ODS 1
Retrospectiva 2023: catástrofes climáticas no ano mais quente da história
Com a volta do fenômeno El Niño, houve quebras seguidas de recordes de calor por todo planeta; a cada mês, novas tragédias anteciparam o futuro da humanidade
Os números oficiais só saem nos primeiros dias de janeiro mas climatologistas e meteorologistas da Organização Meteorológica Mundial (OMM), a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa), dos EUA, e do do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), da União Europeia, concordam: 2023 foi o ano mais quente da história, o mais quente em 174 anos das medições científicas, o ano mais quente dos últimos 125 mil anos, de acordo com as projeções de especialistas para o passado da Terra.
A temperatura média de novembro foi a mais alta para o mês na história, repetindo a rotina que vem desde julho: a cada mês, o recorde de calor para o período era superado. Em julho, foi registrado o dia mais quente da história – temperatura média global de 17,2º C no dia 7 de julho. Mas as catástrofes climáticas vinham se repetindo desde o começo do ano. Nesta retrospectiva, o #Colabora relembra as tragédias mês a mês para mostrar como 2023 foi desastroso – mas foram muito mais do que 12 os episódios extremos que provocaram mortes e deslocamentos forçados.
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Veja o que já enviamosOs Estados Unidos começaram o ano, fechando a conta das nevascas ocorridas a partir da noite de Natal: o balanço divulgado na primeira semana de janeiro apontou para 106 mortes em todo o país, provocadas pela passagem de um ciclone extratropical considerado histórico
Em fevereiro, no sábado, 18, choveu em poucas horas o equivalente ao dobro da média para o mês no litoral de São Paulo, entre Bertioga e São Sebastião: mais de 60 pessoas morreram.
Em março, foi divulgado um estudo da OMS e do Unicef apontando que mais 43 mil pessoas morreram em 2022 na Somália como resultado de uma seca cada vez mais extrema no país africano
Foi o abril mais quente da história na Ásia, com os termômetros marcando acima de 40 graus em mais de 12 países desde o começo do mês. As ondas de calor atingiram Índia e China, que, juntas, representam um terço da população mundial. Os meteorologistas registraram até 45 graus na Índia, Tailândia e Mianmar, e de 42°C a 43°C em Bangladesh, Laos, Vietnã, Nepal e China, temperaturas e condições climáticas que esses países não experimentavam há décadas.
Em maio, a Noaa, dos EUA, divulgou alerta para destacar que as condições do El Niño já influenciavam o clima e iriam se “fortalecer gradualmente”, ameaçando o mundo com tragédias climáticas: a América do Norte e a América do Sul tiveram o maio mais quente já registrado
Milhões de pessoas na América do Norte receberam alertas de saúde à medida que a fumaça de incêndios florestais canadenses se espalhava pelo continente em junho. A nuvem alaranjada chegou a Nova York e Washington no começo da pior temporada de queimadas da história no Canadá – a fumaça dos incêndios atravessou o Atlântico e chegou à Europa.
Com a chegada do verão e o fortalecimento do El Niño, julho teve ondas de calor simultâneas em partes da Ásia, inclusive o Oriente Médio, na América do Norte, na Europa mediterrânea e no norte da África. Mais de 10 países registraram temperaturas acima de 50 graus. No México, mais de 100 pessoas morreram vítimas do calor.
Intenso incêndio florestal atingiu o estado americano do Havaí, no Pacífico, em agosto, e causou mais de 100 vítimas fatais e foi considerado o mais mortal da história dos EUA em pelo menos cem anos.
Em setembro, a passagem de ciclone pelo Rio Grande do Sul provocou uma sequência de enchentes, arrastou casas, causou deslizamentos de terra. A tragédia, no Vale do Taquari, arrasou cidades e deixou, pelo menos, 50 mortos. Em novembro, novos temporais voltariam a causar mortes nos estados do Sul
Setembro também foi marcado pelo ciclone Daniel, considerado o mais forte e o mais mortífero no Mar Mediterrâneo. Na costa africana, a Líbia anunciou mais de 10 mil mortes causadas pela catástrofe climática; houve mortes também na Grécia, na Bulgária, na Turquia e no Egito.
A seca extrema na Amazônia, retrato das mudanças climáticas, surpreendeu o mundo em outubro: rios secaram, barcos encalharam, comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas ficaram isoladas e as queimadas se multiplicaram, cobrindo Manaus e outras cidades com nuvens de fumaça. Com a temperatura da água atingindo alta recorde, dezenas de botos e milhares de peixes morreram.
As ondas de calor se espalharam pelo país em novembro, atingindo mais de 1.600 municípios em 15 estados brasileiros. No dia 19, o município mineiro de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, registrou a maior temperatura já verificada no Brasil pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia): 44,8º graus Celsius (o recorde anterior era de 44,7º C, em Bom Jesus, Piauí, em 2005). O calor recorde alcançou também cidades do Pantanal, o bioma registrou mais de mais de 3 mil focos de incêndio, número cinco vezes maior que a média histórica para o mês.
O verão chegou ao Hemisfério Sul em dezembro, trazendo novas ondas de calor: as temperaturas já passaram de 40 graus no Peru, no Chile e no Paraguai, cidades paraguaias chegaram a registrar 44º C na véspera de Natal – no Brasil, é claro, os termômetros já passaram dos 40° C no interior do Nordeste. A Austrália passou o Natal sob alertas de onda de calor, incêndios florestais e tempestades de verão.
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Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade