Diário da Covid-19: Brasil passa a China em número de mortes

Em Kiranchandra, na Índia, trabalhadoras colhem folhas de chá, depois que o governo flexibilizou um pouco o isolamento da covid-19. Foto Diptendu Dutta/AFP

Ritmo de crescimento da doença no país é duas vezes mais rápido do que dos países da Europa Ocidental que estão no topo do ranking

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 28 de abril de 2020 - 09:37 • Atualizada em 28 de abril de 2020 - 09:39

Em Kiranchandra, na Índia, trabalhadoras colhem folhas de chá, depois que o governo flexibilizou um pouco o isolamento da covid-19. Foto Diptendu Dutta/AFP

O Brasil atinge uma marca que parecia inalcançável há um mês: está ultrapassando hoje, dia 28/04, o número de mortes ocorridos na China, mesmo depois que o gigante asiático refez as contas e elevou o número de vítimas pela covid-19. Ontem, dia 27/04, o país ultrapassou o número de mortes da Holanda. No final de março o Brasil estava na 15ª posição no ranking internacional dos países mais afetado pelo novo coronavírus e hoje, está em 11º lugar no ranking dos casos e 9º no ranking dos óbitos. O Brasil também está a caminho de se tornar a nação mais impactada pela covid-19 entre os cinco países do grupo BRICS.

O panorama nacional e o panorama do BRICS

Os números da pandemia do coronavírus, divulgados na tarde da segunda-feira, dia 26 de abril de 2020, chegaram a 66.501 casos e a 4.543 mortes, com uma taxa de letalidade de 6,8%.

A variação diária do número de pessoas infectadas foi de 4.543 casos (a terceira maior variação diária do mundo, atrás apenas dos EUA e da Rússia) e a variação absoluta de vítimas fatais foi de 338 óbitos (a quarta maior variação diária global, atrás apenas dos EUA, França e Reino Unido). O ritmo do surto no Brasil cresce duas vezes mais rápido do que nos países da Europa Ocidental que estão no topo do ranking.

Entre os países do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul),  a Rússia ultrapassou a China em número de casos e o Brasil se aproxima bastante, com a Índia vindo um pouco mais atrás e a África do Sul com o menor número de casos, como pode ser visto no gráfico abaixo. No dia 01 de abril a China tinha 81,6 mil casos e passou para 82,8 mil casos em 27/04, um aumento de 1,02 vezes (ou 0,6% ao dia). No mesmo período a Rússia passou de 2,8 mil para 87,2 mil, um aumento de 31 vezes (ou 14,2% ao dia). O Brasil passou de 6,8 mil para 66,5 mil, um aumento de 9,7 vezes (ou 9,1% ao dia).  A Índia tinha 2 mil casos e passou para 29,5 mil, um aumento de 14,6 vezes (ou 10,9% ao dia) e a África do Sul passou de 1,4 mil para 4,8 mil, um aumento de 3,5 vezes (ou 4,9% ao dia).

Quanto ao número de mortes, a China tinha registrado 3,3 mil mortes em 01 de abril, valor que mudou pouco até o dia 16/04. Mas no dia 17/04, as autoridades do país anunciaram uma revisão dos números para 4.632 mil mortes, chegando a 4.633 em 27/04, um aumento de 1,4 vezes nos primeiros 27 dias de abril (ou 1,3% ao dia). O Brasil estava bem atrás da China no dia 01 de abril, com 240 óbitos, mas teve um crescimento exponencial e chegou a 4.543 óbitos em 27/04 segundo dados do Ministério da Saúde (MS), um aumento de 18,9 vezes (ou 12% ao dia). Mas segundo os dados das Secretarias Estaduais o Brasil ultrapassou o patamar da China na noite do dia 27/04 ou, segundo o MS, na tarde do dia 28/04.

