As regras do jogo

A primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg , tenta acertar o buraco numa partida de minigolfe em Oslo. Foto Cornelius Poppe / NTB

O que uma simples partida de minigolfe pode ensinar sobre o Brasil

Por Leo Aversa | ODS 4 • Publicada em 19 de janeiro de 2018 - 08:13 • Atualizada em 19 de janeiro de 2018 - 12:24

A primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg , tenta acertar o buraco numa partida de minigolfe em Oslo. Foto Cornelius Poppe / NTB
A primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg , tenta acertar o buraco numa partida de minigolfe em Oslo. Foto Cornelius Poppe / NTB
A primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg , tenta acertar o buraco numa partida de minigolfe em Oslo. Foto Cornelius Poppe / NTB

Fui para Campos do Jordão no ano novo. Como chovia muito, ficamos zanzando pelo centro, atrás de algo para fazer. Achamos um campinho de minigolfe. Trinta reais por pessoa.

O minigolfe é uma versão de bolso do golfe de verdade. Ao invés de vastos campos gramados você tem dezoito pequenas pistas de grama artificial, onde tem que acertar uma bolinha num buraco que está a poucos metros. Entre a bolinha e o buraco, alguns obstáculos. São dezoito buracos, como no golfe oficial.

Nada muito complicado.

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Três adolescentes fantasiados de rappers americanos, que estavam entediados na fila do quarto gramado resolveram usar os tacos como espadas, atacando a si mesmos e aos obstáculos. A gerente foi avisar que eles iriam quebrar os tacos. Eles responderam, displicentemente, que iriam pagar. Preocupada, ela avisou que os tacos custavam trezentos reais cada um. Um deles disse que isso não era problema, o pai tinha dinheiro

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Como todo jogo, o minigolfe tem regras. São bem simples, afinal não é um esporte oficial, é só uma diversão familiar. Você acerta a bolinha com o taco, a bolinha tem que entrar no buraco. Como é um circuito de 18 buracos, que são percorridos em ordem crescente, cada jogador tem direito a sete tacadas para cada buraco. Uma regra uma tanto quanto óbvia, evita que o jogador tranque o minigolfe todo enquanto ele não consegue acertar o buraco.

Parece simples, não?

Esqueci de dizer que Campos do Jordão é um dos destinos turísticos preferidos da classe média. A Suíça brasileira.

Começamos o jogo, eram várias pessoas jogando ao mesmo tempo.

O problema é que a classe média brasileira tem outra característica além de gostar de Campos do Jordão. Ela tem uma espécie de dislexia em relação a regras e obrigações.

Já no quarto buraco temos problemas. Há uma fila. Por quê? Tem uma família de cinco pessoas jogando no quarto gramado. Só que eles decidiram que ao invés de sete tacadas cada membro teria direito a quinze, o que gerou um engarrafamento de jogadores. Decidiram por conta própria, acharam que assim eles iam se divertir mais. Mesmo com os protestos de todos os presentes que esperavam a vez eles continuaram com suas quinze tacadas cada um. A gerente, que estava placidamente assistindo à confusão, assim continuou.

Três adolescentes fantasiados de rappers americanos, que estavam entediados na fila do quarto gramado resolveram usar os tacos como espadas, atacando a si mesmos e aos obstáculos. A gerente foi avisar que eles iriam quebrar os tacos. Eles responderam, displicentemente, que iriam pagar. Preocupada, ela avisou que os tacos custavam trezentos reais cada um. Um deles disse que isso não era problema, o pai tinha dinheiro. A gerente desistiu de fazer qualquer coisa e eles continuaram a luta.

Como a fila produzida pela família das quinze tacadas se tornou longa demais, os outros participantes deixaram de seguir a ordem do jogo: cada um se apoderou de um dos dezoito gramados e ficou ali, abandonando o circuito.

As poucas, e aparentemente simples, regras do jogo também foram descartadas. Algumas pessoas jogavam como se fosse boliche, outras tentavam chutar as bolinhas e outros simplesmente desistiam, deixando para trás os trinta reais.

Ninguém completou o circuito.

Este é um ano eleitoral. Então, em outubro, todas essas pessoas que estavam no minigolfe votarão por um pais melhor, sem corrupção, desordem e roubalheira.

Afinal, elas merecem um Brasil melhor.

Leo Aversa

Leo Aversa fotografa profissionalmente desde 1988, tendo ganho alguns prêmios e perdido vários outros. É formado em jornalismo pela ECO/UFRJ mas não faz ideia de onde guardou o diploma. Sua especialidade em fotografia é o retrato, onde pode exercer seu particular talento como domador de leões e encantador de serpentes, mas também gosta de fotografar viagens, especialmente lugares exóticos e perigosos como Somália, Coreia do Norte e Beto Carrero World. É tricolor, hipocondríaco e pai do Martín.

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2 comentários “As regras do jogo

  1. Mario Ceder Silva disse:

    Ótimo texto!!
    Acredito que as ideias tratadas sejam dos votos comprados. Os jogadores como eleitores,minigolfe como a votação, as regras como normas e requisitos corretos . Devido os jogadores não seguirem as regras, aconteceu o engarrafamento, e começaram a protestarem. Isso que acontece quando nós protestamos, fazemos guerras civis, maltratamos uns aos outros, enquanto nossos representantes só ficam olhando, e deixando rolar. Porque quem paga somos nós. Embora pensamos que conhecemos nosso direitos e as leis da constituição, agimos incognitivamente. Toda vez é sempre a mesma história, há mas os candidatos são corruptos, roubam, fazem coisas fora da lei. Mas somos nós que o elegemos, será que ficaremos fazendo papel de bobo a vida toda….

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