Como comprar comida para alimentar a família com R$ 303, ou seja, um quarto de salário mínimo, valor da renda mensal de mais de 18% da população, e ainda pagar aluguel, água, luz e gás? Com esse mote, a campanha Natal sem Fome foi lançada, neste domingo (16/10), na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, com o objetivo de mobilizar a sociedade para ajudar quem enfrenta o drama. “A escolha entre o que comprar e o que deixar no carrinho nunca é fácil para ninguém. E quem passa por isso sabe que é impossível sobreviver com tão pouco por mês e ainda pagar todas as contas. É sobre isso que queremos chamar atenção esse ano”, afirmou Kiko Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania, ONG responsável pela organização da campanha.
As doações para o Natal Sem Fome devem ser realizadas pela internet até o final de dezembro, na página oficial (www.natalsemfome.org.br) ou através do PIX: doe@natalsemfome.org.br. No lançamento, foram feitas simulações das compras de comida de famílias que vivem com o valor de R$ 303. “A intenção é que as pessoas reflitam sobre a realidade econômica que o país vive atualmente e que a fome é um problema de todos. Não podemos passar mais um ano vendo a população se alimentando com restos, carcaças, peles e correndo atrás de caminhões de lixo. Se isso não é desumano, não sei mais o que é”, acrescentou Afonso.
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O quiosque na Praia de Copacabana tem totens com informações sobre a campanha e uma árvore de Natal decorada com restos de alimentos e uma mesa montada para a ceia com pratos vazios. Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) apontam que 33 milhões de brasileiros passam fome, entre os mais de 120 milhões que enfrentam algum tipo de insegurança alimentar no país. “De todas as campanhas do Natal Sem Fome que fizemos, em 30 anos de história, sem nenhuma dúvida esta é a mais importante. Não apenas pelo tamanho da fome em todo país, mas principalmente pela negligência e até negação com que ela vem sendo tratada por quem a deveria enfrentar, ou seja, o poder público”, ressaltou o produtor cultural Daniel de Souza, presidente do Conselho da Ação da Cidadania.
Daniel é filho do sociólogo Herbert de Souza, idealizador da campanha Natal sem Fome e fundador da Ação da Cidadania, em 1993. “O resultado da negligência com o drama da fome se materializa nas sobras de comida e carcaças que estão sendo disputadas por milhões de pessoas, e que nos envergonham enquanto país. Quando o que resta é apenas o resto, é preciso mostrá-lo à sociedade para que, assim como a ditadura, não se esqueça, e nunca mais aconteça”, afirmou ainda o presidente do Conselho a ONG
O Rio de Janeiro, sede da ONG, foi escolhido para o lançamento da mobilização nacional também porque representa hoje o retrato da fome no país, com mais de 15% da população sem ter o que comer. Representantes de comitês da campanha Natal sem Fome e lideranças voluntárias estiveram no quiosque que tem espaço para arrecadação de alimentos, painéis informativos, atividades para crianças e loja para venda de produtos da ONG.
O Natal Sem Fome desse ano integra o Pacto pelos 15% com Fome, movimento liderado pela Ação da Cidadania, que completou três meses na sexta-feira (15/10), atingindo a marca do equivalente a 1500 toneladas de alimentos arrecadados. A campanha busca formar uma grande rede de solidariedade no combate à fome, reunindo entidades da sociedade civil e empresas, grupos de mídia, agências de comunicação e publicidade, pessoas físicas, artistas e influenciadores. O pacto foi inspirado no grande chamamento que o fundador da ONG, Herbert de Souza, o Betinho, promoveu há quase 30 anos, quando também convocou o país inteiro a assumir um papel ativo na luta pelo direito à alimentação, movimento que deu origem à Ação da Cidadania – Contra a Fome, a Miséria e pela Vida.
