Mercado de carbono pode chegar a US$ 72 bilhões

Setor privado defende que o Brasil apoie a regulamentação desse mercado na COP26; iniciativa pode beneficiar populações tradicionais

Por Liana Melo | ODS 13 • Publicada em 28 de outubro de 2021 - 10:15 • Atualizada em 2 de novembro de 2021 - 09:14

As plantações de soja estão entre os vilões do desmatamento na Amazônia (Foto Marizilda Cruppe/Rede Amazônia Sustentável)

As plantações de soja estão entre os vilões do desmatamento na Amazônia (Foto Marizilda Cruppe/Rede Amazônia Sustentável)

Setor privado defende que o Brasil apoie a regulamentação desse mercado na COP26; iniciativa pode beneficiar populações tradicionais

Por Liana Melo | ODS 13 • Publicada em 28 de outubro de 2021 - 10:15 • Atualizada em 2 de novembro de 2021 - 09:14

O Brasil só tem a ganhar com o mercado global de carbono. Um estudo inédito do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) calculou entre US$ 16 bilhões e US$ 72 bilhões o potencial de venda do país de créditos de carbono até 2030. Só que para acessar esse mercado milionário, o Brasil precisa fazer urgentemente o dever de casa e enfrentar o seu maior calcanhar de Aquiles: o desmatamento. É na condição de vilão do clima que o país chega, nesse domingo, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP26, em Glasgow, na Escócia. O desmatamento estará sob os holofotes durante o encontro da ONU, que termina no dia de 12 de novembro.

Além de aumentar a emissão de gases de efeito estufa, o desmatamento não gera riqueza para o país – o desmatamento ilegal, por sua vez, só incentiva a criminalidade. Estudioso desse mercado há mais duas décadas e consultor do Cebds, o professor da Uerj Ronaldo Seroa costuma explicar que “apenas reduzindo o desmatamento ilegal, que além de ilegal não traz nenhuma riqueza ao país, só prejuízo, conseguimos reduzir 50% a mais do que prometemos”.

De malas prontas para Glasgow, a gerente de Clima e Finanças Climáticas do Cebds, Natália Renteria, antecipou para a série “A caminho de Glasgow” o que está em jogo nas negociações climáticas durante a COP26 e o que pode significar para o país destravar a negociação das regras do artigo 6 do Acordo de Paris, que regula o mercado global de carbono e foi criado em 2015 – durante o encontro em Glasgow será feita a primeira revisão e atualização dos compromissos assumidos no Acordo de Paris, daí porque vem aumentando a pressão para os países assumirem metas mais ambiciosas de redução das emissões.

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A geração de créditos de carbono vai muito além do crédito em si. Todos ganham, inclusive as populações locais e o pequeno agricultor. O mercado de crédito de carbono movimento a bioeconomia local, gerando renda para essas populações

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“A geração de créditos de carbono vai muito além do crédito em si. Todos ganham, inclusive as populações locais e o pequeno agricultor. O mercado de crédito de carbono movimento a bioeconomia local, gerando renda para essas populações”, comentou Natália, explicando que, até agora, não foi possível regulamentar o artigo 6 por falta de consenso entre os países.

O Brasil foi um dos maiores entraves à regulamentação do artigo 6 em Madri, quando ocorreu a COP25 na Espanha, em 2019. Desde então, o Cebds, em nome do setor empresarial brasileiro, vem fazendo pressão para o governo Bolsonaro rever sua posição. Levantamento da International Emissions Trading Association calcula que ao destravar o artigo 6, o comércio global de carbono pode gerar cifrar milionárias: US$ 167 bilhões ao ano em 2030 e de US$ 347 bilhões ao ano em 2050. A expectativa do Cebds é que há chances de as divergências serem superadas na COP26.

“Chegar a um entendimento definitivo sobre as regras é fundamental para a retomada econômica verde brasileira”, defende Marina Grossi, presidente do Cebds, comentando que “esses instrumentos trarão recursos financeiros que vão gerar empregos e ampliar a tecnologia do Brasil rumo a uma economia de baixo carbono”. Para o Cebds, o mercado de carbono é uma “é uma janela de oportunidade para o Brasil, que, poderá, não só escoar seus recursos florestais e agrícolas, valorizando assim grandes ativos naturais que o país possui, mas também, engajar nosso setor privado num comércio global de emissões na sua trajetória de neutralização.”

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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