Incerteza regulatória, dificuldade de engajar fornecedores e falta de recursos tecnológicos e financeiros foram as principais dificuldades apontadas por representantes de grandes corporações para a descarbonização das empresas, em pesquisa realizada pelo CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) e do Boston Consulting Group (BCG), divulgada nesta terça-feira. “Nós já sabemos que as empresas estão cada vez mais comprometidas com a redução das emissões, mas o objetivo desse trabalho foi identificar os desafios para debatermos como contribuir para superá-los”, afirmou Marina Grossi, presidente do CEBDS, em debate virtual no YouTube, promovido para o lançamento da pesquisa que envolveu mais de 50 empresas.
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O estudo divide o caminho para a descarbonização – “a jornada net zero das empresas” – em cinco etapas: engajar, planejar, mobilizar recursos, implementar e comunicar. “Tivemos uma ótima notícia ao preparar o estudo: o número de empresas brasileiras comprometidas com a SBTi e protocolos globais aumentou 16 vezes, o que mostra o reconhecimento da urgência da descarbonização para o mundo corporativo”, destacou Arthur Ramos, líder de Clima do BCG Brasil, que apresentou os resultados durante o evento no canal do CEBDS. SBTi é a iniciativa internacional Science Based Targets (SBTi), criada para estimular as empresas a adotarem metas baseadas na ciência para a redução de suas emissões de gases de efeito estufa nos escopos 1 (emissões pelas quais a empresa é diretamente responsável), 2 (emissões pelas quais a empresa é responsável indiretamente como o uso de energia) e 3 (emissões indiretas de toda a cadeia de valor) escopos.
Instados a apontar os cinco maiores desafios, os representantes apontaram, entre eles, a incerteza nos avanços regulatórios (64%), a dificuldade de engajar a cadeia de valor (49%), a ausência de referências setoriais locais (38%), a falta de recursos financeiros, humanos ou tecnológicos (35%) e a dificuldade de mensurar e monitorar as emissões (33%). Em relação às etapas para a jornada net zero, os participantes apontaram que mobilizar recursos (11% de extremamente desafiador, 32% de muito desafiador), implementar (13% de extremamente desafiador, 19% de muito desafiador) e engajar (3% de extremamente desafiador, 32% de muito desafiador) são as etapas com mais obstáculos a serem superados pelas empresas.
A pesquisa com os executivos destaca que “o engajamento na jornada é motivado principalmente por fatores internos associados à pressão de investidores”, e que as lideranças corporativas estão comprometidas com esse caminho. “Empresas possuem motivações internas para engajamento na jornada por identificarem oportunidades, mas contexto externo, como incerteza na maturação regulatória, desafia ritmo de avanço”, afirma o documento. Para Marina Grossi, a principal incerteza regulatória está no mercado de carbono. “O Brasil tem avançado na discussão do mercado de carbono, mas realmente ainda há dúvidas sobre a regulação. As empresas devem participar mais deste debate”, disse a presidente do CEBDS.
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Veja o que já enviamosNo ponto do planejamento, como também aparece no engajamento, os representantes das grandes empresas destacaram as dificuldades com a chamada cadeia de valor – as empresas fornecedoras que têm tamanhos, características e estruturas variadas. “Empresas calculam emissões de escopo 1 e 2, mas escopo 3 é mais desafiador, especialmente por conta das diferentes metodologias de cálculo e dos diferentes estágios de maturidade na cadeia de valor”, afirma a pesquisa. “Grandes empresas deveriam liderar a agenda da cadeia de valor, mas baixa maturidade dificulta engajamento”, também aponta o estudo, acrescentando ainda que, apesar de as organizações, em grande parte, calcularem suas emissões de carbono, este cálculo ainda é limitado. A pesquisa aponta que cerca de 90% das empresas buscam engajar fornecedores, mas apenas cerca de 20% o fazem de forma estruturada e abrangente.
As questões financeiras aparecem tanto nos desafios de mobilização de recursos quanto de implementação: dos custos com tecnologia para descarbonização à pressão por resultados a curto prazo nas empresas. “Agenda de descarbonização enfrenta competição de outros investimentos com maior impacto de curto prazo”, destaca o estudo. Neste ponto, os representantes das empresas também apontaram como outras dificuldades a falta de senso de urgência, o alinhamento apenas parcial da empresa na agenda de descarbonização, subdimensionamento das oportunidades,
Presente ao lançamento, a economista Ana Toni, secretária nacional de Mudanças do Clima do Ministério do Meio Ambiente, levantou o questionamento sobre o que o setor privado pretende levar para a COP30 -, a Conferência do Clima da ONU de 2025, que será realizada em Belém) – e suas propostas para um Brasil mais sustentável e inclusivo. “A minha impressão é que o setor privado brasileiro ainda vê a transição para a economia de baixo carbono como custo e não como investimento, como oportunidade. Fala-se muito em custo, mas não no retorno deste investimento”, destacou, acrescentando que o governo Lula vai rever sua meta geral de emissões (NDC – contribuição nacional determinada para a redução das emissões) como também as metas setoriais como também seu compromisso com uma “transição ecológica, tecnológica e inclusiva”. Ana Toni também um esforço do setor empresarial junto ao Congresso para o avanço da agenda de descarbonização.
Marina Grossi lembrou que a pesquisa mostra que muitas empresas já veem a descarbonização como oportunidade. “Mas um bom ambiente regulatório vai contribuir para que essa percepção de custo prossiga diminuindo”, afirmou, enfatizando ainda que o estudo faz parte da Plataforma Net Zero, programa desenvolvido pelo CEBDS e o BCG com o objetivo de transformar as metas empresariais de neutralidade climática em realidade, através do apoio prático e de ações conjuntas aos processos de descarbonização. “Há uma percepção crescente de que todos têm que trabalhar nesse tema. Nós temos que acelerar essa ambição climática passo a passo. “A trajetória para a descarbonização da economia é a única possível, e é uma oportunidade para o Brasil e para as empresas brasileira”, destacou.