Eleição de Donald Trump ameaça agravar crise climática global

Para ambientalistas e diplomatas, volta do republicano à Casa Branca significa um retrocesso nas ações climáticas globais mas transição energética não pode ser contida

Por #Colabora | ODS 13 • Publicada em 6 de novembro de 2024 - 11:27 • Atualizada em 8 de novembro de 2024 - 09:05

Trump discursa na Flórida na noite de eleição: volta de republicano à Casa Branca ameaça agravar crise climática, aumentar a emissão de gases e afetar agências científicas dos EUA (Foto: Brendan Gutenschwager / Anadolu via AFP)

A reeleição do ex-presidente Donald Trump ameaça piorar a crise climática no planeta ao alterar a trajetória das emissões de gases de efeito estufa dos EUA, retirando as limitações estabelecidas pelo governo de Joe Biden, cortando investimentos em pesquisa e previsão climática federal e abdicando do papel de liderança dos Estados Unidos nas negociações climáticas globais. Essa visão era compartilhada por ambientalistas e diplomatas envolvidos no debate sobre as mudanças climáticas e seus efeitos na manhã desta quarta-feira (06/11), quando a vitória de Trump foi confirmada.

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Conhecido negacionista da crise climática, o republicano prometeu, na campanha, incentivar a produção de combustíveis fósseis e controlar os gastos de Biden com a economia verde. Trump disse ainda que retiraria os EUA do acordo climático de Paris, como fez brevemente durante seu primeiro mandato. Ele também está considerando tentar sair da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) de 1992, o tratado que estabelece a arquitetura básica para os países trabalharem juntos para lidar com as mudanças climáticas. “A sociedade americana é corresponsável pelo aquecimento global e, apesar da vitória de Trump, será, sem dúvida, corresponsável pelas soluções para a crise climática”, comentou Izabella, ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil entre 2010 e 2016. “Não há espaço para negacionismo climático no contexto da emergência climática”, enfatizou.

A eleição de um negacionista climático para a presidência dos EUA é extremamente perigosa para o mundo”, disse Hare. “Já estamos vendo danos extremos, perda de vidas ao redor do globo devido ao aquecimento induzido pelo homem de 1,3 °C. O presidente Trump não estará acima das leis da física e nem o país que ele lidera. Se Trump cumprir sua ameaça de se retirar do Acordo de Paris, o maior perdedor serão os Estados Unidos

Bill Hare
Cientista climático

Em geral, a vitória eleitoral de Donald Trump desencadeou uma sensação palpável de consternação e desalento na comunidade climática. “O resultado das eleições nos EUA é um retrocesso para a ação climática global, mas o Acordo de Paris provou ser resiliente e é mais forte do que as políticas de qualquer país”, disse a diplomata e economista francesa Laurence Tubiana, um dos principais arquitetas do Acordo de Paris, hoje CEO da Fundação Europeia para o Clima.

Ela destacou que o panorama mundial agora é muito diferente da primeira eleição de Trump, em 2016. “Hoje, há um poderoso impulso econômico por trás da transição energética global, que os EUA lideraram, mas agora correm o risco de perder. O pedágio devastador dos furacões recentes foi um lembrete sombrio de que todos os americanos são afetados pelo agravamento das mudanças climáticas”, disse Tubiana. “Cidades e estados nos EUA estão tomando medidas ousadas para minimizar a crise climática, em resposta às demandas de seus cidadãos”, acrescentou.

Espero sinceramente que os recentes furacões nos Estados Unidos tenham feito o presidente Trump repensar sua crença de que a mudança climática criará ‘mais propriedades à beira-mar’. Isso só trará mais morte e devastação

Mary Robinson
Ex-presidente da Irlanda

Outra arquiteta do Acordo de Paris, a diplomata costarriquenha Christiana Figueres, ex-chefe da UNFCC, disse que a eleição de Trump foi um “grande golpe para a ação climática global, mas não pode e não irá deter as mudanças em curso para descarbonizar a economia e atingir os objetivos do Acordo de Paris”, para quem o novo governo americano terá que encarar um cenário desafiador. “Ficar com o petróleo e o gás é o mesmo que ficar para trás em um mundo em rápida evolução. As tecnologias de energia limpa continuarão a superar os combustíveis fósseis, não apenas porque são mais saudáveis, mais rápidas, mais limpas e mais abundantes, mas porque elas prejudicam os combustíveis fósseis onde eles são mais fracos: sua volatilidade e ineficiência insolúveis”, alertou.

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O cientista climático Bill Hare, que contribuiu para os principais relatórios científicos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), vê uma ameaça para o planeta. “A eleição de um negacionista climático para a presidência dos EUA é extremamente perigosa para o mundo”, disse Hare. “Já estamos vendo danos extremos, perda de vidas ao redor do globo devido ao aquecimento induzido pelo homem de 1,3 °C. O presidente Trump não estará acima das leis da física e nem o país que ele lidera. Se Trump cumprir sua ameaça de se retirar do Acordo de Paris, o maior perdedor serão os Estados Unidos”, acrescentou.

Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e ex-dirigente do Alto Comissariado da ONU para os direitos humanos, também demonstrou preocupação. “Espero sinceramente que os recentes furacões nos Estados Unidos tenham feito o presidente Trump repensar sua crença de que a mudança climática criará ‘mais propriedades à beira-mar’. Isso só trará mais morte e devastação”, alertou, enfatizando a necessidade de uma redobrada de esforços por aqueles que trabalham para enfrentar o aquecimento global. “O resultado das eleições nos EUA não deve ser usado como desculpa pelos líderes mundiais para evitar tomar medidas contra a mudança climática”, acrescentou.

Gina McCarthy, ex-assessora presidencial da Casa Branca para o Clima, no governo Biden, e administradora da Agência de Proteção Ambiental (EPA) no governo Obama, afirmou acreditar que “a mudança para a energia limpa é imparável e nosso país não vai voltar atrás”. Ela acrescentou que a EPA e todos os servidores públicos “estão prontos para fazer seu trabalho, seguir a ciência e proteger o estado de direito”. Trump tem um longo histórico de ameaças à independência dos cientistas a serviço do governo federal, inclusive na EPA e em agências climáticas e meteorológicas, como a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA). “Todos nós devemos estar prontos para responsabilizar esta administração por fazer seu trabalho de proteger nosso povo e nosso meio ambiente”, acrescentou Gina McCarthy.

T“A nação e o mundo podem esperar que o novo governo Trump destrua a diplomacia climática global”, disse Rachel Cleetus, diretora de políticas e economista-chefe do Programa de Clima e Energia da Union for Concerned Scientists, em nota. “A ciência sobre as mudanças climáticas é implacável, com cada ano de atraso bloqueando mais custos e mais mudanças irreversíveis, e as pessoas comuns pagando o preço mais alto”.

Apesar do desalento, os ambientalistas procuraram mostrar confiança. “Não há como negar que outra presidência de Trump irá paralisar os esforços nacionais para enfrentar a crise climática e proteger o meio ambiente, mas a maioria dos líderes estaduais, locais e do setor privado dos EUA estão comprometidos em seguir em frente. E você pode contar com um coro de líderes mundiais confirmando que não darão as costas às metas climáticas e naturais”, disse Dan Lanshof, diretor do WRI (World Resources Institute). “Há um antídoto para a desgraça e o desespero. É ação concreta nos territórios, e isso está acontecendo em todos os cantos da Terra”, enfatizou a diplomata costarriquenha Christiana Figueres.

#Colabora

Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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