Desafios das organizações sociais aumentam após a pandemia

Formação de parcerias contribui para o fortalecimento das ONGs e possibilita o pleno desenvolvimento de seus projetos e ações

Por Vandré Brilhante e Vitor Hugo Neia | ArtigoODS 17 • Publicada em 23 de março de 2023 - 09:06 • Atualizada em 25 de novembro de 2023 - 13:57

Entrega de cestas básicas durante a pandemia: financiamento é desafio para ONGs (Foto: Divulgação)

O desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem em comunidades vulneráveis é um dos objetivos principais de boa parte das organizações sociais. Contudo, produzir transformações amplas e duradouras exige recursos financeiros e estrutura administrativa que nem sempre estão disponíveis, impedindo ou minimizando a atuação dessas instituições. Nesses casos, a formação de parcerias é uma estratégia importante pois contribui para o fortalecimento das ONGs e possibilita o pleno desenvolvimento de seus projetos e ações.

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Uma pesquisa do Instituto Datafolha mostrou que a falta de apoiadores financeiros é apontada como dificuldade para 41% das organizações sociais. Outros fatores que chamam a atenção são a carência em doação de materiais e equipamentos, que afeta 13% delas, e a baixa adesão de voluntários, que impacta 11% das organizações.

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Ainda de acordo com o estudo, as adversidades enfrentadas foram acentuadas pela crise sanitária e econômica provocada pela pandemia da covid-19. Segundo o Monitor de Doações da ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos), R$ 6,4 bilhões foram doados como resposta à covid-19 em 2020, até novembro. A maioria das contribuições, entretanto, ocorreu nos dois primeiros meses da pandemia. Em junho, as doações caíram para R$ 270 milhões. Em outubro, foram R$ 134 milhões.

Com a falta de investimentos, houve uma redução no número de organizações não governamentais (ONGs) e outras entidades sem fins lucrativos no país. Segundo o IBGE, em 2016 havia no Brasil 237 mil fundações privadas e associações sem fins lucrativos, as chamadas Fasfil. Na comparação com 2010, o número é de 16,5% menor (46.862 entidades a menos).

O levantamento também mostrou que as entidades sem fins lucrativos são relativamente novas no Brasil: 29,5% foram criadas entre 2001 e 2010 e 19,4% entre 2011 e 2016, correspondendo a 48,9% do total. Além disso, de acordo com estudo coordenado pelas consultorias Mobiliza e Reos Partner, 70% das organizações não governamentais (ONGs) no Brasil indicaram uma redução expressiva na entrada de recursos por conta da pandemia do novo coronavírus. Já 90% delas relataram interrupção em parte das atividades. Algumas foram obrigadas a encerrar os trabalhos. A queda na arrecadação afetou 7 em cada 10 ONGs. Já 9 em cada 10 diminuíram as atividades ou tiveram de encerrar.

Diante desse cenário, o CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável), organização da sociedade civil com 25 anos de atuação em todo o Brasil, uniu forças com a Fundação Grupo Volkswagen para criar o Tração, projeto que nasceu com o intuito de impulsionar organizações sociais. O objetivo é fortalecer as organizações selecionadas com investimento em formação, mentoria e incentivo financeiro para que possam aperfeiçoar o desenvolvimento dos seus processos de gestão, estruturar sua operação e ampliar seu impacto social no território.

Na prática, a iniciativa estimula o desenvolvimento local territorial, promovendo o desenvolvimento sustentável das regiões, bem como a construção de redes. Selecionadas em duas etapas, 14 organizações que atuam no entorno de unidades fabris e de negócios da empresa, no Brasil, vão receber um incentivo financeiro de R$ 21 mil cada (R$ 294 mil no total). O edital está vinculado à meta 10.2 dos Indicadores Brasileiros para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que trata da redução das desigualdades. A previsão é executar o Plano de Desenvolvimento Organizacional (PDO) até junho de 2023.

Dados de um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apontam que o Brasil conta, atualmente, com 815 mil organizações da sociedade civil (OSCs) em atividade no país. Concentradas principalmente na região Sudeste, suas principais áreas de atuação estão relacionadas à religião e defesa de direitos. Por outro lado, as análises revelam um segmento heterogêneo que vem diversificando suas articulações com Estado e iniciativa privada e ampliando o engajamento da sociedade civil.

Apesar dos avanços, permanecem desafios como a construção de bases de conhecimento sobre o setor e o impacto dos projetos executados por essas organizações perante a sociedade brasileira. Portanto, juntar esforços em uma mesma direção é fundamental para o desenvolvimento sustentável dos territórios, fornecendo ainda subsídios para políticas e medidas de aprimoramento do setor.

Ações que tem foco no desenvolvimento de pequenas organizações da sociedade civil são de extrema relevância para o fortalecimento do capital social local, identificação das principais demandas regionais e para a sustentabilidade das ações sociais, ambientais, educacionais e culturais que são empreendidas por essas organizações nos territórios.

Vandré Brilhante e Vitor Hugo Neia

Vandré Brilhante, fundador e Diretor-Presidente do CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável), é economista e especialista em Desenvolvimento Local, Gestão Estratégica e Gestão do Terceiro Setor; Vitor Hugo Neia, superintendente da Fundação Grupo Volkswagen, é formado em História pela USP e tem formação executiva em Sustentabilidade pela Cambridge Judge Business School e pós-graduação em Gestão Cultural

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