Alertas de desmatamento na Amazônia batem recorde em junho

Depois do registro do maior número de queimadas desde 2007, sistema do Inpe detecta também derrubada de mais de mil quilômetros quadrados de floresta

Por Oscar Valporto | ODS 15 • Publicada em 9 de julho de 2021 - 19:15 • Atualizada em 19 de julho de 2021 - 10:25

Desmatamento em área de floresta em Roraima: Inpe registrou maior área desmatada para junho desde instalação do sistema Deter em 2016 (Foto: Felipe Werneck/Ibama – 08/05/2018)

Depois do registro do maior número de queimadas para junho desde 2007, os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontaram que a área sob alerta de desmatamento na Amazônia Legal em junho foi de 1.062 km² da floresta, um aumento de 1,8% em relação a junho de 2020 e a maior para o mês o início de monitoramento do sistema Deter-B, em 2016, Somente na última semana do mês passado foram 326 quilômetros: o acumulado de 2021 já soma 3.610 Km2, 17,1% maior que o mesmo período de 2020.

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Junho é o quarto mês consecutivo em que os índices de desmatamento batem recordes históricos mensais. O período também conseguiu ultrapassar o recorde registrado em junho de 2020, quando 1.043 km² ficaram sob alerta. O resultado indica que, no governo Bolsonaro, o desmatamento anual deverá ultrapassar pela terceira vez a marca de 10 mil km² de destruição florestal, o que não ocorria desde 2008. Faltam apenas os dados de julho para fechar o período da taxa oficial de desmatamento, o Prodes — medido de agosto de um ano a julho do seguinte. Em 2020 foram derrubados 10,8 mil km2 de florestas na Amazônia, a maior taxa em 12 anos.

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O Observatório do Clima – rede formada em 2002, composta por 66 organizações não governamentais e movimentos sociais – destacou, em nota, que as altas em registros de queimadas e de áreas desmatadas em junho reforçam que não há controle do desmatamento e que governo renunciou à obrigação de combater o crime ambiental. “Desde o início, o regime Bolsonaro sabota os órgãos de fiscalização ambiental e adota medidas para favorecer quem destrói nossas florestas”, afirmou Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

O primeiro semestre de 2021 também teve a maior área sob alerta de desmatamento em seis anos. “O governo Bolsonaro perdeu duas décadas de combate ao desmatamento em dois anos. Provavelmente precisaremos de outras duas para recuperar o legado desse desmonte”, ressaltou Maurício Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil.

O Observatório do Clima destacou que, além de discursos contra o Ibama e o ICMBio, o governo Bolsonaro promoveu mudanças em normas e imobilizou a estrutura de fiscalização. Desde outubro de 2019, um artifício burocrático criado pelo governo trava a cobrança de multas ambientais em todo o país. Em 2020, as multas por crimes contra a flora nos nove estados da Amazônia despencaram 51% na comparação com 2018. “Os altos índices de desmatamento não ocorrem por acaso: são resultado de um projeto do governo. Bolsonaro é hoje o pior inimigo da Amazônia”, frisou Marcio Astrini.

Os ambientalistas criticam a decisão do governo de mobilizar as Forças Armadas ao invés de fortalecer a fiscalização dos órgão ambientais. “É mais um triste recorde para a floresta e seus povos, esse número só confirma que o Governo Federal, não tem capacidade de combater toda essa destruição ambiental. Enviar o exército à Amazônia, somente neste momento em que o fogo e a devastação estão, mais uma vez, avançando sobre a floresta, é uma estratégia tardia e equivocada, deixando evidente que, na verdade, não há interesse em combater o desmatamento”, declara Rômulo Batista, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace.

O diretor da WWWR-Brasil lembrou que os dados mostram desmatamento em outros biomas e suas graves consequências. “A destruição da Amazônia e do Cerrado coloca em risco a segurança hídrica do país e também a nossa segurança energética, com sérias consequências para toda a economia. Essa provavelmente será a herança deste governo”, completou Voivodic.

Os alertas de desmatamento divulgados nesta sexta (09/07) foram feitos pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe, que produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares (0,03 km²), tanto para áreas totalmente desmatadas como para aquelas em processo de degradação florestal (exploração de madeira, mineração, queimadas e outras). O objetivo é facilitar ações de combate dos órgãos fiscalizadores.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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