Fogo atinge 30 milhões de hectares no Brasil com recorde na Amazônia em 2024

Um quarto do território brasileiro queimou pelo menos uma vez nas últimas quatro décadas, mostram dados divulgados pelo MapBiomas Fogo

Por Micael Olegário | ODS 15 • Publicada em 24 de junho de 2025 - 09:00 • Atualizada em 24 de junho de 2025 - 10:43

Incêndio na Amazônia; área atingida pelo fogo no bioma foi a segunda maior da história em 2024 (Foto: Mayangdi Inzaulgarat/Ibama – 17/09/2024)

O fogo atingiu 30 milhões de hectares do território brasileiro em 2024. Essa área queimada representa um percentual 62% superior à média histórica de 18,5 milhões por ano e equivale ao território total do Rio Grande do Sul ou do Equador. A quantidade de área queimada foi a segundo maior dos últimos 40 anos, inferior apenas a 2007. Entre 1985 e o último ano, 206 milhões de hectares foram atingidos – pelo menos uma vez – por incêndios no Brasil, o que significa quase um quarto do território nacional (851,487 milhões de hectares) e a soma das áreas do Pará e do Mato Grosso. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (24/06) na primeira edição do Relatório Anual do Fogo (RAF), produzido pelo MapBiomas Fogo.

Leia mais: Monitor do Fogo: área queimada no Brasil aumentou 79% em 2024

Os números integram a Coleção 4 de mapas de cicatrizes de fogo do Brasil e revelam os impactos do fogo nos diferentes biomas, além de tendências e padrões. O Cerrado e a Amazônia foram os territórios mais afetados e, juntos, correspondem a 86% da área queimada nos últimos 40 anos. Apenas em 2024, o bioma amazônico teve 15,6 milhões de hectares queimados, o que representa 52% de toda a área afetada por fogo no país, alta de 117% em relação à média histórica e recorde para o bioma desde o início da medição dos dados. 

Em 2024, pela primeira vez desde 1985, as florestas foram o tipo de vegetação mais afetado pelo fogo na Amazônia, com (43%), superior às queimadas em pastagens (33,7%). Coordenador de mapeamento do bioma Amazônia do MapBiomas, Felipe Martenexen destaca que o recorde de queimadas em 2024 está ligado à seca severa, agravada pelo fenômeno El Niño, mas também com a ação humana. “Esse ano as florestas foram mais impactadas, por isso, acreditamos que tenha muito a ver com um manejo inadequado do fogo em pastagens”, aponta Felipe. Segundo o especialista, os incêndios em florestas têm se tornado mais recorrentes e representam riscos para as dinâmicas desse ecossistema.

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O mapeamento, produzido a partir de imagens de satélite, também revela números preocupantes na Mata Atlântica, com 1,2 milhão de hectares queimados em 2024, um crescimento de 261% e o maior percentual da série histórica. O Pantanal, conhecido como a maior planície alagável do mundo, teve 62% de seu território queimado pelo menos uma vez no período analisado pelo MapBiomas Fogo, com aumento de 157% em 2024, atingindo um total de 2,2 milhões de hectares.

Ao identificar os locais e períodos mais críticos da ocorrência do fogo, o relatório permite apoiar o planejamento de medidas preventivas e direcionar de forma mais eficaz os esforços de combate aos incêndios

Ane Alencar
Diretora do IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo

O estudo indica que o período de agosto a outubro é o mais intenso de queimadas no Brasil, correspondendo a 72% da área afetada pelo fogo entre 1985 e 2014. 33% dos incêndios aconteceram em setembro e 64% do território nacional queimou mais de uma vez no período da série histórica. O Cerrado é o bioma com maior recorrência do fogo, onde 3,7 milhões de hectares queimaram mais de 16 vezes em 40 anos. 

Os únicos biomas onde a área queimada diminuiu em 2024 foram o Pampa, com 495 mil hectares atingidos pelo fogo, uma queda de 48% em relação ao ano anterior, e a Caatinga, com uma redução de 16% e 404 mil hectares afetados. Porém, os 11,15 milhões de hectares queimados na Caatinga entre 1985 a 2024 representam 13% do bioma. Na Amazônia, Pampa e Mata Atlântica predominam áreas queimadas de menores extensões, com menos de 250 hectares.

Cicatrizes do fogo

Segundo a pesquisa do MapBiomas Fogo, 43% de toda a área queimada no Brasil desde 1985 se concentrou nos últimos 10 anos, a partir de 2014. A maior parte (27%) do território atingido entre 1985 e 2024 corresponde a áreas queimadas que possuem entre 10 e 250 hectares. Em 2024, porém, quase um terço (29%) da área total queimada foi em mega eventos de fogo com mais de 100 mil hectares afetados. 

