Arte colaborativa une Brasil e Holanda

Vinte artistas dos dois países trabalharão em conjunto produzindo obras em diversas linguagens

Por Maria Clara Parente | ODS 17ODS 9 • Publicada em 10 de julho de 2016 - 08:25 • Atualizada em 10 de julho de 2016 - 13:39

Artistas e Idealizadores do Hobra se reúnem em frente ao Reduto, espaço cultural em Botafogo, onde eles vão trocar experiências e farão a maior parte do trabalho
Artistas e Idealizadores do Hobra se reúnem em frente ao Reduto, espaço cultural em Botafogo, onde eles vão trocar experiências e farão a maior parte do trabalho
Artistas e Idealizadores do Hobra se reúnem em frente ao Reduto, espaço cultural em Botafogo, onde eles vão trocar experiências e farão a maior parte do trabalho

Enquanto os Jogos não começam, dez holandeses desembarcaram no Rio para uma imersão artística de três semanas, que faz parte do calendário cultural das Olimpíadas. Eles vão participar da residência artística colaborativa Hobra, que acontece do dia 11 até 31 de julho. O projeto também conta com dez artistas brasileiros que vão trabalhar em parceria com os holandeses para criar obras que serão apresentadas ao público gratuitamente no último dia de julho. Esse grande evento final ocupará museus e centros culturais em Santa Teresa, como a Casa Laurinda Santos Lobo e o Museu Casa de Benjamin Constant.

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Devemos encontrar os sonhos compartilhados. Se eles estão lá, o trabalho não será problema. Se não há identificação, não haverá nenhuma ligação verdadeira, e nem um resultado artístico interessante.

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Idealizado pelo Tempo Festival (Festival Internacional de Artes Cênicas do Rio de Janeiro) e financiado pela Holanda através de seus Ministérios de Negócios Estrangeiros e da Educação, Ciência e Cultura, a Hobra é uma experiência que une linguagens multidisciplinares. Os artistas reunidos são das mais diferentes áreas. E a união com a Holanda não foi por acaso.

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– Há muitos anos desenvolvemos projetos com artistas holandeses, temos interesse pelo intercâmbio, por projetos de residência, pela internacionalização da cultura e pela colaboração entre os países com o objetivo de fomentar e difundir arte e cultura – conta a diretora e curadora do Tempo Festival, Márcia Dias.

A concepção do Hobra foi feita com base na experiência de César Augusto, também diretor do Tempo Festival, no Rio Occupation London, em 2012, outra imersão artística que ocorreu durante os Jogos Olímpicos de Londres. Junto com Jorn Konijn, coordenador holandês do Hobra, foi proposto um projeto colaborativo com dez duplas de artistas holandeses e cariocas, de segmentos distintos: Arquitetura, Artes Cênicas, Artes Visuais, Cinema, Design, Literatura, Música, Novas Mídias, Dança e Doc Teatro. Além do trio de idealizadores do Tempo Festival, os artistas também foram selecionados por outros curadores, como Isabel Diegues, da editora Cobogó. O ponto de encontro dos artistas será o Reduto, espaço cultural em Botafogo, onde eles vão trocar experiências e serão provocados diariamente pelo pesquisador e ensaísta Fred Coelho.

– Dois países com histórias e culturas distantes, representados por duplas de artistas que não se conheciam previamente: tal situação já se constitui, por si só, uma provocação extrema. No caso dos artistas holandeses, o deslocamento para o Rio de Janeiro e sua realidade complexa e caótica provocam mais uma dobra nesse processo de desconhecimento e reconhecimento – escreveu Fred Coelho na página do Hobra.

O logo da Hobra, experiência que une linguagens multidiciplinares
O logo da Hobra, experiência que une linguagens multidiciplinares

A dupla de artes cênicas é formada pelo diretor, ator e autor carioca Pedro Kosovski, ganhador dos prêmios APTR, Cesgranrio e Shell pela peça Caranguejo Overdrive (2015), e pelo diretor de óperas e musicais holandês Sjaron Minailo, que trabalha com a fusão de música, dança, teatro, moda e artes visuais.  “É quase um encontro de aplicativos de relacionamentos, porque só nos falamos três vezes por Skype e agora vamos nos encontrar pessoalmente”, brinca Kosovski.

Acostumado a trabalhar com pessoas de outras culturas, principalmente de outros lugares da Europa, dos Estados Unidos e do Oriente Médio, Minailo acredita que a essência do trabalho colaborativo é achar um terreno comum:

– Devemos encontrar os sonhos compartilhados. Se eles estão lá, o trabalho não será problema. Se não há identificação, não haverá nenhuma ligação verdadeira, e nem um resultado artístico interessante.

Por outro lado, Kosovski ressalta a importância de um trabalho que valorize as diferenças na contramão dos movimentos nacionalistas de extrema direita que ultimamente voltaram a ganhar força no mundo.  Ele lembra da língua como ponto de partida dessa afirmação de diferença, já que os dois usam o inglês como mediação para se comunicar. Para Kosovski, a tradução tem dois lados: a perda de sentido e um novo sentido que é inventado.

Além da combinação entre teatro e música, que é o principal ponto em comum entre o trabalho dos dois artistas, eles também apostam suas fichas no potencial criativo da cidade. Para Kosovski, a obra que vai ser criada pela dupla passará por esse encontro com o Rio de Janeiro:

– A gente está num momento bem extremo no Brasil do ponto de vista político, pré Jogos Olímpicos, e a cidade está  fervilhando tanto no sentido da tensão que pode produzir obstáculos mas também coisas boas.  Estou muito receptivo para o que vai acontecer a partir do encontro.

Maria Clara Parente

Jornalista e mestre em literatura pela PUC-Rio. Trabalha com jornalismo ambiental e audiovisual desde 2016, com foco em novas economias, mudança sistêmica e justiça climática. No colabora, dirige a apresenta a série WebColaborativa e apresentou a primeira temporada da série Comendo Lixo(2018), sobre cozinha lixo zero. Co-dirigiu a série documental What is Emerging?(2019) e dirigiu o documentário Regenerar: Caminhos Possíveis em um Planeta Machucado(2022).

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