A Rússia tinha 24 mortes no dia 01/04 e passou para 794 mortes em 27/04, um aumento de 33 vezes (ou 14,4% ao dia), enquanto a Índia tinha 58 mortes e passou para 939 mortes, um aumento de 16 vezes (ou 11,3% ao dia) e, no mesmo período, a África do Sul passou de 5 mortes para 90 mortes, um aumento de 18 vezes (ou 11,8% ao dia). Nota-se, portanto, que à exceção da China, os outros 4 países do BRICS apresentam altas taxas de avanço da pandemia, embora em patamares diferenciados.

No total global, o balanço do final do dia 27 de abril, indicou um volume de 3,06 milhões de casos e 211,5 mil mortes, com uma taxa de letalidade de 6,9%. A variação diária do número de casos globais foi de 68,6 e a variação diária do número absoluto de mortes foi de 4,5 mil. Estes números são bem menores do que os recordes ocorridos na semana passada, indicando uma desaceleração no ritmo mundial da pandemia.

A pandemia, o pandemônio econômico e o pandemônio político

A pandemia do novo coronavírus gerou um pandemônio econômico global e, segundo projeções do FMI, o mundo deve passar pela maior depressão econômica da história do capitalismo em 2020. Algumas nações vão sofrer mais do que outras. Mas, de um modo geral, os países estão se unindo politicamente para enfrentar a emergência sanitária e a emergência econômica. Todavia, no caso brasileiro não é bem assim, pois dois ministros de peso foram defenestrados, Luiz Henrique Mandetta, do Ministério da Saúde e Sérgio Moro, do Ministério da Justiça e Segurança Pública. E o outro ministro forte, Paulo Guedes, da Economia, está em situação delicada, pois foi deixado de fora de uma iniciativa pretensamente importante.

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No inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise

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Na semana passada, o governo Bolsonaro anunciou uma guinada na política econômica, com a proposta do plano Pró-Brasil. Embora seja um “plano” que se resume a 7 slides, anunciados pelo ministro Braga Netto, da Casa Civil, o “Pró-Brasil” foi apresentado com um orçamento de R$ 30 bilhões vindos do Tesouro e R$ 250 bilhões em concessões à iniciativa privada. Mas não estão claros os detalhes e o prazo para execução do plano e é muito estranho que uma iniciativa assim seja feita de forma tão amadora e sem os fundamentos quantitativos e metodológicos requeridos. Parece até mais uma distração para a falta de determinação ao combate da covid-19. Nitidamente, está faltando articulação e coordenação da governança nacional para colocar a pandemia sobre controle.

A pandemia e o acidente nuclear de Chernobyl

Em conferência ocorrida no aniversário do acidente nuclear de Chernobyl (25 e 26 de abril de 1986), o filósofo Francis Fukuyama abriu o debate intitulado “A lição de Chernobyl em tempo de pandemia”, dizendo: “Não creio que seja uma crise sem precedentes na história, mas é sem precedentes na vida de qualquer um de nós. Uma crise de escala global, que se desenvolveu tão rapidamente e que provavelmente terá profundas consequências econômicas para quase qualquer pessoa no mundo. Eu acho que é apropriado falar sobre isso no aniversário do desastre nuclear de Chernobyl, porque existem muitas semelhanças. Em certos termos, ambas foram causadas pelas modernas tecnologias. É claro que o vírus não é moderno, mas sua transmissão em um sistema de transporte e comércio globalizado foi possível graças às condições tecnológicas de nossa era. A ameaça que isso representa para as nações é semelhante à de Chernobyl e houve respostas semelhantes de governos de diferentes tipos: governos que procuram esconder o que está acontecendo e governos transparentes. Estamos descobrindo quais governos são capazes e quais não são”.

Frase do dia 28 de abril de 2020

“No inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise”.

Dante Alighieri (1265-1321)

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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Um comentário em “Diário da Covid-19: Brasil passa a China em número de mortes

  1. Fred Bueno disse:

    Vocês com certeza não devem estar parametrizando o CAOS vocês estão construindo ele.
    De que adianta ficarem nas trincheiras do denuncismo? Fazendo o pânico se instaurar. É vergonhosa a atitude de vocês com essa postura. Aqui é BRASIL não é YANKELANDIA!

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