Cabelos decoloridos, piercing no nariz e batom roxo nos lábios, Geovana Antunes Pivotto, uma jovem de 19 anos, é o rosto da nova geração de assentados rurais no país. Sua estética é urbana e contemporânea; seu modo de vida é rural e antigo. Sua família transformou a muvuca de sementes no principal ganha-pão dos Pivotto. Disseminada no país há 13 anos pela Rede de Sementes do Xingu, a técnica que usa uma mistura de sementes de diferentes espécies – daí o nome muvuca – de restauração de área degradada gera emprego e renda mantendo a floresta em pé, e custa três vezes menos do que o plantio tradicional de mudas.
No assentamento Caetés, onde Geovana mora na área rural de Diamantino, cidade distante 182km de Cuiabá, no Mato Grosso, as famílias de coletores derrubaram por terra a máxima de que “dinheiro não dá em árvore”. No ano passado, a renda oriunda da coleta de sementes representou um ganho médio de R$ 3,4 mil para os coletores locais do assentamento. Para eles, floresta vira semente e semente vira floresta.
Geovana é a segunda geração de uma família que sabe exatamente o valor da floresta em pé. Até o seu sobrinho, o pequeno Estevão Pivotto, de um ano e seis meses, representante da terceira geração da família, já aprendeu que com sementes pode comprar pirulitos. Os agricultores rurais trabalham em parceria com a Iniciativa Caminhos da Semente, coordenada pela Agroicone, com apoio técnico do Instituto Socioambiental (ISA). O projeto foi criado para estimular a semeadura direta – em dez anos, já se tem uma floresta baixa estratificada e, a partir deste período, novas espécies colonizam, trazidas pelas aves, morcegos e outros animais.
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Veja o que já enviamos“O passivo florestal brasileiro é de 19 milhões de hectares e está espalhado entre Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reservas Legais (RLs)”, comenta Laura Antoniazzi, sócia da Agroicone e coordenadora geral da Iniciativa. Só a Companhia Paranaense de Energia (Copel), por exemplo, precisa replantar 17 mil hectares de florestas. Recentemente, representantes da empresa estiveram em Diamantino para conhecer a experiência de replantio via semeadura direta.
Entre os estados da Amazônia Legal, Mato Grosso ocupa o segundo lugar no ranking dos dez maiores desmatadores do país, perdendo apenas para o Pará. A pressão do desmatamento é constante na região de Diamantino, onde a pecuária e a soja estão representadas por pesos-pesados do agronegócio nacional: os grupos Maggi e JBS. No último dia 14 de dezembro, os agricultores familiares de Caetés plantaram 62 espécies de sementes.
Tinha de tudo um pouco: Jatobá, Periquiteira, Pente-de-Macaco, Sucupira branca, Baru, Aroeira, Feijão Guandu e de Porco. No mercado de semente, o quilo da Sucupira custa em média R$ 600 o quilo; o da Periquiteira, R$ 122,00 e o do Jatobá, R$ 25,00. Parte das sementes foi usada no Parque Sesc Serra Azul, também conhecido como Sesc Pantanal, em Rosário Oeste, cidade vizinha a Diamantino. A demanda de restauração foi herdada do antigo dono da área.
É fato que depois de misturar sementes de diversas espécies nativas no quintal de casa e plantar tudo de uma vez só, a aparência de confusão, bagunça e tumulto prevaleçam no ambiente. Ledo engano. A muvuca de semente é uma técnica com forte componente de pesquisa. Várias universidades e teses de doutorado vêm, nos últimos anos, dando suporte, fazendo experimentos em campo na época certa, quando as chuvas começam e analisando toda a sobrevivência da planta até o final do primeiro ano. “É muito cálculo e pesquisa envolvidos na “muvuca” para garantir um mix de sementes com proporções calculadas de forma a assegurar uma boa cobertura florestal”, explica Maxmiller Ferreira, técnico agropecuário e biólogo da Agroicone.
*A repórter LIana Melo viajou a convite da Agroicone