Cerrado com mais focos de incêndios do que a Amazônia

Brigadistas e bombeiros combatem incêndio em área de Cerrado no Distrito Federal: bioma tem mais queimadas do que a Amazônia ( Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil – 24/08/2024)

Desmatamento em alta e seca extrema facilitam a expansão do fogo e queimadas fecham pontos turísticos

Por #Colabora | ODS 13ODS 15 • Publicada em 11 de setembro de 2024 - 10:26 • Atualizada em 17 de setembro de 2024 - 09:17

Brigadistas e bombeiros combatem incêndio em área de Cerrado no Distrito Federal: bioma tem mais queimadas do que a Amazônia ( Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil – 24/08/2024)

O Brasil nada tem a comemorar no Dia Nacional do Cerrado – a grande savana do país é celebrada no dia 11 de setembro.  O desmatamento no bioma está em curva ascendente nos últimos anos e teve uma aceleração desde janeiro de 2023, no início do Governo Lula, ao contrário do que ocorre na Amazônia, onde a devastação está em queda. E, agora, são os incêndios que avançam sobre o Cerrado.  Nesta terça-feira (10/09), o sistema BDQueimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou  5.132 focos de incêndio; e o Cerrado concentrou a maior parcela das ocorrências, com 2.498 queimadas – 48,5% do total, a Amazônia teve 40%.

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Pontos turísticos famosos do Cerrado estão sofrendo com seca extrema e fogo. A Floresta Nacional de Brasília (DF) teve 40% de sua área queimada. No Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, próximo a Cuiabá (MT), os principais atrativos estão fechados por causa dos incêndios. Outro atrativo do Cerrado atingido pelas chamas é o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO). Considerado Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO, a maior Unidade de Conservação do Cerrado registrou  mais de 10 mil hectares queimados – os bombeiros de Goiás anunciaram, na noite de terça-feira (10/09), que as chamas haviam sido controladas.

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Na segunda-feira (09/09), a cidade de Jataí, em área de Cerrado no sudoeste goiano, amanheceu com o céu laranja, um fenômeno relacionado à poluição do ar. Muitos moradores saíram às ruas usando máscaras e as aulas foram suspensas na rede municipal e em universidades. As cidades goianas de Jataí e Rio Verde estão entre as 10 com pior qualidade do ar do país. vem registrando vários focos de incêndio.

No primeiro semestre de 2024, o Cerrado bateu o recorde de incêndio no período desde 1988, ano em que começou o monitoramento por satélite do Inpe: . foram registrados 12.097 focos de fogo,  número impactado pelos efeitos do fenômeno El Niño, que aumentou o período de seca no bioma — a seca mais severa ocorre, normalmente, no inverno junto a queimadas naturais.

Avanço do fogo na Chapada dos Veadeiros: mais de 10 mil hectares queimados na maior unidade de conservação do Cerrado (Foto: CBMGO)
Avanço do fogo na Chapada dos Veadeiros: mais de 10 mil hectares queimados na maior unidade de conservação do Cerrado (Foto: CBMGO)

Além do processo biológico, especialistas alertam que o bioma tem sofrido com agressões diretas para aumentar a área para o agronegócio, que é o principal motor econômico da região. “O Cerrado tem sido diretamente impactado pela crise climática; o bioma está se tornando mais seco e quente. Temos os incêndios iniciados por atividade humana” , afirmou Bianca Nakamato, especialista em conservação do WWF-Brasil.

Considerada a savana mais antiga e mais rica em biodiversidade do mundo, o Cerrado tem sofrido mais com o desmatamento do que a Amazônia e os outros biomas brasileiros, segundo o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD) de 2023, feito pela rede MapBiomas. Os impactos da degradação do Cerrado podem ser sentidas em todo o Brasil. A savana está presente em 11 estados brasileiros, interligando como um corredor ecológico natural os principais biomas do país: a Amazônia, a Caatinga, a Mata Atlântica e o Pantanal.

O Brasil encerrou o mês de agosto de 2024 com o pior número de queimadas em 14 anos – foram 68.635 ocorrências, o 5º maior da série histórica iniciada em 1998 – e uma alta de 144% em relação ao mesmo período de 2023. E o país segue em chamas, registrando 37.452 focos de incêndio entre 1º e 9 de setembro. O Brasil vive ainda uma seca histórica, com a pior estiagem em 44 anos, segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), ligado ao MCTI (Ministério de Ciência e Tecnologia).

Autoridade Climática Nacional

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou nesta terça-feira (10/09) que vai criar uma Autoridade Climática Nacional para atuar no enfrentamento dos eventos naturais extremos. “O nosso objetivo é estabelecer as condições para ampliar e acelerar as políticas públicas, a partir do Plano Nacional de Enfrentamento aos Riscos Climáticos Extremos. Nosso foco precisa ser a adaptação e preparação para o enfrentamento desses fenômenos. Para isso, vamos estabelecer uma Autoridade Climática e um Comitê Técnico-Científico que dê suporte e articule a implementação desse plano pelo governo federal”, afirmou Lula, num evento em Manaus.

A Autoridade Climática, que funcionaria como uma agência federal, com recursos e servidores próprios, é um projeto citado desde a eleição de Lula, ainda em 2022, e chegou a ser debatida durante a transição de governo. Até hoje, no entanto, a ideia não foi tirada do papel. Os desastres ambientais no Rio Grande do Sul e, agora, na Amazônia, fizeram a medida voltar à pauta do governo. “Nesse momento, nós estamos vivendo uma junção perversa de alguns fatores que, combinados, estão criando esta situação. O primeiro deles é o problema da mudança do clima, que está mudando o regime de chuvas, que está mudando o período de seca e de cheia, como vocês estão observando. Uma hora chove demais, outra hora chove de menos. Ao lado disso, temos o problema do desmatamento, das queimadas, que acaba agravando ainda mais a situação”, disse a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, à Agência Brasil.

Segundo a ministra, as queimadas já afetaram 1,1 milhão de hectares de floresta primária, provando que a floresta úmida não é mais imune ao fogo. “Isso é a prova de que a floresta está perdendo umidade, e este é um fenômeno que ainda nem sabemos lidar com ele”, destacou a ministra.

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Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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