese de doutorado do Programa de Nanociência e Nanobiotecnologia da UnB e foram publicados na revista científica Nanomedicine, considerada uma das 10 mais importantes na área de nanomedicina. “Como resultados principais desta publicação nós pudemos observar que o nanomedicamento desenvolvido pelo nosso grupo, em colaboração com a Freie Universität de Berlim, reduziu quase que por completo os efeitos colaterais da Doxorubicina, um quimioterápico utilizado para o Câncer de Mama”, explica Longo. “Além disso, outro resultado muito importante foi que este nanoproduto conseguiu reduzir e, em alguns casos, eliminar as metástases pulmonares presentes no nosso modelo de estudo”.
A pesquisa tem dois anos e está no estágio de pré-clínico, ou seja, de testes em modelos não-humanos. Agora, a equipe de 10 cientistas vai partir para pesquisas com cães. Serão mais dois anos até chegarem ao estudo clínico, para, enfim, poderem pensar em colocar os produtos nas prateleiras da farmácia.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”none” size=”s” style=”solid” template=”01″]8/100 A série #100diasdebalbúrdiafederal pretende mostrar, durante esse período, a importância das instituições federais e de sua produção acadêmica para o desenvolvimento do Brasil.
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Chico Alves tem 30 anos de profissão: por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Na maior parte da carreira atuou como editor-assistente na revista ISTOÉ, mais precisamente por 19 anos. Foi editor-chefe do jornal O DIA por mais de três anos. É co-autor do livro 'Paraíso Armado', sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho.