“Vamos tomar um chope para falar de… ciência?” Esse convite pode soar esquisito para a maioria das pessoas. Mais estranho ainda se quem estiver convidando para o bar for um cientista, um daqueles pesquisadores que a gente imagina que ficam fechados em seus laboratórios, sem muito contato com o mundo aqui fora. É essa a proposta do festival Pint of Science, que começa nesta segunda (23/05) e vai até quarta-feira, em 12 países. O Brasil entrou no roteiro pelo segundo ano.
Morto há quase 20 anos, o astrônomo Carl Sagan, um dos grandes divulgadores de ciência por conta do sucesso de TV “Cosmos”, ficaria orgulhoso dessa história, que começa em 2012: Michael Motskin e Praveen Paul, do Imperial College, London, decidiram aproximar pessoas que sofrem de Mal de Parkinson, Alzheimer, esclerose múltipla e doenças neurológicas musculares dos pesquisadores que estão trabalhando nessa área. Assim nasceu o “Meet the Researchers”, que abriu laboratórios para mostrar, sem intermediários, o que está sendo desenvolvido. Foi um sucesso. E, pensando melhor, além de Sagan, o neurologista e escritor Oliver Sacks também ficaria orgulhoso.
Empolgados com a ideia, Motskin e Paul resolveram fazer o caminho inverso no ano seguinte, tirando os cientistas dos laboratórios para conversar com o público em geral. E que melhor lugar para isso do que um pub. “Há uma grande distância entre os pesquisadores que trabalham com ratos e células diariamente, mas nunca interagem com os pacientes para os quais estão trabalhando. Achamos que essa distância precisava ser explorada”, contou Motskin à revista “Wired”, explicando que ampliar os temas foi quase automático. “Existe uma grande sede de ciência no mundo, mas a maior parte do tempo o assunto é apresentado de um jeito muito formal, que não atrai as pessoas. Para mim, tudo depende do palestrante, se o papo for bom qualquer assunto pode ser interessante”.
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Veja o que já enviamosDesde o ano passado, o Pint of science está no Brasil. A programação pode ser vista aqui e acontece em São Paulo, Campinas, São Carlos, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Belo Horizonte e Dourados. Participam pesquisadores de universidades importantes como UFRJ, Unicamp, USP, entre muitas outras. Nesta segunda, no Rio, por exemplo, o físico Luiz Alberto Oliveria, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e curador geral do Museu do Amanhã, estará no bar Desacato, no Leblon, para falar do “mundo depois do silício”, junto com Marcela Sabino, chefe do laboratório de Atividades do museu. Na terça, o assunto é “Zika ou ziquizira: um vírus cheio de segredos” e o chope vai ser no Bar do Ernesto, na Lapa, com Jerson Lima, do diretor científico da Faperj e professor titular do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, Mário Alberto C. Silva-Neto, chefe do Laboratório de Sinalização Celular da UFRJ, e Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular na UFRJ. Quarta o papo é mesmo cabeça. No bar Olho na Rua, em Botafogo, Stevens Rehen, Fernanda Tovar-Moll e Rogerio Panizzutti, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, falam das novas tecnologias reconfigurando o nosso cérebro.