Brasil tem seu primeiro caso de indígena contaminado pelo coronavírus

No Amazonas, jovem da etnia kokama, agente de saúde de 20 anos, tem sintomas da covid-19; outros sete indígenas estão em quarentena

Por Amazônia Real | ODS 3 • Publicada em 1 de abril de 2020 - 19:20 • Atualizada em 11 de fevereiro de 2021 - 22:28

Equipe do Distrito Especial de Saúde Indígena (Dsei) Alto Solimões, a caminho das aldeias com casos suspeitos: jovem agente de saúde está com a covid-19 (Foto: Secretaria de Saúde de Santo Antonio do Içá)

Elaíze Farias*

Manaus (AM) – A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, confirmou nesta quarta-feira (01/04) que registrou o primeiro caso de indígena com o novo coronavírus no país. O exame realizado em uma mulher da etnia Kokama, de 20 anos, testou positivo para Covid-19 em análise feita pelo Laboratório Central de Saúde (Lacen) da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas.

A paciente, que diz que tem sintomas da doença (tosse seca) e está no isolamento, é Agente Indígena de Saúde (AIS). Ela pertence a aldeia São José, que fica no município de Santo Antônio do Içá (a 878 quilômetros de Manaus). A jovem é uma das 27 pessoas que estavam sendo monitoradas, pois tiveram contato com o médico Matheus Feitosa, que foi diagnosticado com a doença.

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Estive em contato com um colega que estava com a Covid; três dias depois apresentei uma tosse seca e perdi o olfato e o paladar. Desde então, me afastei do meu trabalho

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Do grupo de pessoas monitoradas, 12 são indígenas Tikuna da aldeia Lago Grande. Eles foram atendidos pelo médico no dia 19 de março. Segundo a Sesai, os testes deles deram negativo para o novo coronavírus. Mesmo assim, os indígenas continuam no isolamento e sendo assistidos pela Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena do Dsei Alto Solimões. À agência Amazônia Real, o coordenador do Distrito Especial de Saúde Indígena (Dsei) Alto Solimões, Weydson Pereira, disse que sete parentes da jovem Kokama também estão em isolamento. Eles já passaram por exames médico e o distrito aguarda os resultados dos testes pelo laboratório Lacen, que fica em Manaus.

No início da noite desta terça-feira (31), a jovem Kokama enviou uma mensagem de texto em suas redes sociais, informando o resultado do exame para Covid-19. “A partir das 6 horas da noite de hoje, 31 de março, recebi o resultado do meu exame. Como inesperado, deu positivo para Covid-19. No dia 18 estive em contato com um colega que estava com a Covid; 3 dias depois apresentei uma tosse seca e perdi o olfato e o paladar. Desde então, me afastei  do meu trabalho por ter contato com um positivo. Desde lá, estou em casa. Gostaria de pedir desculpas as pessoas k (sic) tive contato. Agora estou bem, com 14 dias me recuperando. Agradeço as pessoas que estão preocupadas comigo”, diz a indígena (com nome preservado pela reportagem) em sua mensagem.

O povo Kokama habita a região do Alto Solimões e tem sua população estimada em 14 mil pessoas, segundo dados da Sesai. A etnia tem seu território tradicional na região de fronteira, e também habita o território da Colômbia e Peru.

Tikunas aliviados

O resultado negativo para os casos suspeitos em 12 indígenas Tikuna da Aldeia Lago Grande, também localizada em Santo Antônio do Içá, tranquilizou os mais de 800 moradores da comunidade.

“Boa noite, estou muito alegre. Saiu o resultado hoje. Deu tudo negativo. Deus é nosso refúgio para tudo, só ter fé”, disse o conselheiro de saúde e liderança da Aldeia Lago Grande, José Francisco Pinto dos Santos, em mensagem via WhatsApp enviada para a reportagem da Amazônia Real na noite desta terça-feira (31).

Apesar do alívio, os Tikuna decidiram fechar o acesso à aldeia, que pode ser tanto via terrestre quando via fluvial. “Vamos fechar tudo agora. Vamos fechar o acesso aqui, ninguém entra aqui e ninguém sai. Por isso, vou na Polícia Federal pedir reforço. Vou cuidar do meu povo. Para nós agora, tem que ficar só aqui dentro da aldeia, parenta”, afirmou Santos à reportagem.

Segundo o Tikuna, no período em isolamento, os moradores de Lago Grande não abandonaram sua rotina. “Estávamos preocupados, mas continuamos nas nossas plantações, fazendo nossa pesca”, disse ele.

A Sesai, do Ministério da Saúde, é responsável por coordenar, supervisionar, monitorar e avaliar a implementação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, observados os princípios e as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). A secretaria atende a uma população de 800 mil indígenas em de 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei).

Na Amazônia Legal, 25 Dseis atendem a uma população de 433.363 pessoas. Segundo a Sesai, estão sendo monitorados casos suspeitos entre os indígenas em Alagoas (1), Sergipe (1), Maranhão (1), Bahia (7), Ceará (2), Litoral Sul (3) e Interior do Sul (5).

*Amazônia Real

 

Amazônia Real

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