Salinas formou-se em Engenharia Elétrica e Física pela USP em 1967. Em 1969, obteve o grau de mestre em Física, também na USP, e, em 1973, o de doutor pela Carnegie-Mellon University, nos Estados Unidos. Aposentou-se em 2012, mas continua a dar aulas. O estudante que tentou impedir que ele parasse a aula e não furasse a greve é bacharel em Física e cursa mestrado em Arqueologia na USP. Ele está acompanhado de dois outros alunos. A cena é constrangedora para quem vê, independentemente de concordar ou discordar de um deles. A mãe do garoto postou uma defesa dele na página USP Livre, no Facebook, que reúne os antagonistas do movimento, e então ele passou a ser tratado como o “menino criado a leite com pera” e perseguido por sites como O reacionário.
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Veja o que já enviamos“Lastimo que esses videos, produzidos pelos próprios alunos ativistas, e divulgados pela internet, acabem sendo um desserviço para a nossa luta por uma educação superior gratuita e de boa qualidade …”, lamentou Salinas, referindo-se ao uso das imagens produzidas pelos próprios grevistas, mas que foram aproveitadas pelo grupo contrário para fazer duras críticas ao movimento.
Em outro vídeo, que também viralizou, grevistas entram na sala do professor Serguei Popov, do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Unicamp, e fazem uma batucada para fazê-lo calar-se, o que não ocorre. Um dos grevistas tenta, então, apagar o quadro. Igualmente constrangedor.
Os grevistas divulgam seus pontos de vista em canais como o Xavanteve e páginas do Facebook como a Ocupa Tudo Unicamp 2016, que tem mais e 11 mil curtidas. A página do Sintusp – Sindicato dos Trabalhadores da USP é ativa na divulgação do movimento. Os funcionários reivindicam 12% de reajuste salarial, e os alunos – ou uma parte deles – aderiram ao movimento, acrescentando algumas reivindicações.
Já os que são contra a greve estão se manifestando principalmente pelas páginas que têm o adjetivo “livre” ao lado do nome da instituição. A USP Livre, que está no ar há pouco mais de um mês, tem mais de 10 mil curtidas, já gerou uns 15 filhotes – e agora passou a se chamar Universidade Livre. Na contenda é nítida a coloração política: em geral, os grevistas se alinham à turma do “não vai ter golpe” e os contrários ao movimento querem ver o PT e seus satélites longe do governo e das universidades.
João Paulo Mesquita Luiz, formado em Biotecnologia na Universidade Federal de Pelotas (RS) e doutorando em Imunologia na Medicina da USP de Ribeirão Preto, é um dos criadores da página USP Livre. Ele respondeu à mensagem enviada à página pedindo entrevista; ninguém respondeu na página Ocupa Unicamp 2016.
Na opinião do doutorando, a greve é essencialmente política porque é impossível ao governo de São Paulo atender à reivindicação dos funcionários. “Estamos vivendo a mais grave crise econômica que já atingiu o país. A arrecadação em São Paulo caiu muito. Eu acho que o pessoal que defende a greve só vê o próprio umbigo”, diz.
Rotina
A novidade, possibilitada pela internet e suas redes sociais é a sociedade poder acompanhar e tirar suas conclusões sobre os movimentos grevistas e seus opositores: os vídeos que viralizaram foram feitos pelos grevistas, e os contrários à greve simplesmente os retiraram das páginas dos “inimigos”.
As greves em escolas de todos os níveis tornaram-se uma rotina no Brasil. Uma praga, dirão alguns. Uma consequência das péssimas condições de ensino, dirão outros. Não é exagero afirmar que, no ensino fundamental, praticamente integram o calendário escolar em boa parte dos estados. Nas universidades federais houve uma trégua durante um período dos governos de Lula, o que permitiu a uma geração formar-se sem perder parte do conteúdo ou passar sufoco quando se está próximo da formatura. Mas nas escolas municipais e estaduais de ensino fundamental – e agora também no ensino infantil – a situação se repete como farsa, como tragédia, como endemia. A discussão sobre a efetividade desse tipo de protesto na educação gera um caudaloso palavrório à esquerda e à direita, mas, como de hábito em nosso país, nenhuma conclusão de gente grande. Afinal, desde a promulgação da Constituição de 1988, que assegurou o direito de greve, as paralisações nas escolas multiplicam-se e as reivindicações são sempre as mesmas. Se nada resolvem, por que continuam? Não seria a hora de procurar alternativas a essa forma de protestar e reivindicar?
A reportagem me parece não ter se aprofundado no tema. Acho que deveriam ter ido a campo e ouvido os movimentos de ocupação para ver o que de fato estão reivindicando e como estão sendo equacionadas as questões de aulas, provas e conteúdos. Na Unicamp, onde estudo, a greve dos alunos está em curso e em alguns institutos acontecem aulas abertas, palestras, discussões sobre educação. Em algumas unidades de USP e Unicamp as congregações começam a aprovar cotas raciais, fruto dessa mobilização. A reportagem me parece simplificar demais um tema e uma situação complexa. Algo q não ocorreu na cobertura do movimento secundarista. É muito mais que a viralização de vídeos de atos isolados equivocados, exageros que sempre podem acontecer em movimentos estudantis. É uma discussão e busca por maior conscientização do que acontece em algumas das principais universidades públicas do país.
Pena que no Brasil tudo só funcione sob pressão, nossos governantes e representantes só funcionam assim e caso a grande massa não perceba mas muitos dos movimentos surgem dentro de universidades, do descontentamento de minorias que pensam e que sentem o perigo que nos espreita, pois quando se calarem os descontentes o que restará, quando não houver protesto, então haverá silêncio velado, quando os que lutam desistirem então teremos consenso e quem detém o poder que decida por nós, não se trata simplesmente de convicções partidárias mas de convicções pessoais pois no Brasil chegamos ao óbvio quem pode mais chora menos ou seja quem tem mais pode tudo, infelizmente tentam sufocar e desacreditar todos os que ainda tentam lutar contra as imoralidades dos poderosos, talvez se mais jovens pudessem frequentar uma universidade teríamos mudanças reais em nosso país.