O Brasil só tem a ganhar com o mercado global de carbono. Um estudo inédito do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) calculou entre US$ 16 bilhões e US$ 72 bilhões o potencial de venda do país de créditos de carbono até 2030. Só que para acessar esse mercado milionário, o Brasil precisa fazer urgentemente o dever de casa e enfrentar o seu maior calcanhar de Aquiles: o desmatamento. É na condição de vilão do clima que o país chega, nesse domingo, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP26, em Glasgow, na Escócia. O desmatamento estará sob os holofotes durante o encontro da ONU, que termina no dia de 12 de novembro.
Além de aumentar a emissão de gases de efeito estufa, o desmatamento não gera riqueza para o país – o desmatamento ilegal, por sua vez, só incentiva a criminalidade. Estudioso desse mercado há mais duas décadas e consultor do Cebds, o professor da Uerj Ronaldo Seroa costuma explicar que “apenas reduzindo o desmatamento ilegal, que além de ilegal não traz nenhuma riqueza ao país, só prejuízo, conseguimos reduzir 50% a mais do que prometemos”.
De malas prontas para Glasgow, a gerente de Clima e Finanças Climáticas do Cebds, Natália Renteria, antecipou para a série “A caminho de Glasgow” o que está em jogo nas negociações climáticas durante a COP26 e o que pode significar para o país destravar a negociação das regras do artigo 6 do Acordo de Paris, que regula o mercado global de carbono e foi criado em 2015 – durante o encontro em Glasgow será feita a primeira revisão e atualização dos compromissos assumidos no Acordo de Paris, daí porque vem aumentando a pressão para os países assumirem metas mais ambiciosas de redução das emissões.
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Veja o que já enviamosA geração de créditos de carbono vai muito além do crédito em si. Todos ganham, inclusive as populações locais e o pequeno agricultor. O mercado de crédito de carbono movimento a bioeconomia local, gerando renda para essas populações
[/g1_quote]“A geração de créditos de carbono vai muito além do crédito em si. Todos ganham, inclusive as populações locais e o pequeno agricultor. O mercado de crédito de carbono movimento a bioeconomia local, gerando renda para essas populações”, comentou Natália, explicando que, até agora, não foi possível regulamentar o artigo 6 por falta de consenso entre os países.
O Brasil foi um dos maiores entraves à regulamentação do artigo 6 em Madri, quando ocorreu a COP25 na Espanha, em 2019. Desde então, o Cebds, em nome do setor empresarial brasileiro, vem fazendo pressão para o governo Bolsonaro rever sua posição. Levantamento da International Emissions Trading Association calcula que ao destravar o artigo 6, o comércio global de carbono pode gerar cifrar milionárias: US$ 167 bilhões ao ano em 2030 e de US$ 347 bilhões ao ano em 2050. A expectativa do Cebds é que há chances de as divergências serem superadas na COP26.
“Chegar a um entendimento definitivo sobre as regras é fundamental para a retomada econômica verde brasileira”, defende Marina Grossi, presidente do Cebds, comentando que “esses instrumentos trarão recursos financeiros que vão gerar empregos e ampliar a tecnologia do Brasil rumo a uma economia de baixo carbono”. Para o Cebds, o mercado de carbono é uma “é uma janela de oportunidade para o Brasil, que, poderá, não só escoar seus recursos florestais e agrícolas, valorizando assim grandes ativos naturais que o país possui, mas também, engajar nosso setor privado num comércio global de emissões na sua trajetória de neutralização.”