Estudante baiana ganha passagem para representar o Brasil na COP28

Lara Borges, 17 anos, filha de pescadores, carimbou o passaporte para o evento com uma frase que desafia as pessoas a superarem as diferenças em prol do meio ambiente

Por Adriana Amâncio | ODS 13 • Publicada em 30 de novembro de 2023 - 08:02 • Atualizada em 10 de dezembro de 2023 - 22:09

Lara, que está com tudo pronto para a viagem, afirma que vai deixar a bagagem com bastante espaço para trazer muito conhecimento. Foto Arquivo pessoal

“Conseguimos estudar a máquina mais poderosa, o cérebro, seremos incapazes de cuidar do nosso planeta”. Esse é um trecho da frase que carimbou o passaporte de Lara Borges, estudante e bolsista do Colégio Evolução, em Porto Seguro, para representar o Brasil na Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP28), que acontece até o dia 12 de dezembro, em Dubai, nos Emirados Árabes.

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Para garantir presença na COP28, a jovem competiu com mais de 2 mil estudantes de 300 escolas públicas e privadas de todo o Brasil e teve que apresentar o texto em inglês. A mensagem de Lara convoca o público a esquecer as diferenças culturais, econômicas e religiosas que definem a geopolítica mundial em prol da defesa ambiental.

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A iniciativa faz parte do Estimule Empatia, um projeto que mobiliza estudantes a pensarem nas questões ambientais. A ação combina meio ambiente e inteligência artificial. O texto produzido por Lara foi lido por um equipamento de inteligência artificial, gerando uma imagem ilustrativa: “Eu estou indo para a COP com uma mala bem grande para trazê-la repleta de conhecimento”, planeja a jovem.

Lara tem 17 anos e nasceu em Alcobaça, cidade do extremo Sul da Bahia. Filha de pescadores, conta que viver entre os rios foi o primeiro passo para conhecer a biodiversidade: “A minha família sempre tirou o sustento da pesca, então, desde pequena, aprendi a respeitar a natureza”, explica.

Imagem gerada por inteligência artificial a partir da mensagem produzida por Lara Borges. Foto Arquivo Edify
Imagem gerada por inteligência artificial a partir da mensagem produzida por Lara Borges. Foto Arquivo Edify

A mensagem que ela escreveu, inclusive, teve inspiração na realidade em que se encontra a sua cidade, cuja economia é baseada na atividade pesqueira: “Hoje, a pesca no meu município não é farta como antes. A diversidade de peixes diminuiu muito, pois nem todas as pessoas respeitam as leis ambientais”, esclarece.

A jovem, que veio morar com a mãe e o padrasto em Porto Seguro, cumpriu todas as etapas de ensino em escola pública. Em 2020, interrompeu os estudos por causa da pandemia. No ano seguinte, em 2021, retomou os estudos e, desta vez, conseguiu uma bolsa parcial e o apoio do padrasto para ingressar em uma escola privada. Ela está no último ano do Ensino Médio, já se planejando para iniciar a vida Acadêmica.

Ajuda do professor de inglês

Lara conta que chegou a apagar o texto e desistir da competição. No último minuto, resolveu pedir auxílio ao professor na correção e competir: “Com essa conquista, estou começando a acreditar mais em mim. Eu não acreditava que era capaz de ganhar por ter vindo de escola pública. Agora, sei que posso demonstrar o meu potencial e entrar em uma universidade”, planeja.

Márcio Sant’Ana, professor de inglês que acompanhou a jovem desde o início da jornada até o prêmio, reconhece que a vitória é a coroação de um ano de muita dedicação aos estudos. “Falar de Lara é muito fácil. Ela é muito engajada, muito comprometida com os estudos e sobretudo com os temas que trabalhamos nas aulas de inglês. Este ano, o tema escolhido foi a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU)”, explica.

O Fórum do Conhecimento foi o atalho entre a jovem Lara e o projeto Estimule Empatia, que foi apresentado no evento. Parte da programação pedagógica da escola, o Fórum oferece palestras temáticas, ministradas pelos próprios estudantes, sobre temas de interesse da sociedade. Os ODSs, tema deste ano, são um apelo global deflagrado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para envolver as comunidades globais em defesa da natureza e da dignidade humana. A jovem participou do evento como ouvinte e auxiliando os pais, que também são convidados a prestigiar as palestras.

O projeto Estimule Empatia é realizado pela empresa Edify, que desenvolve soluções tecnológicas para apoiar o ensino da língua inglesa nas escolas. A ideia é estimular o aperfeiçoamento do domínio do inglês entre os estudantes, trabalhando temas atuais e de interesse de toda sociedade, a exemplo das questões climáticas. “Enquanto educadores, queremos formar indivíduos completos e preparados para a construção de um futuro cada dia melhor, ” conta Marina Dalbem, co-CEO do Edify.

Motivo de inspiração

Se a jovem Lara deseja fazer carreira científica na área de emergência climática, certamente, ela tem como referência Carlos Nobre. Esse cientista é um dos grandes nomes da ciência em mudanças climáticas no Brasil e no Mundo. A reportagem do Colabora perguntou ao Carlos Nobre quais são as pautas urgentes que o Brasil deve levar para a COP 28.

Ele afirma que o principal compromisso que o Brasil precisa assumir é contribuir para evitar que a temperatura global ultrapasse 1,5º C. O cientista lembrou que, na COP 27, realizada no Egito, cientistas afirmaram que a tendência, caso as emissões de gases poluentes não se reduzidas, é que a temperatura do mundo chegue na casa dos 3º C em 2050.

Ele acredita que o país precisa mostrar propostas concretas que levem à redução das suas emissões de gases de efeito estufa, que atingiram níveis elevados em 2022, e devem aumentar ainda mais em 2023: “A estimativa é que essas emissões se estabilizem somente em 2030. Fora isso, o Brasil precisa cravar o compromisso de zerar as emissões líquidas até 2050”, analisa Nobre.

De acordo com o cientista, o Brasil tem condições de liderar essa campanha para frear o aquecimento e conta com uma boa carta na manga para isso. “O Brasil deve lançar na COP28 o Arco da Restauração Florestal da Amazônia, um grande projeto que deve remover grandes quantidades de emissões de gás carbônico pela restauração da floresta nativa”, explica.

Nobre também acredita que acelerar a migração para a produção de energias renováveis também vai contribuir para que o Brasil reduza a sua parcela de emissões de gases de efeito estufa. Hoje, no Brasil, 50% das emissões de gases de efeito estufa vêm do desmatamento, 25% da agropecuária e agricultura e 18% da queima de combustíveis fósseis. Até julho deste ano, o desmatamento registrado na Amazônia foi de 9 mil km². Houve uma redução de 2 mil km², se comparado aos 11 mil km² registrados em 2022. Os números são um bom sinal diante da escalada crescente de destruição que o bioma vinha registrando desde 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro.

Adriana Amâncio

Jornalista, nordestina do Recife. Tem experiência na cobertura de pautas investigativas, nas áreas de Direitos Humanos, segurança alimentar, meio ambiente e gênero. Foi assessora de comunicação de parlamentares na Câmara Municipal do Recife e na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Foi assessora da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e, como freelancer, contribuiu com veículos como O Joio e O Trigo, Gênero e Número, Marco Zero Conteúdo e The Brazilian Report.

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