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Leão XIV: novo Papa tem as preocupações climáticas e sociais de Francisco

Em seminário em 2024, o então cardeal Robert Prevost defendeu a necessidade de passar "das palavras à ação" no enfrentamento da crise climática e uma relação de reciprocidade entre homem e natureza

“O domínio sobre a natureza — a tarefa que Deus confiou à humanidade — não deve se tornar tirânico. Deve ser uma relação de reciprocidade com o meio ambiente”. Estas foram algumas das palavras do então cardeal Robert Francis Prevost, como presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina e prefeito do Dicastério para os Bispos, ao participar de um seminário no Vaticano sobre a crise climática e seus impactos globais em novembro de 2024, pouco depois do fim da COP29. O agora Papa Leão XIV enfatizou que era hora de passar “das palavras à ação” no enfrentamento das mudanças do clima, acrescentando que a resposta a esse desafio devia se basear na Doutrina Social da Igreja.
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A preocupação com a crise climática e seus impactos sobre os mais vulneráveis parecem aproximar o Papa eleito nesta quinta-feira (08/05) de Francisco, responsável inclusive pela nomeação do então cardeal para esses importantes cargos no Vaticano. “Nos ajudem a construir pontes vocês também, com diálogos, com encontro, para sermos um único povo, sempre em paz”, disse o Papa Leão XIV. “Construir pontes” é uma expressão que o Papa Francisco costumava usar para explicar sua aproximação com líderes de outras religiões e seu diálogo com divergentes.
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Veja o que já enviamosNascido em Chicago, nos Estados Unidos, Prevost tem 69 anos e se torna o primeiro papa norte-americano da história da Igreja Católica. É também o primeiro pontífice vindo de um país de maioria protestante. Apesar da origem norte-americana, Prevost construiu grande parte de sua trajetória religiosa na América Latina, especialmente no Peru, onde permaneceu por mais de 10 anos: Leão XIV também tem cidadania peruana. No discurso após ser eleito Papa, ele mandou um recado ao Peru. “Uma saudação a todos, em especial a diocese de Chiclayo, onde um povo fiel um dia acompanhou o seu bispo, compartilho sua fé, e deu muito, muito para seguir sendo a igreja fiel de Jesus Cristo”, disse em espanhol – foi a primeira vez que um papa falou em outro idioma além do italiano no discurso inaugural. “A todos vocês, irmãos e irmãs de Roma, da Itália e do mundo inteiro: queremos ser uma igreja que sempre busca a paz, a caridade, e estar próximo a aqueles que sofrem”, acrescentou.
Próximo a Francisco, que o promoveu a cardeal em 2023, o papa Leão XIV indicou também em seu discurso que dará continuidade ao trabalho de do antecessor. “Queremos ser uma igreja sinodal, que avança, que busca sempre a paz, a caridade, sempre estar próxima, principalmente daqueles que sofrem”, disse. “Ainda mantemos nos nossos ouvidos aquela voz fraca, mas sempre corajosa, de papa Francisco que abençoava Roma. O papa que abençoava Roma dava sua benção ao mundo inteira naquela manhã no dia de Páscoa. Permitam-me dar seguimento aquela mesma benção. Deus nos ama, Deus ama a todos, e o mal não vai prevalecer”, afirmou aos católicos reunidos na Praça de São Pedro.
O nome escolhido pelo cardeal Robert Prevost para seu pontificado também aponta para um perfil reformista, alinhado a Francisco. Leão XIII foi escolhido pelo italiano Gioacchino Pecci, há quase 150 anos (em 1878). Na visão dos arquivos dos historiadores, Leão XIII foi um papa inovador para sua época, buscando conciliar a tradição da Igreja com os desafios do mundo moderno, especialmente na área social. Publicou a famosa encíclica Rerum Novarum (em 1891), em que abordou a questão operária, os direitos dos trabalhadores e a justiça social. Este documento é considerado o marco inicial da Doutrina Social da Igreja – aquela mesma citada pelo cardeal Prevost no debate sobre a crise climática.
O novo Papa também fez questão de lembrar, logo no discurso inicial, sua formação de agostiniano, de discípulo de Santo Agostinho. Os agostinianos – uma das ordens mais antigas da Igreja Católica – acreditam que viver em comunidade é essencial para seguir o Evangelho. Eles compartilham não apenas bens materiais, mas também a fé, os estudos e a oração numa convivência reconhecido como um caminho concreto para Deus. “Sou filho de Santo Agostinho, agostiniano, que dizia: “convosco sou cristão e para vós bispo”. Neste sentido, podemos caminhar todos juntos em direção à pátria que Deus preparou para nós”, disse o Papa Leão XIV.

