Há cinco anos, desde que fundou o Instituto Phi – ONG que assessora pessoas físicas e jurídicas a doar para projetos sociais – Luiza Serpa enfrenta um desafio: levar potenciais doadores de alta renda até as comunidades pobres para causar o choque de realidade às vezes necessário para despertar o desejo de fazer filantropia. Então, seguindo a máxima do ditado “Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé”, a executiva decidiu inovar na estratégia de captação de recursos para o terceiro setor: combinando storytelling e tecnologia, desde agosto, ela leva para as reuniões um óculos de realidade virtual e convida seu interlocutor a uma espécie de experiência imersiva em projetos sociais que preenchem lacunas dolorosas do poder público.
[g1_quote author_name=”Luiza Serpa” author_description=”Instituto Phi” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Precisamos derrubar muros. Muros de medo da violência que impede as pessoas de conhecerem os projetos in loco para entender as mazelas que combatem. Muros de desconfiança em relação à idoneidade das ONGs. Muros de falta de visão de que a desigualdade brutal é ruim até mesmo para a sobrevivência do atual capitalismo
[/g1_quote]Nos óculos, é exibido um documentário produzido em 360 graus pelo Instituto Phi em parceria com a Recode, organização social voltada ao empoderamento digital de jovens da periferia. Permeado por imagens da Rocinha, dando visibilidade a uma população que vive em condição de total vulnerabilidade social, o curta-metragem apresenta o trabalho de três das 410 instituições que já receberam apoio financeiro através do Instituto Phi até hoje – Creche Tio João, One by One e Banco da Providência –, com seus respectivos custos de manutenção.
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Veja o que já enviamos“Precisamos derrubar muros. Muros de medo da violência que impede as pessoas de conhecerem os projetos in loco para entender as mazelas que combatem. Muros de desconfiança em relação à idoneidade das ONGs. Muros de falta de visão de que a desigualdade brutal é ruim até mesmo para a sobrevivência do atual capitalismo”, destaca Luiza.
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Lilia Lima, fundadora da Creche Tio João, na Rocinha, mostra no vídeo como é o dia a dia das 90 crianças atendidas atualmente pela ONG, que surgiu para suprir a necessidade de mães trabalhadoras de crianças com idade a partir de 4 meses. Foi Lilia quem precisou negociar com o chefe do tráfico da comunidade para liberação da entrada da equipe de cinegrafistas.
“Expliquei que seria para o benefício das crianças. Queríamos mostrar as valas que, em época de chuvas, enchem e impedem o acesso à creche. Os emaranhados de fios de ligações clandestinas que, vira e mexe, causam falta de energia”, conta Lilia que, apesar dos problemas, comemora o iminente fim das obras de ampliação da creche, graças a um investimento recebido por intermédio do Phi. “A partir do mês que vem, vamos poder atender as 84 crianças que estão na fila de espera, oferecendo educação, higiene, alimentação e lazer, proporcionando um ambiente propício para o desenvolvimento cognitivo e emocional delas”.
O telespectador do documentário também conhece os programas do Banco da Providência, organização que trabalha para reduzir a desigualdade social por meio de projetos de capacitação profissional e geração de renda. Sua ação estratégica está concentrada em cinco bairros do Rio que abrangem 60 comunidades com os mais baixos índices de desenvolvimento humano (IDH). Anualmente, são capacitadas cerca de 500 famílias.
O curta-metragem apresenta ainda a One by One, que proporciona dignidade e inclusão social para crianças e jovens com deficiência de baixa renda, com sede na Barra da Tijuca. Como primeiro passo, a ONG oferece mobilidade doando cadeiras de rodas sob medida – mais de 900 cadeiras já foram fornecidas –, mas também oferece suprimentos, como fraldas descartáveis e leite, e promove oficinas de arte, estimulação pedagógica e qualificação para o mercado de trabalho.
Investidora social e voluntária na One by One, a executiva do setor de tecnologia Frances Tanure considera que a nova estratégia do Instituto Phi é muito inovadora e garante mais engajamento que os métodos mais tradicionais:
“É uma ferramenta complementar à eficiente estratégia de captação de recursos já implementada pelo Instituto Phi. Levar as pessoas a viver essa experiência faz com que elas se sintam mais envolvidas com aquelas situações. Muitos projetos são em lugares de difícil acesso, e Luiza encontrou uma solução para driblar esse obstáculo”, conta Frances, que participou do desenvolvimento do curso de preparação para o mercado de trabalho da One By One, trabalhando temas como tecnologia, comunicação e resolução de problemas.
Projeto calcados nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
Fundado em 2014, o Instituto Phi combina a alma da filantropia com a racionalidade do investimento para assessorar empresas e famílias na doação a projetos sociais sérios. Na prática, Luiza e sua equipe buscam potenciais doadores, entendem qual a causa que os motiva e apresentam projetos dentro do perfil selecionado. Para fazer parte do banco de instituições que recebem apoio através do Phi, há uma avaliação baseada em quatro pilares: transparência, qualidade de gestão, potencial de impacto e solidez. Depois da aplicação dos recursos, o Phi faz monitoramento do investimento, apresentando relatórios regulares que comprovem sua eficiência.
Os projetos que são apoiados pelo Phi precisam estar de acordo com as diretrizes dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que são um conjunto de 17 metas globais estabelecidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas para fortalecer a paz universal e transformar o mundo em um lugar melhor. Essas metas fazem parte da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e um dos valores fundamentais dessa agenda é “Não deixar ninguém para trás”.
“É fundamental garantir a inclusão daqueles que não se beneficiaram dos esforços de desenvolvimento empreendidos até aqui e evitar que mais pessoas se tornem socialmente excluídas. Todo mundo pode fazer alguma coisa, seja doando dinheiro, tempo, experiência ou materiais para projetos sociais que já estão aí transformando realidades”, conclui Luiza.