No Dia Mundial do Manguezal, uma história de muitas perdas e algumas vitórias

Com a preservação dos manguezais, ganha o meio ambiente, ganha a sociedade, ganha a biodiversidade, ganha a pesca e ganha o ecoturismo. Foto Custodio Coimbra

Segundo o biólogo Mario Moscatelli, só na Baía de Guanabara, cerca de 60% dos manguezais já foram perdidos

Por Custodio Coimbra | ODS 14 • Publicada em 26 de julho de 2021 - 17:43 • Atualizada em 27 de julho de 2021 - 12:42

Com a preservação dos manguezais, ganha o meio ambiente, ganha a sociedade, ganha a biodiversidade, ganha a pesca e ganha o ecoturismo. Foto Custodio Coimbra

Desde 1965, as regiões de manguezais são ou deveriam ser protegidas pelo antigo Código Florestal. Na prática, a história é outra. Essas áreas sensíveis e ambientalmente fundamentais foram e continuam sendo ocupadas e usadas impunimente para expansão urbana, criação de marinas e loteamentos. Só na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, desde o início do processo de colonização, 60% das áreas foram destruídas. O biólogo Mário Moscatelli, um dos maiores combatentes na luta pela preservação desses ecossistemas, lembra que a “região metropolitana era riquíssima em áreas de manguezal, mas o crescimento urbano ordenado e desordenado suprimiram esse importante ecossistema que funciona como maternidade, supermercado de filtros, sequestrador de carbono, enfim, de diversidade”.

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Para combater esse processo de degradação, várias iniciativas vêm sendo adotadas. Entre elas, projetos de reflorestamento, como o que aconteceu no Canal do Fundão, entre 2010 e 2012, que criou uma área de 130 mil metros quadrados, o equivalente a 13 estádios do tamanho do Maracanã: “Em 2010 foi iniciado, juntamente com a Secretaria de Meio Ambiente, um trabalho para aumentar a circulação de água em uma das áreas mais degradadas da Baia de Guanabara. O material dragado era colocado dentro de embarcações e eliminado na região oceânica. Parte desse lixo e esgoto foi transformado em um aterro hidráulico onde plantamos mangue em cima. Com isso, em dez anos, onde havia apenas lixo e lama, hoje criou-se uma floresta. Só não está melhor porque as águas continuam contaminadas, mas a comunidade vegetal se instalou”, conta Moscatelli.

Os exemplos no Rio são inúmeros, em Gramacho, na Lagoa Rodrigo de Freitas, em Guaratiba e tantos outros. O biólogo, contudo, ressalta o impacto da recuperação dos manguezais, não apenas no meio ambiente, mas na geração de emprego e renda:

“A recuperação de uma área de manguezal gera um volume de trabalho para as comunidades de baixa renda gigantesco porque para plantar manguezal não precisa ter PHD, tem que ter disposição de encarar aquela condição ambiental. No projeto atual de Gramacho são 10 famílias que dependem do projeto. Isso você pode multiplicar talvez por cem se implementar um grande projeto de recuperação e criação de áreas de manguezal. O novo projeto está associado com a década de restauração de ecossistemas estabelecidos pela ONU, associado a uma sociedade que está se propondo a ser de baixo carbono e lembrando sempre que o mangue sequestra quatro vezes mais carbono do que qualquer tipo de floresta e tem uma importância gigantesca em áreas urbanas onde você tem fontes concentradas de emissão de carbono. Ou seja, ganha o mangue, ganha a sociedade, ganha a biodiversidade, ganha a pesca e ganha o ecoturismo. Só tem vantagem”, conclui Mário Moscatelli.

Custodio Coimbra

Fotógrafo de imprensa há 36 anos, Custodio Coimbra, 61 anos, passou pelos principais jornais do Rio e há 25 anos trabalha no jornal O Globo. Nascido no Rio de Janeiro, é hoje um artista requisitado entre colecionadores do mercado de fotografia de arte. Além de fotos divulgadas em jornais e revistas mundo afora, participou de dezenas de mostras coletivas no Brasil e no exterior. Tem sua obra identificada com a história e a paisagem do Rio de Janeiro.

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