ODS 1
Museu da Amazônia corre o risco de fechar
Sem investimentos e sem público, por conta da pandemia, iniciativa enfrenta dificuldades para pagar salários e contas de água e luz
Manaus (AM) – Com raras visitas há um ano por conta da pandemia, o Museu da Amazônia (Musa), um museu a céu aberto localizado em uma área verde de 5 quilômetros quadrados da Reserva Ducke, na zona leste de Manaus, corre o risco de fechar. “Perdemos todas as parcerias que nos sustentavam, como a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e o Fundo Amazônia, agora só dependemos da verba das entradas”, destaca o diretor do museu, o físico Ennio Candotti, que apostou no sonho de criar um museu vivo na Amazônia vindo para Manaus quando da sua inauguração, em 2000. “No fim de abril vamos ter de fracionar salários dos colaboradores, com as parcas reservas que temos, mas não sei o que será do museu em maio”.
Além do pagamento dos colaboradores, contas de água e luz, e a manutenção das trilhas, serpentário, orquidário e outros setores do museu vivo também correm perigo. Uma das maiores atrações, a torre de observação tem 242 degraus e fica a 42 metros de altura, bem acima da copa das árvores, precisa de manutenção diária e constante devido à alta umidade da região. A torre tem três plataformas para paradas e contemplação, aos 14, 28, e 42 metros de altura.
Esta semana foi inaugurada uma nova exposição, com maquetes de esqueletos de animais pré-históricos da Amazônia, a “Passado presente: dinos e sauros da Amazônia”. No sábado, dia da inauguração, segundo a organização, menos de cem pessoas passaram pelo local, que cobra ingresso a R$ 30 por pessoa e é necessário agendar para não haver aglomerações.
De acordo com Candotti, a verba para a exposição é proveniente de uma loja varejista da capital amazonense, via Lei Rouanet. “A verba é apenas para a manutenção da exposição, é contra a lei retirar qualquer valor para pagamento de funcionários fixos do museu, sabemos disso, por isso a angústia de não termos de onde tirar, exceto se houver verba das entradas”.
Dinossauros amazônicos
A exposição que busca recuperar financeiramente o Musa conta parte da geo-história e paleontologia da Amazônia com a exibição de fragmentos fósseis inéditos e a reprodução do esqueleto do que foi o maior crocodilo do mundo, o Purussaurus brasiliensis, um parente dos jacarés que viveu há 7 milhões de anos e que chegava a 13 metros de comprimento. Outra curiosidade é o esqueleto em tamanho real da preguiça-gigante Eremotherium laurillardi extinta há cerca de 11 mil anos, com mais de 6 metros de altura e até 5 toneladas.
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Veja o que já enviamosPara a reprodução do Purussaurus brasiliensis, foram necessários vários meses de trabalho nos últimos dois anos para a reconstrução dos ossos, feitos de materiais como gesso e madeira, com a condução teórica dos paleontólogos Lucy Gomes, do Musa, e Jonas Souza-Filho, da Universidade Federal do Acre e com artistas locais coordenados pelo artista plástico Carlos Scarpini. Em 2019, em um sítio arqueológico chamado cajueiro, no município de Boca do Acre (AM), foram encontradas uma mandíbula, vértebras e ossos dos braços do Purussaurus. Até então, os paleontólogos conheciam apenas o crânio e a mandíbula desse animal.
Também para buscar meios de sustentar o museu, neste mês serão realizadas várias atividades relacionadas à exposição, como visitas guiadas paleontológicas, com o acompanhamento da paleontóloga do Musa, Lucy Gomes. Serão produzidas ainda réplicas dos dinossauros sob a coordenação de Carlos Scarpini. Já há duas encomendadas uma pelo Museu da cidade de Uchoa (SP) e pela Casa Don Aquino, de Cuiabá. No outro prédio do Musa, no centro de Manaus, será inaugurado um espaço onde turistas e moradores de Manaus poderão conhecer mais sobre a confecção das peças feitas pelo artista plástico.
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Liege Albuquerque é jornalista e mestre em Ciências Políticas (USP). É professora de jornalismo e publicidade na UniNorte/Laureate em Manaus, de onde faz freelances para diversos veículos. Foi repórter e editora de Cidades e Política em jornais como A Crítica, Amazonas em Tempo e Diário do Amazonas (em Manaus), Folha de S. Paulo e Veja (em São Paulo), O Globo e O Estado de S. Paulo (em Brasília). Trabalhou por oito anos como correspondente do Estadão no Amazonas. É autora de dois livros infantis e tem um blog sobre maternidade com outras jornalistas: o maescricri.