Um por todos, todos por um, diziam os heróis de “Os três mosqueteiros”. O lema poderia ter inspirado a história de 150 fotógrafos brasileiros que se uniram para ajudar uma colega de profissão: Mariana Bontempo, na luta para salvar a perninha de seu bebê, Lucas Santana Bontempo, de 1 ano e meio.
O filho de Mariana, uma requisitada fotógrafa de newborn (ensaios com bebês de até 15 dias) nasceu em 2014 com hemimelia fibular. Trata-se de uma má-formação congênita rara que ocasiona o encurtamento e deformidade da perna pela ausência de um osso chamado fíbula. Sua perninha e pezinho direitos sofreram graves deformações como a falta da articulação. A doença impede o bebê de andar e, no futuro, pode levar a amputação da perninha direita.
Na luta para ajudar o filho, Mariana, 27 anos, e o marido, o contador Diego Santana, 30 anos, descobriram o ortopedista americano Dror Paley. O médico, dono de um instituto na Flórida, criou em 1996 um procedimento chamado Superankle, com oito etapas cirúrgicas, que promete tornar normal a vida de crianças com hemimelia fibular.
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Veja o que já enviamosO casal, que vive em Goiânia, encontrou, então, a solução para a dificuldade motora de Lucas: operar o filho nos Estados Unidos. O novo problema: a alta do dólar. Com a desvalorização do real, a cirurgia chega a custar cerca de R$ 1 milhão.
Para conseguir a quantia, o casal vendeu casa, carro, moto. Pegou dinheiro emprestado com familiares e amigos. Trabalhou em dobro. E juntou quase R$ 600 mil. Não foi o suficiente.
-No dia 1 de janeiro deste ano, tivemos a ideia de lançar uma campanha na internet para arrecadar o que faltava – lembra Mariana, que parou de trabalhar com fotografia para se dedicar a Lucas e, agora, à campanha.
Pouco depois, inspirada pela luta de Mariana e Diego, a fotógrafa paulista Daniela Margotto, também especializada em ensaios com grávidas e recém-nascidos, lançou uma campanha voltada para os colegas de profissão. No dia 23 de janeiro, criou os #clickspelolucas, convocando fotógrafos de todo o país a doar ensaios para ajudar na arrecadação.
O anúncio foi feito no Periscope, rede social que transmite vídeos ao vivo. Com o engajamento de seis fotógrafos, eles postaram todos juntos a campanha no Facebook. Em uma semana, havia 150 fotógrafos brasileiros inscritos na campanha. A mobilização propõe que cada profissional ofereça ensaios com descontos e doem 100% da renda. Já foram doados cerca de 300 ensaios.
Desta maneira, o cliente que contrata o fotógrafo doa o dinheiro, sim, mas ganha as fotos, gastando bem menos do que o valor médio deste tipo de ensaio. Daniela, que costuma cobrar em torno de R$ 2 mil por sessão, anunciou por um valor promocional de R$ 500 quatro ensaios para as quatro primeiras pessoas que comentassem o post na rede social.
– Vendi os quatro ensaios em minutos. Foi uma bola de neve muito bacana – conta Daniela.
No Rio, a fotografa Fernanda Villela, além de fazer dois ensaios pelo valor promocional de R$ 450, ainda se mobilizou para criar um evento em benefício do Lucas. A ideia é fazer uma apresentação do grupo de contadores de história Circo do Macaco Prego no Parque das Ruínas com sorteio de novos ensaios para as famílias que comprarem ingresso.
– O que emociona é ver que mesmo num momento de crise econômica no país, os fotógrafos se uniram para doar seu ganha-pão – observa Fernanda.
É um belo exemplo de união de uma classe profissional em torno de uma causa sem qualquer interesse político, financeiro ou mesmo por condições de trabalho. É a união pelo outro. É menos o “um por todos” e mais “o todos por um” do romance do francês Alexandre Dumas.
– -Como posso agradecer a colegas que se unem para doar seu talento e seu trabalho pelo meu filho? – pergunta a mãe do Lucas. – É como se todos estes fotógrafos dissessem: é filho dela, mas é meu também.
* Melina Dalboni e o site #Colabora doaram a remuneração desta reportagem para a campanha #clickspelolucas. Se quiser participar, acesse http://www.unidospelolucas.com.br/