 “Essa primeira edição do RAF é uma ferramenta fundamental para apoiar políticas públicas e ações da gestão territorial do fogo. Ao identificar os locais e períodos mais críticos da ocorrência do fogo, o relatório permite apoiar o planejamento de medidas preventivas e direcionar de forma mais eficaz os esforços de combate aos incêndios”, destaca Ane Alencar, diretora de Ciências do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e coordenadora do MapBiomas Fogo.

O ano de 2024 também registrou aumento na vegetação nativa afetada pelo fogo (72,7% – 21, 8 milhões de hectares), em comparação com o total histórico (69,5% – 514 milhões de hectares). As florestas compõem o tipo de vegetação mais atingido, com 7,7 milhões de hectares queimados em 2024, uma extensão 287% superior à média histórica. 

Os biomas com maior proporção de vegetação nativa afetada pelo fogo entre 1985 e 2024 foram Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal, todos estes com mais de 80%. Na Amazônia e Mata Atlântica, o fogo ocorreu principalmente em áreas de ocupação humana (mais de 55%). No caso da Amazônia, as pastagens respondem por 53,2% da área queimada no período histórico; na Mata Atlântica, 28,9% da extensão queimada eram de pastagem e 11,4% de agricultura.

Brigadista e avião no combate a incêndio no Pantanal: bioma teve 2,2 milhões de hectares queimados no último ano (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil – 18/06/2024)

Pantanal sofre com mega queimadas

Entre os seis biomas brasileiros, proporcionalmente o Pantanal foi o mais afetado pelo fogo nos últimos 40 anos. A quase totalidade (93%) dos incêndios ocorreu em vegetação nativa, especialmente em formações campestres e campos alagados (71%). As pastagens representam 4% das áreas atingidas por fogo. O bioma mostra também uma grande recorrência do fogo: três em cada quatro hectares (72%) queimaram duas vezes ou mais nas últimas quatro décadas. 

As cicatrizes deixadas costumam ser mais extensas do que em outros biomas: é no Pantanal que se encontra a maior prevalência de extensões queimadas superiores a 100 mil hectares (19,6%).  Áreas com cicatrizes de queimada entre 500 e 10 mil hectares também se destacam (29,5%) e estão distribuídas por diferentes regiões do bioma. No ano passado, houve um aumento de 157% da área queimada no Pantanal na comparação com a média histórica do período avaliado pelo MapBiomas Fogo.

“Os dados históricos mostram a dinâmica do fogo no Pantanal, que se relaciona com a presença da vegetação natural e com os períodos de seca. Em 2024, o bioma queimou na região do entorno do Rio Paraguai, região que passa por maiores períodos de seca desde a última grande cheia em 2018”, explica Eduardo Rosa, coordenador de mapeamento do bioma Pantanal no MapBiomas. É no Pantanal onde fica o município com maior área queimada acumulada entre 1985 e 2024 – Corumbá (MS) – com mais de 3,8 milhões de hectares.

Mapa de área queimada nos biomas brasileiros entre 1985 e 2024; Cerrado e Amazônia concentram maior parte do território afetado pelo fogo (Arte: Divulgação/MapBiomas Fogo)

Amazônia e Cerrado

Entre 1985 e 2024, foram 89,5 milhões de hectares queimados no Cerrado e 87,5 milhões de hectares na Amazônia. Embora a área queimada nos dois biomas seja semelhante, há uma grande diferença em termos proporcionais, uma vez que a área total da Amazônia é quase o dobro do Cerrado. Por isso, na Amazônia, a área queimada pelo menos uma vez nos últimos 40 anos corresponde a 21% do bioma; no Cerrado, esse percentual é de 45%.  

É também na Amazônia e no Cerrado que se encontram os três estados brasileiros líderes em área queimada: Mato Grosso, Pará e Maranhão. Juntos, eles concentram 47% da área queimada em todo o Brasil entre 1985 e 2024.  Entre os 15 municípios brasileiros que mais queimaram, sete estão no Cerrado e seis na Amazônia. Juntos, esses 15 territórios respondem por 10% de toda a área afetada pelo fogo no Brasil nos últimos 40 anos.

No Cerrado, a área queimada, de 10,6 milhões de hectares em 2024, equivale a 35% do total queimado no país no ano passado e representa um crescimento de 10% em relação à média histórica de 9,6 milhões de hectares por ano. 

“Historicamente, o Cerrado evoluiu com a presença de fogo natural, geralmente provocado por raios durante o início da estação chuvosa. No entanto, o que temos observado é um aumento expressivo dos incêndios no período de seca, impulsionado principalmente por atividades humanas e agravado pelas mudanças climáticas” comenta Vera Arruda pesquisadora do IPAM e coordenadora técnica do MapBiomas Fogo.

Micael Olegário

Jornalista formado pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Gaúcho de Caibaté, no interior do Rio Grande do Sul. Mestrando em Comunicação na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Escreve sobre temas ligados a questões socioambientais, educação e acessibilidade.

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