Segundo maior bioma brasileiro – atrás apenas da Amazônia –, o Cerrado agoniza. Presente em 11 estados e esparramado por cerca de dois milhões de quilômetros quadrados, ocupa um quarto do território nacional, abriga 5% das espécies do planeta e 30% da biodiversidade brasileira. Apesar dos superlativos, vive sob ameaça diuturna do agronegócio, que substitui vegetação nativa por extensas áreas de monocultura e pecuária. Pouco mais de metade do seu território (52%) foi destruído, deixando cenário de devastação ambiental. Junto com a Mata Atlântica, o Cerrado, considerado a savana mais rica do mundo, entrou para a lista de hotspot global de conservação – só entram para esse ranking as áreas de conservação com sério risco de extinção.
Não bastasse a expansão desenfreada do agronegócio no Cerrado, que transforma tudo em pastagem e área agrícola, a grilagem organizada vem ameaçando a biodiversidade local e as comunidades tradicionais. A região do Matopiba, acrônimo formado com as iniciais dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, é o alvo preferencial dos grileiros, como ficaram conhecidos os ladrões de terras públicas. De mãos dados com o governo, setores do agronegócio defendem a tese de que a falta de regularização fundiária no país é uma das principais causas do desmatamento, atividade diretamente associada à prática da grilagem.
Berço das águas do país, é justamente no seu subsolo que está a maior riqueza. O Cerrado alimenta três aquíferos subterrâneos e seis das grandes bacias hidrográficas brasileiras, mais todo o Pantanal. O bioma em pé é a garantia de que a umidade e o vapor d’água da bacia amazônica vão chegar nas regiões Sul e Sudeste do país, permitindo assim a regularidade do regime de chuvas. A devastação da sua cobertura vegetal compromete nascentes, rios, riachos, além de ameaçar a sobrevivência dos povos que vivem no Cerrado e do Cerrado. Ele abriga 25 milhões de pessoas, distribuídas em 1.330 municípios.
Enquanto comunidades tradicionais, povos indígenas e quilombolas aguardam há anos a regularização de suas terras, os inquilinos do poder tentam atender interesses dos grandes proprietários de terra e, consequentemente, enfraquecer as salvaguardas ambientais.
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Veja o que já enviamosNa série de reportagens “Grilagem espreita o Cerrado”, a ser publicada nas próximas semanas, o Projeto#Colabora, em parceria com o Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN), esquadrinhou o bioma para dimensionar os impactos da proposta de mudança na regulação fundiária, mostrando os perigos que o espreitam, o potencial do bioma e os saberes dos povos da região.
O Museu do Cerrado que é um museu virtual com o objetivo de divulgar os conhecimentos científicos, os saberes e os fazeres populares acerca da sociobiodiversidade do Sistema Biogeográfico do Cerrado. Convido-lhe a visitá-lo no seguinte site e peço que divulgue na sua lista de contatos:
http://www.museucerrado.com.br
Prezada Liana, Boa Noite! Parabéns pela reportagem sobre o Cerrado que além da grilagem de terras, tem sofrido desmatamento irreparável para o agronegócio – monocultura da soja, com intensificação do agrotóxicos ampliado a liberação pelo governo atual – lamentavelmente. Cabe, levarmos ao Congresso Nacional, assinaturas para incluir o Bioma Cerrado e Pantanal na Constituição Federal, fazendo com que a nova fronteira agrícola não avance mais do que os graves impactos causados no nosso Cerrado, além de cobrarmos do poder público, audiências públicas e ampliarmos o movimento em defesa destes biomas tão afetados pela falácia do “desenvolvimento agrícola”. Estou a disposição para auxiliar nesta ação em defesa do nosso Cerrado. Cordialmente, Prof. Davi Silva Fagundes