Em agosto do ano passado, o presidente do laboratório indiano Bharat Biotech, Krishna Ella, durante uma entrevista coletiva realizada na cidade de Hyderabad, onde está situada a sede da empresa, apontou para uma garrafa de água mineral que estava na sua frente e disse: “Essa garrafa de água custa cinco vezes mais do que a nossa vacina”. Ele se referia à Covaxin. Realmente, a Bharat Biotech cobrou pela sua vacina menos de US$ 2 do governo indiano. Mas a iniciativa privada e outros clientes, como o governo brasileiro, pagaram sete vezes mais caro, cerca de US$ 15.
A trajetória do desenvolvimento e fabricação da vacina Covaxin por parte da Bharat Biotech, que começou em maio de 2020, foi cercada de polêmicas em seu país de origem. A vacina indiana transformou-se em um dos principais alvos das investigações da CPI da Covid 19 no Senado brasileiro. Na Índia, a Bharat Biotech recebeu muitas críticas devido à disparidade dos preços oferecidos ao governo indiano e à inciativa privada. Mas o governo de Jair Bolsonaro aceitou de bom grado pagar caro pela vacina indiana.
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A Covaxin foi desenvolvida pela Bharat Biotech em associação com o Indian Council of Medical Research, um órgão governamental. Na Índia, os imunizantes são administrados gratuitamente na rede pública, mas são cobrados nos hospitais privados. A Covaxin, no entanto, é a mais cara de todas as vacinas à disposição dos indianos e isso provocou muito debate no país.
Se o preço da Covaxin pode chegar até US$ 16 na rede de saúde privada da Índia, a vacina Covishield – da AstraZeneca/Oxford, produzida no Instituto Serum, o maior laboratório da Índia, que chegou a fornecer dois milhões de doses ao Brasil – custa cerca de US$ 10 por dose. Já a russa Sputnik V, algo em torno de US$ 12.
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Veja o que já enviamosDiante da controvérsia, a Bharat Biotech afirmou que necessita recobrar o que gastou para o desenvolvimento e a fabricação do produto. Mas especialistas rebateram afirmando que o preço salgado na iniciativa privada é injustificável, já que a farmacêutica recebeu fartos investimentos do governo indiano para a produção e desenvolvimento da vacina.
Há uma semana, a Bharat Biotech comunicou que o preço de US$ 2 acertado com o governo indiano não era “sustentável” a longo prazo, devido aos custos com a produção. Em um comunicado à imprensa, o laboratório afirmou que é por isso que há necessidade manter preços altos para o mercado privado.
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Covaxin suspeita desde a fase de testes
Outra polêmica que ronda a Covaxin refere-se aos testes. Quando a vacina obteve a aprovação para uso estritamente emergencial pelo Controlador Geral de Drogas da Índia (a Anvisa do país), em janeiro deste ano, os testes da fase 3 ainda não haviam finalizado e revelado a sua eficácia: isso provocou uma avalanche de críticas.
Resultados parciais de testes da fase 3, envolvendo 25,800 participantes, foram anunciados em abril, com indicação de eficácia de 78% contra covid-19 moderada ou leve e 100% em casos severos. Os dados finais dos testes da fase 3 só foram enviados ao órgão controlador da Índia na segunda-feira, 21 de junho, quando a vacina já estava sendo aplicada em todas as regiões do país.
Em meio ao debate, a Bharat Biotech afirmou que os padrões científicos são transparentes. A empresa lembrou ainda que publicou, no período de um ano, nove estudos de pesquisa sobre sua segurança e eficácia em cinco publicações de reputação científica. Mas, apenas há 10 dias, a Bharat Biotech informou que os dados completes das fases 1 e 2 e dados parciais dos testes da fase 3 haviam sido verificados por órgãos reguladores da Índia.
Um dos grandes revezes sofridos pela empresa indiana veio do Brasil. Em março, a Anvisa negou autorização para importação excepcional da Covaxin, solicitada pelo Ministério da Saúde. Foi uma decisão por unanimidade: os diretores consideraram que o laboratório indiano não conseguiu apresentar documentação que comprovasse a eficácia e a segurança do imunizante.
