Média de idade dos primeiros afetados pela covid-19 no Brasil foi de 39 anos

Pesquisa liderada por brasileiros mostra que média do país foi mais baixa do que em outros países e quase metade dos infectados tinha menos de 40 anos

Por Agência Fapesp | ODS 3ODS 4 • Publicada em 8 de maio de 2020 - 09:58 • Atualizada em 11 de fevereiro de 2021 - 20:59

Laboratório de Vírus Respiratório do Instituto Oswaldo Cruz: estudo internacional liderado por pesquisadores da Fiocruz mostra que média de idade dos primeiros pacientes diagnosticados com a covid-19 no Brasil foi mais baixa do que a observada em outros países (Foto: Josué Damacena/Fiocruz/Divulgação)

Elton Alisson*

A média de idade dos primeiros pacientes diagnosticados com a covid-19 no Brasil, de 39 anos, foi mais baixa do que a observada em outros países. Esse fator, associado ao fato de que, na fase inicial da epidemia no Brasil, grande parte desses pacientes pertence às classes sociais mais elevadas, pode ter contribuído para o país ter registrado uma taxa de hospitalização equivalente à metade da média internacional – de 10% contra 20% de outros países.

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As conclusões são de um estudo internacional, liderado por pesquisadores brasileiros. Os resultados preliminares da pesquisa, apoiada pela FAPESP no âmbito do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus foram descritos em artigo publicado na plataforma medRxiv, ainda em versão pré-print (sem revisão por pares).  “A condição econômica desses primeiros pacientes infectados permitiu que tivessem maior acesso a testes diagnósticos, por exemplo, facilitando inicialmente o isolamento social e a diminuição do contágio”, disse o médico infectologista Julio Henrique Rosa Croda, pesquisador da Fiocruz e um dos autores do estudo, à Agência FAPESP.

Os pesquisadores analisaram as características epidemiológicas, demográficas e clínicas dos casos confirmados de COVID-19 durante o primeiro mês da epidemia no Brasil. Para isso, usaram principalmente a base de dados REDCap, criada pelo Ministério da Saúde, no início do surto da doença, para notificação de casos.

As análises dos dados indicaram que, entre 25 de fevereiro e 25 de março, foram confirmados 1.468 casos de COVID-19 no Brasil, dos quais quase a metade (48%) foi de pessoas entre 20 e 39 anos de idade. Desse total de casos registrados à época, 10% necessitaram de internação e apresentaram como fatores de risco associados à hospitalização doenças cardiovasculares e hipertensão.

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“Pode ser que a média de idade dos pacientes com COVID-19 hospitalizados no Brasil seja menor do que a média mundial porque teriam maior prevalência de comorbidades em comparação com a população na mesma faixa etária de outros países. Mas essa hipótese ainda não foi confirmada”, afirmou Croda.

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A menor média de idade de pacientes infectados e hospitalizados no Brasil em comparação com outros países também pode estar relacionada ao fato de que esse grupo etário, entre 20 e 39 anos de idade, representa uma parcela expressiva – de 32% – da população brasileira, ponderam os pesquisadores.

Diferença de classe

Para avaliar se os primeiros casos notificados de infecção pelo SARS-CoV-2 estavam relacionados ao perfil socioeconômico dos pacientes, os pesquisadores analisaram os casos registrados na Região Metropolitana de São Paulo, com base em dados de geolocalização do endereço dos pacientes.

As análises revelaram que as regiões com maior renda per capita média apresentaram maiores taxas de testagem. “Constatamos que há uma disparidade socioeconômica no acesso ao teste de diagnóstico de infecção pelo novo coronavírus no Brasil que persiste à medida que o número de casos da doença tem se expandido”, avalia o pesquisador da Fiocruz.

Os pesquisadores também observaram que, durante o primeiro mês da epidemia de COVID-19 no Brasil, apenas 33,1% dos casos foram confirmados em laboratórios de saúde pública e o restante em laboratórios privados. “Inicialmente, a doença ficou mais restrita à população mais rica do país e, no final de março, ocorreu uma transição e passou a atingir a população mais pobre”, analisa o infectologista Croda.

*Agência FAPESP

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