A seguir, a íntegra da primeira saudação do novo Papa.
“A paz esteja com todos vós!
Queridos irmãos e irmãs, esta é a primeira saudação de Cristo ressuscitado, o Bom Pastor que que deu a sua vida pelo rebanho de Deus. Também eu gostaria que esta saudação de paz entrasse nos vossos corações, chegue às vossas famílias, a todas as pessoas, onde quer que se encontrem, a todos os povos, a toda a terra. A paz esteja convosco!
Esta é a paz de Cristo ressuscitado, uma paz desarmada e uma paz desarmante, humilde e perseverante. Ela vem de Deus, Deus que nos ama a todos incondicionalmente. Ainda conservamos nos nossos corações, ainda temos nos nossos ouvidos aquela voz fraca, mas sempre corajosa do Papa Francisco que abençoa Roma!
O Papa que abençoa Roma deu a sua bênção ao mundo, ao mundo inteiro, naquela manhã do dia de Páscoa. Permitam-me que continue com essa mesma bênção: Deus ama-nos, Deus ama-vos a todos, e o mal não prevalecerá! Estamos todos nas mãos de Deus. Por isso, sem medo, unidos de mãos dadas unidos de mãos dadas com Deus e uns com os outros, vamos em frente. Somos discípulos de Cristo. Cristo vai à nossa frente. O mundo precisa da sua luz.
A humanidade precisa d’Ele como ponte para ser alcançada por Deus e seu amor. Ajuda-nos também a nós, uns aos outros, a construir pontes, com o diálogo, com o encontro, unindo-nos a todos para sermos um povo sempre em paz.
Obrigado Papa Francisco!
Quero agradecer também a todos os meus irmãos cardeais que me escolheram para ser Sucessor de Pedro e para caminhar convosco, como Igreja unida, procurando sempre a paz, a justiça, procurando sempre trabalhar como homens e mulheres fiéis a Jesus Cristo, sem medo, para anunciar o Evangelho, ser missionários.
Sou filho de Santo Agostinho, agostiniano, que dizia: “convosco sou cristão e para vós bispo”. Neste sentido, podemos caminhar todos juntos em direção à pátria que Deus preparou para nós.
À Igreja de Roma uma saudação especial! Devemos procurar juntos como ser uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, que dialoga, que está sempre aberta a receber como esta praça, de braços abertos. Todos, todos os que precisam da nossa caridade, da nossa presença, do diálogo e do amor.
A todos vós, irmãos e irmãs de Roma, de Itália, de todo o mundo, queremos ser uma Igreja sinodal, uma Igreja que caminha, uma Igreja que procura sempre a paz, que procura sempre a caridade, que procura sempre estar próxima sobretudo daqueles que sofrem.
Hoje é o dia da súplica à Madona de Pompéia. Nossa mãe Maria quer sempre caminhar conosco, estar perto de nós, ajudar-nos com sua intercessão, seu amor. Então eu gostaria de rezar junto com vocês.
Rezemos juntos por esta nova missão, mas por toda a Igreja, pela paz no mundo, e peçamos esta graça especial a Maria, nossa mãe.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.”
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