Servidor do IBAMA agredido durante operação de combate ao desmatamento

Discurso do presidente Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente encorajam criminosos a agredir os fiscais

Por Marizilda Cruppe | ODS 15 • Publicada em 6 de maio de 2020 - 10:20 • Atualizada em 6 de maio de 2020 - 16:44

Tratores dos madeireiros são queimados pelos fiscais como prevê o decreto 6.514/08. Foto Arquivo Pessoal

Um fiscal do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) foi agredido ontem, próximo ao município de Uruará, no sudoeste do Pará, durante uma operação de combate ao desmatamento ilegal no entorno da Terra Indígena Cachoeira Seca.

Os servidores federais identificaram, durante um sobrevoo, um acampamento de madeireiros ilegais que abandonaram o local na chegada dos fiscais. Foram deixados no pátio trezentos metros cúbicos de madeira de alto valor comercial, entre as espécies massaranduba e ipê, quatro caminhões e dois tratores. Como apenas um dos veículos tinha condições de ser removido, os demais foram destruídos no local como autoriza o Decreto 6.514/08.

No trajeto do acampamento ilegal para a cidade, segundo a nota emitida esta manhã pela Associação dos Servidores de Carreira de Especialista em Meio Ambiente do Pará, os agentes federais “foram emboscados por pretensos manifestantes, que desde a semana passada tentam impedir o trabalho de fiscalização, voltado para a proteção da TI Cachoeira Seca e de seus moradores originais, em especial de contaminação pela Covid-19, e cuja manifestação convocada para o dia 30 de abril passado, foi alvo de proibição por parte do TJ/PA, justamente por haver o entendimento que traria riscos à população indígena da TI.”

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O agente Givanildo dos Santos Lima tentou mediar o confronto e foi ferido quando uma garrafa foi atirada por um manifestante e atingiu seu rosto. Levado para o hospital, o servidor federal foi atendido e medicado. No vídeo é possível ver o servidor cercado por manifestantes e o momento em que ele é agredido.

A Cachoeira Seca se divide por três municípios: Altamira, Placas e Uruará, este último onde ocorreu a operação do IBAMA ontem. A maior parte de sua área está localizada na bacia do rio Xingu e o povo Arara foi severamente atingido pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Essa terra indígena está entre as dez mais desmatadas entre 2018 e 2019 segundo análises do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Levantamento da Rede Xingu+ feito através do Sistema de Indicação por Radar de Desmatamento na Bacia do Xingu(Sirad X) registrou um desmatamento de 7910 hectares em 2019. O mesmo sistema, que consiste numa série de algoritmos que processam as informações do satélite Sentinel-1, registrou um aumento de 10% do desmatamento no primeiro trimestre desse ano em relação ao mesmo período do ano anterior. A Rede Xingu+ é uma aliança política entre as principais organizações de povos indígenas, associações de comunidades tradicionais e instituições da sociedade civil atuantes na bacia do rio Xingu.

Marizilda Cruppe

​Marizilda Cruppe tentou ser engenheira, piloto de avião e se encontrou mesmo no fotojornalismo. Trabalhou no Jornal O Globo um bom tempo até se tornar fotógrafa independente. Gosta de contar histórias sobre direitos humanos, gênero, desigualdade social, saúde e meio-ambiente. Fotografa para organizações humanitárias e ambientais. Em 2016 deu a partida na criação da YVY Mulheres da Imagem, uma iniciativa que envolve mulheres de todas as regiões do Brasil. Era nômade desde 2015 e agora faz quarentena no oeste do Pará e respeita o distanciamento social.

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