Somente agora, em junho, a Anvisa concedeu uma autorização, mas apenas para quatro milhões de doses – e não 20 milhões de doses do contrato assinado com o Ministério da Saúde do Brasil – e sob contrições restritas. Em uma entrevista a uma TV indiana, Krishna Ella, fundador e presidente da Bharat, reagiu alegando que a Anvisa havia agido movida por um “nacionalismo” brasileiro e pelo desejo de evitar a vacina indiana. “Isso é devido ao nacionalismo. Alguns países querem estrategicamente atrasar a indiana [vacina] e difamar outros países”, afirmou Ella, em resposta às dúvidas levantadas pela Anvisa.
A Bharat Biotech – um laboratório de menor porte na grande disputa global do mercado de vacinas contra covid-19 – tinha a intenção de aumentar o seu cacife internacionalmente e contava com o Brasil para isso. Até agora, o laboratório indiano exportou seu produto apenas para países como Ilhas Maurício, Irã, Mianmar, Paraguai e Zimbábue.
Para completar o cenário de controvérsias, a mídia indiana publicou em janeiro matérias sobre pessoas que participaram de testes sem saber, achando que estavam tomando vacinas já aprovadas. Vários casos foram reportados na cidade de Bhopal (estado de Madhya Pradesh), que ficou famosa no mundo todo em 1984 devido a um vazamento de gás em dezembro daquele ano na fábrica de pesticidas Union Carbide India Limited. Entrevistados afirmaram que receberam a vacina em troca de dinheiro (cerca de US$ 10) e outros disseram que não sabiam que se tratava de teste. A Bharat Biotech negou qualquer transgressão à época e afirmou que as pessoas haviam sido informadas de que estavam sendo submetidas a testes da vacina contra covid-19.
Isso tudo aconteceu ainda no começo de 2021 quando o governo indiano anunciava que iria imunizar, até agosto, 300 milhões de seus 1,3 bilhão de habitantes. A segunda onda de covid-19 devastou a Índia pouco tempo depois, a partir de abril, provocando uma grande mortandade e cenas chocantes de corpos incinerados na ruas ou jogados em rios. Até agora cerca de 389 mil pessoas morreram, oficialmente, na Índia por covid-19. Mas estimativas não oficiais apontam que esse número pode ser quatro vezes maior.
Na mira da CPI e do MPF
No Brasil, o Ministério Público Federal está investigando o contrato do Ministério da Saúde com a Precisa Medicamentos para compra da vacina Covaxin, produzida na Índia, único contrato do governo Bolsonaro que teve um intermediário sem vínculo com a indústria de vacinas. O próprio presidente intercedeu pessoalmente para agilizar a compra e enviou uma carta ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em janeiro.
Em fevereiro, o governo assinou contrato para compra de 20 milhões de doses da Covaxin, antes mesmo do aval da Anvisa e apesar do alerta da agência sobre a falta de certificado de boas práticas na fabricação da vacina. Pelo contrato, as primeiras doses chegariam ao Brasil em maio, 70 dias após o fechamento da compra, mas até agora nenhuma dose foi entregue.
De acordo com levantamento do Tribunal de Contas da União, a Covaxin foi a vacina mais cara negociada pelo governo Bolsonaro até agora: R$ 80,70 a unidade, valor quatro vezes maior que a AstraZeneca, produzida pela Fiocruz. Em depoimento ao Ministério Público Federal, o funcionário do Ministério da Saúde responsável pela importação, Luís Ricardo Fernandes Miranda, afirmou que houve pressão superior para a compra rápida da Covaxin.
A CPI da covid-19 também está investigando o interesse do governo na compra da vacina indiana, cara e sem aval da Anvisa. Os senadores querem saber o motivo de o contrato para a compra da Covaxin ter sido intermediado pela Precisa Medicamentos, alvo do Ministério Público do Distrito Federal em investigação de fraude na venda de testes rápidos para covid-19. Sócio da empresa, Francisco Maximiano, que teve seu sigilo bancário e telefônico quebrado pela CPI, tinha depoimento marcado na CPI para esta quarta, 22 de junho. O depoimento foi adiado já que o empresário alegou estar em quarentena, por ter viajado à Índia.
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