Tragédia anunciada no Rio Grande do Sul

Porto Alegre vira cidade fantasma ao ser devastada pela enchente do rio Guaíba. A dramaticidade das imagens da destruição compõe um cenário de horror

Por Mirian Fichtner | ODS 13 • Publicada em 19 de julho de 2024 - 09:06 • Atualizada em 24 de julho de 2024 - 14:02

Lixo espalhado no bairro Ilhas, em Eldorado do Sul, Região Metropolitana de Porto Alegre. Foto: Mirian Fichtner

Fotografar e filmar a tragédia das enchentes de maio de 2024 em Porto Alegre e outras cidades do Rio Grande do Sul, estado em que nasci, foi um desafio imenso.

Nunca imaginei que presenciaria uma das maiores tragédias climáticas do Brasil, aqui no Rio Grande do Sul. As enchentes atingiram simultaneamente a capital Porto Alegre, a região metropolitana e o interior do estado. Tudo que era sólido desmanchou com a inundação.

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Muitos bairros da capital, da região metropolitana e cidades do interior do estado ficaram submersos e irreconhecíveis. Pareciam cidades fantasmas e exalavam um cheiro fétido de morte no ar. Dava para ouvir o silêncio do vazio, que, aos poucos, foi substituído pelas sirenes dos bombeiros e das ambulâncias, e o barulho de helicópteros. Cenas típicas de filme de terror, observadas pelos olhares perdidos e sem esperança – uma dor que não vai cessar tão cedo.

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Já se passaram pouco mais de dois meses do início da tragédia e os sinais de destruição continuam por toda parte: nos bairros periféricos e na região metropolitana de Porto Alegre, e nas cidades do interior. Casas fechadas e abandonadas e lixo nas ruas compõem um cenário de fim do mundo.  Só quem viu de perto esta situação consegue dimensionar o estrago na alma dos gaúchos, que, a cada nova chuva, sentem o pânico tomar conta de suas vidas. O trauma ainda não foi superado e surge a consciência que vai demorar muito para verem a vida “normalizada”.

Aos poucos, fomos vendo que não era uma enchente como a que ocorreu em 1941, que inundou a capital dos gaúchos. A cidade que cresceu e se desenvolveu em torno do Rio Guaíba foi vítima de uma combinação de fatores, que incluiu as mudanças climáticas, o “negacionismo” dos gestores públicos e a falta de manutenção dos diques, além do sucateamento dos órgãos que deveriam cuidar da infraestrutura da cidade e do Estado.

Fotografar esta calamidade foi uma experiência única e muito triste. Aos poucos, a notícia das enchentes e dos motivos dela vão ficando no passado, e, para que esta tragédia anunciada não seja esquecida, procurei registrar a intimidade do impacto das cenas pelos olhos dos moradores.

O Rio Grande do Sul que conhecíamos não existe mais e nada será como antes!

Para ver mais fotos sobre o tema, basta clicar no Instagram: @mirianfichtner.

Em agosto, a crise climática estará no centro da exposição FestFoto Poa, que vai ocorrer em agosto na Fundação Iberê Camargo.

 

Mirian Fichtner

Nasceu em Porto Alegre/RS, formou-se em jornalismo pela PUC/RS e trabalhou nos principais jornais e revistas do Brasil como: jornal Zero Hora , O Globo, O Dia, Jornal do Brasil e revistas Isto É, Veja e Época. Ganhou mais de 13 prêmios prêmios nacionais e internacionais. É autora dos livros: Cavalo de Santo-Religiões afro-gaúchas/2011 e “A vida que corre nos ônibus”/2011 e Rio – um olhar viajante -2015.

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